A Festa dos Tabuleiros em Tomar. 2 – As primeiras edições

Nos primórdios da Festa dos Tabuleiros de Tomar, o cortejo saía de casa do mordomo principal, em cuja janela era exposto o pendão do Espírito Santo. Mais tarde, passou a sair da Santa Casa da Misericórdia.

Os tabuleiros reuniam-se então na rua da Graça, no domingo de Pentecostes, desciam a Corredoura até Santa Maria do Olival. A partir de 1893, a benção realiza-se na igreja de S. João Baptista.

Antes dos tabuleiros, ia a bandeira vermelha do Espírito Santo e três mordomos conduzindo as coroas simbólicas do «mistério da Trindade». Há quem diga, no entanto, que os mordomos iam depois dos tabuleiros. No fim, seja qual for a versão do cortejo apresentada, iam as filarmónicas e dois carros triunfais, acompanhados, cada um deles, por uma criança vestida de anjinho. Os carros destinados ao pão e ao vinho só surgiram depois de 1950.

Depois da missa e da benção do pão e da carne, o cortejo prosseguia pela Levada até à Misericórdia, em cujo celeiro e açougue eram recolhidos os tabuleiros e a carne.

Na segunda-feira, o bodo ou peza era distribuído em todas as casas da cidade – um pão e um quinhão de carne (dois quilos). O vinho só começou a ser distribuído depois de 1950. O pão tinha de estar «furado pelas canas das armações» dos tabuleiros, caso contrário as suas reconhecidas virtudes profilácticas não se fariam sentir.

Os bois destinados à peza eram comprados pelos mordomos na feira de Santa Cita. A partir do Padrão, percorriam as ruas da cidade – era o Cortejo dos Bois do Espírito Santo.

No século XIX, chegou a realizar-se o Espírito Santo dos Rapazes, pois as crianças estavam proibidas de participar no Cortejo dos Tabuleiros.

Até 1940, vai haver apenas algumas edições da festa, sem qualquer periodicidade, e com a II Guerra Mundial vai mesmo ser interrompida. A partir de 1950, a Festa dos Tabuleiros entra na sua fase actual, assumindo uma dimensão concelhia, com a participação de todas as freguesias e a introdução dos carros do pão e do vinho e, anos mais tarde, dos pendões e da coroa.

Desde 1950 até hoje, realizaram-se dezassete festas, a última das quais em 2003. Entre 1950 e 1956, a periodicidade foi trienal, respeitando-se os quatro anos de intervalo na edição seguinte. A partir de 1950, os costumes foram uniformizados, o bodo passou a destinar-se apenas aos pobres. Data desta época, mais concretamente de 1953, o início da ornamentação das ruas.

Passou a ser bienal entre 1964 e 1970 (período no qual se começaram a realizar os jogos populares e o Cortejo do Mordomo). Desde 1960 que a Saída das Coroas passara a integrar um pendão e uma coroa por cada freguesia do concelho. Voltou a ser trienal em 1973.

Devido às convulsões provocadas pelo 25 de Abril e ao período pós-liberdade, a festa seguinte só se realizou cinco anos depois, em 1978. Entre esta data e 1987, voltou a decorrer de três em três anos. A partir daí e até hoje, passou a realizar-se quadrienalmente. Em 1991, teve reinício a velha tradição do Cortejo dos Rapazes.

O domingo foi quase sempre o dia por excelência do cortejo principal, com excepção das edições de 1950, 1966 e 1968, em que foi ao sábado. Decorreu quase sempre na primeira metade de Julho, a não ser em 1960 (13 a 15 de Agosto), 1964 (27 a 29 de Junho) e 1966 (15 a 18 de Julho). Assistiu-se também, desde 1991, a um alargamento da duração da festa. O usual era que durasse três ou quatro dias, mas em 1995 e 1999 teve nove dias de duração e em 2003 doze, entre 25 de Junho e 7 de Julho. Um triplo ou quádruplo aumento, que está relacionado com as actividades culturais paralelas que, entretanto, se começaram a realizar, com a «ressurreição» do Cortejo dos Rapazes, que passou a ser no domingo anterior ao cortejo principal, e com a crescente e inevitável componente turística dos festejos.

Ao longo de todos estes anos, terá sido visitada por mais de 600 mil pessoas. A afluência de gentes vindas de todo o concelho, inicialmente, e depois de todo o país, chegou a perturbar o trânsito da cidade de tal forma que foi necessário criar uma Comissão de Trânsito e Transportes para monitorizar todo o processo, sobretudo no dia do cortejo principal.

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