‘Porque hoje é Sábado’ e estar distante da campanha

São muitos os Sábados em que recordo e revisito o poema ‘Dia da Criação’, declamado pelo autor, Vinícius de Moraes, no vídeo exibido.

Até hoje, Sábado, tenho sido repelido pela burlesca,  zombeteira no mínimo, campanha eleitoral que PS, PSD e CDS, ditos partidos do ‘arco do poder’, têm protagonizado. A título de amostra, recorremos às últimas intervenções de Sócrates, de Passos Coelho e de Paulo Portas. Ilustram com rigor a qualidade dos conteúdos políticos da campanha eleitoral dos partidos subscritores do memorando da troika, publicado na última versão em 20 de Maio no sítio do Ministério das Finanças (A SIC ontem pretendeu lançar uma “cacha” com a notícia da 2.ª versão, mas a verdade é que a mesma já havida sido publicada sete dias antes).

Um parêntesis para destacar que, dos três líderes citados, Portas é quem tem tido o desempenho  mais inteligente, aplicando um tacticismo em que é deveras hábil, afirmando-se ao mesmo tempo como intérprete perfeito das teorias de Maquiavel em ‘O Príncipe’.

Afastado do voto em partidos cujo programa é comum e plasmado no nefasto memorando da troika – 30 mil milhões de euros de juros em 78 mil milhões de empréstimo, medidas anti-sociais duríssimas pela flexibilização das leis de trabalho, redução das receitas sociais por baixa da TSU, privilégio de abundantes fundos para o sector da banca e outras receitas que apenas dilatam o prazo de deflagração da bancarrota (veja-se o caso da Grécia e mesmo da Irlanda) – afastado do voto em qualquer desses partidos, dizia eu, a campanha, de que estou hoje mais longe, porque é Sábado, poderá amanhã ficar mais próxima. Porque como diz um dos versos de Vinícius: “amanhã não gosta de ver ninguém bem”.

Com efeito, reconheça-se: a campanha, à semelhança do amanhã, “não gosta de ver ninguém bem”. Vou, pois, evadir-me para um Sábado bem longo. Ao som de ‘Tocata e Fuga’ de Bach, refugir-me-ei em parte incerta, a salvo dos tristes e estridentes ‘sound bites’  dos três cabeças de cartaz da política portuguesa.  Gritam até à rouquidão atrás dos votos. Que gritem. Comigo não contem.

Comments

  1. António Tabuada says:

    “arco do poder” ,não, “arco da austeridade”

  2. Carlos Fonseca says:

    Ou da austeridade, para nós, e do poder para eles e para os media que os apregoam como tal.

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