Portugal pode ter de sair do Euro

Quem ler as recentes afirmações de Nouriel Roubini sobre a reestruturação de dívida, o futuro do euro e o devir mais próximo da economia europeia e mundial, devia prestar atenção ao conteúdo e reflectir um pouco.

Não é isso que vejo nos comentários nos blogues e jornais, bem pelo contrário. Desde verem veladas ameaças americanas nas suas palavras, a fazerem chalaças sobre a clarividência de economistas, tudo serve para mandar bocas para o ar e não reflectir.

É exactamente por isso que estamos na actual situação apesar de todos os avisos.

Há quem tenha que bater com a cabeça na parede para ver que há parede e perceber que tem cabeça, ainda que esta, nesses casos, sirva para pouco mais do que usar chapéu.

Comments

  1. Nightwish says:

    Não é burro nenhum esse senhor. Infelizmente, parece que só temos “líderes” capaz de pensar na realidade quando esta lhes bate de frente no focinho.

  2. Rodrigo Costa says:

    Caro Pedro Correia,

    Portugal, urgententemente, tem que recontruir todo o seu aparelho produtivo;.tem que refazer a indústria, as pescas e a agricultura. Isto é, tem que recuperar as bases de sustentação que lhe permitam a autonomia, evitando o recurso, constante, a importações de bens que podem ser produzidos aqui. O que, para além do mais, aumentaria o número de postos de trabalho.

    Tão ou mais importante do que negociar a dívida com o FMI é renegociar o modo de permanecer entre os países da Comunidade Europeia; admitindo, naturalmente, o regresso ao escudo, o que permitiria a flexibilidade nos ajustamentos de carácter económico, na relação com os países mais fortes.

    Em 1986, em função do que ia escutando e lendo, perguntava-me como era possível um país desmontar os seus meios de produção e ficar refém de uma Organização que distribuiria subsídios de fomento à inactividade.

    Dois erros crassos: 1 – Portugal deixou de ser autónomo, porque não produz; 2 – desocupou pessoas que, desse modo, passaram a dispor de tempo para fazer mais gastos e, essencialmente, para, a pouco e pouco, desaguarem em crises existenciais, que é onde conduz o ócio —a ocupação é um forte sustentáculo do equilíbrio emocional.

    A par disto —e eu sei que ninguém gosta; muito menos os impérios que ganham com isso—, teria que ser reformulada a posição dos orgãos de comunicação social; rápidamente, devria ser feita a triagem, de modo a separar o que é informação e o que é sensacionalismo, porque ninguém aguenta levar com tragédias e repetição de tragédias, necessitando de dormir em sossêgo e ter despertares positivos, de modo a preservar a vontade de produzir.

    É possivel ver —aqui e noutros blogs— pessoas que postam temas de debates que deveriam ser sérios e aprofundados, e que, pouco depois, partem para a proposição de outro assunto, como se se pudesse saltar de ramo em ramo e sem que se feche nenhum processo. Nota-se, essencialmente, a compulsão, a dependência de postar, mais do que a necessidade de contribuir para a discussão séria, embora eu compreenda que, de alguma forma, o tempo tenha que ser morto.

    Com o tempo, Portugal tornou-se numa espécie de parque de diversão, onde se pode entrar sem pagar bilhete, porque tudo é de fácil acesso.

  3. MiniPolític* says:

    Com a saída do euro, a moeda portuguesa vai desvalorizar e, devido ao facto de, como Rodrigo Costa disse, Portugal ser dependente, nós teremos de utilizar apenas aquilo que o nosso país produzir, que é muito pouco. Diminuindo assim em muito o nosso nível de vida.

  4. Não é necessário sair do euro. É sim necessário empobrecer. A saída do euro apenas deve ser usada caso se pretenda entrar en default e causar ostensivamente a falência do sistema bancário europeu. Para isso é necessário ter tomates e consciência de voltar ao nível de vida pré-anos 80. .. Questão de orgulho.

    • Rodrigo Costa says:

      Caro Xocapic,

      Muitas vezes, a única forma de vencer o orgulho —que, orgulho por orgulho, é uma bacoquice— é fazer análises sérias e usar a inteligência. De qualquer forma, a realidade diz-nos que não dispomos de muitos caminhos —inclusive, nesta altura, muitos de nós estamos, já, a reformular, em termos económicos, o nosso dia-a-dia

      E há-de haver algum significado no reaparecimento doa anúncios da Galp, na televisão; quererá dizer, penso, que baixou o consumo de combustíveis, em geral, e que baixou o número de utilizadores dos seus postos, em particular —ninguém faz anúncios para se divertir ou por estar farto de ter lucro e de ser procurado.

