Não se escreve “acampada”, escreve-se “acampamento”.

Já percebemos que discutir a questão das acampadas (a propósito, acampada é termo que não se regista nos dicionários portugueses) é questão ingrata. Os que estão a favor, estão a favor, os que estão contra, estão errados. Não são admitidas contradições (até Torquemada era mais tolerante). A democracia gerida das escadas de uma estátua, ou das cadeiras do parlamento pode ser tão ou mais opressora consoante a habilidade oratória ou literária dos tribunos. A única coisa que os distingue mesmo é a água de colónia. Ou a falta dela. Que o diga Daniel Oliveira que acha anedóticos os 136 debates partidários exigidos pelo tribunal. Vejam lá o topete! A mudança operada nesta criatura, outrora sentada num frio degrau da praça (no tempo em que a liberdade era para todos) até ao assento de pele das tribunas parlamentares é de espantar. Quando o BE (ou aquele grupo heterógeneo de barbudos e oculizados trotskistas) precisava de apanhar beatas do chão para saciar o seu vício de poder, os pequenos partidos eram as forças oprimidas do sistema capitalista neoliberal. Hoje, já gordo e bem fornecido de todos os carregamentos de charutos habaneses acha que os pequenos partidos são um engodo do sistema capitalista neoliberal. O que chateia não são as acampadas em Lisboa, em Madrid e o diabo a 4. É que esta gente, ao fim de um ou dois banhos está igualzinha aos outros.

Comments

  1. O DO vem da Política XXI. Não insultes os trotskistas portugueses sff.

  2. António Louro says:

    Tenho alguma dificuldade em encontrar no texto do expresso onde é que ele “acha que os pequenos partidos são um engodo do sistema capitalista neoliberal”.
    Sobre as situações reportadas por ele, digo que é algo a ser discutido afim de não causar situações destas, principalmente o caso, sendo verdade, de que foram dados 2 pareceres diferentes, um para o MRPP e outro para o MEP.

  3. manuel.m says:

    Escrever “acampamento” seria banalizar,achincalhar ,uma “coisa” tão bonita,tão nova,tão original ,tão… criativa , como a “acampada” do Rossio ! O Nuno vive na idade das trevas !!

    manuel.m
    PS:
    Será que “Oculizados” significa alguém alcoolizado que use óculos ? Se é ,boa! tomo nota.

  4. Carlos Fonseca says:

    Acampado e acampada existem no dicionário de língua portuguesa (ver, por exemplo, I Volume A-F do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 2001, a pgs. 38) e signfica: “que está alojado em tenda”; “que se instalou num acampamento”…
    De facto, se atribuirem a ‘acampada’ o significado de ‘acampamento’, como parece ser o caso de certos escribas da comunicação social, então, nesse sentido, não existe. De resto, acampar corresponde ao aportuguesamento do italiano ‘accampare’, como é referido em Ciberdúvidas:
    http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=7155

  5. Carlos,
    Óbvio que acampada, como feminino de acampado, existe na língua portuguesa, mas como bem refere, não com o significado que lhes atribui ao que se passa no Rossio. E, que eu saiba (ainda) não fazemos parte da grande república federalista ibérica que muitos desejam.

    • Cuidado com o anti-castelhanismo primário. É quase toda a nossa literatura do séc. XVI a levar pancada.

      • Nem pensar. O melhor da nossa língua está em Espanha. E não no Brasil, como alguns pensam. Mas se temos acampamento, em vez de acampada, escusamos de importar.

  6. Carlos Fonseca says:

    Nuno,
    De acordo. O meu comentário teve apenas a intenção de confirmar o erro do pretenso neologismo de ‘acampada’ como sinónimo de ‘acampamento’; descobri, entretanto, que ‘acampar’ nem sequer deriva do castelhano, mas sim do italiano ‘accampare’.

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