Há uns trinta anos, carregando o peso do acne e do buço adolescentes, já eu era um candidato a intelectual e, nas loucas noites tentugalenses, que passava fechado no meu quarto, dedicava-me a ler livros que não entendia, ao mesmo tempo que ouvia programas de rádio, no tempo em que a rádio tinha programas.
Muito do que tenho de melhor, por pouco que seja, devo-o a muitas horas de rádio e a nomes como Maria José Mauperrin ou Aníbal Cabrita ou José Nuno Martins e a programas como “Café-concerto”, “Pão com Manteiga” ou “24ª Hora”.
No silêncio nocturno da minha solidão juvenil, foi exactamente na “24ª Hora” que descobri, maravilhado, um fio de voz que era, também, uma viola: João Gilberto. A primeira música que me lembro de lhe ter ouvido foi “Disse alguém”, versão de “All of me”, um standard que viria a (re)conhecer mais tarde.
O veludo, a leveza e o rigor da voz nunca mais me saíram do ouvido, até hoje, tal como a Bossa Nova e, à falta de melhor designação, a MPB. Hoje, João Gilberto completa 80 anos de idade. Parabéns, João Gilberto. Obrigado, 24ª Hora.
Sob pena de estar a meter a foice em seara alheia, o Pão Com Manteiga é dos anos 80 (finais acho eu), quanto à 24ª Hora, não haverá alguma confusão com um GRANDE GRANDE programa de rádio do saudoso João Martins na RR, chamado 23ª hora, onde o C.Cruz passou quase raspão ?
O Zé Nuno aparece no ZIP e depois faz carreira no PBX, colaboração dos Parodiantes de Lisboa (estranho mas verdade), com a equipa do ZIP, isto já nos finais de 60 principios de 70, revela também um outros grandes profissionais, Adelino Gomes e o saudoso Rui Pedro
Ao mesmo tempo no FM do RCP o Em Orbitra ia vivendo graças ao Eng. Gil do Cinema Império, com a voz do Candido Mota
Não, era mesmo a “24ª hora”, da Comercial. Já o “Pão com Manteiga” é da primeira metade dos anos 80. E não há foice em seara alheia nenhuma, era o que faltava.
Eu envergonho-me de dizer que só descobri a existência desse magnífico artista há 8 anos.
Ó caríssimo comentador, isto não tem nada a ver com vergonhas. O que interessa é que os últimos oito anos valeram a pena, em termos musicais.