      Quanto a sair do Euro, como deixei dito, isso dependeria das hipotéticas renociações para permanecer dentro da Comunidade Europeia. O que afirmo e reafirmo é a necessidade de o País se mobilizar e recuperar todo o seu aparelho produtivo, a única forma de poder suportar, minimamente, a sua existência, porque ninguém subsidia eternamente. Aliás, nesta matéria, só agora os grandes paises produtores percebem que se enganaram nos cálculos, porque começam a perceber que têm que trabalhar para todos os outros. O que, no princípio, parecia um negócio, começa a apresentar-se como uma cautela furada.

      Nota: insisto na necessidade de refazer oa aprelho produtivo, porque, para além da importância económica, é necessário ocupar as pessoas, restituir-lhes uma das principais fontes de equilíbrio.

    • Nightwish says:

      Meu caro, empobrecer, entrar em bancarrota e causar danos no sistema bancário europeu são uma realidade inevitável como se pode ver pelas consequências da “austeridade” na Grécia. Fazer de conta que se pode pagar empréstimos a 12% de juros enquanto se corta em tudo é daquelas teorias que não tem por onde se lhe pegue.
      O que se pode decidir é se é em termos mais ou menos favoráveis ao país e aos portugueses.

  5. duarte says:

    industrializar o pais nao se faz com um clic num qualquer computador, e necessario haver operarios especializados e com a industria ha muitos anos inutilizada nao existe experiencia nem conhecimento e o mesmo nao se adquire com novas oportunidades . em tempos essa experiencia ganhava-se nas fabricas e oficinas existentes como aprendiz/ ou ajudante em conjunto com as escolas industriais . so nos resta perguntar porque foi desmontada a siderurgia,sorefame qimigal e outras tantas dizendo-nos nao trabalhem porque isso vem ja feito de fora. como se costuma dizer agora,tarde piaste

  6. pedro santos says:

    Sou dono de uma empresa industrial que todo que produz exporta, e se de uma certa forma possa-me parecer tentador a saída de Portugal do Euro. Isso é enganador, e só quem não é industrial, é que diz este tipo de coisas!

    Se não vamos ver alguns pontos que são importantes:

    1 – Grande parte da industria portuguesa é dependente de matérias-primas vindas do exterior.
    2 – Apesar da revolução energética efectuada através das renováveis a mesma ainda não tornou
    Portugal auto-suficiente a par disto a enorme dependência das combustíveis fosseis.
    3 – Qualquer tipo de industria – requer maquinas que Portugal não fábrica.

    Estes são apenas 3 pontos a meu ver importantes que tornam de uma forma genérica a industria Portuguesa dependente do exterior.

    Existe ainda um pequeno raciocínio que eu faço – será que uma forte desvalorização da moeda é suficiente para tornar as minhas exportações mais competitivas? Sabendo que os meus custos de produção iriam aumentar também drasticamente!? matérias-primas mais caras, custos energéticos mais caros, maquinaria de ponta e produtiva a preços exorbitantes.

  7. Pedro Santos, estou completamente de acordo consigo. Quem faz o estúpido raciocinio de moeda mais barata mais exportação não tem a mínima ideia de economia. As dividas entre países não se saldam com moeda, mas sim com mercadoria. Moeda mais fraca = menos dinheiro por cada coisa que vendemos, ou seja, teremos que produzir mais batatas para comprar o mesmo petróleo. Além disso teriamos menos capacidade para vender o que é nosso. Ou pensam que não faz falta poder para vender coisas? E outra coisa, como consegue alguém imaginar a possibilidade de passar a pagar uma divida externa exorbitante em € com uma nova moeda que será reflexo somente da produção portuguesa? E a isso ainda se tem que somar os juros e inflação a aumentar todos os dias. Outra coisa muito importante, que aconteceria ás empresas que se financiaram em, por exemplo, 100.000€ para comprar maquinas ou o que quer que seja e têm, por isso, uma divida em euros à banca portuguesa? No dia da mudança para escudos essa divida continuaria em euros?

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading