- Odorico de Paraguaçu ou o modelo de um edil.
Não sei se recordam este chavão publicitário que passou na televisão durante a década de 1990. Ele é, ainda hoje, bem revelador da «mentalidade paroquial» e municipalista que grassa na sociedade portuguesa desde, pelo menos, o Liberalismo. Nessa altura, profundas modificações foram operadas na divisão administrativa do país e vários foram os municípios levados à extinção. Choveram cartas nas Cortes. As velhas elites que diziam falar pelo povo, clamavam que estavam ameaçadas as liberdades daquelas antigas e venerandas terrinhas. Estavam era ameaçados os tachos oligárquicos onde as velhas famílias comiam e que agora, rotos e vazios, lhes eram retirados.
Contudo, o liberalismo teve mão para por no lugar esses rincões do Antigo Regime, oferecendo lugares novos aos velhos e criando novos lugares para os novíssimos. Hoje, tal seria impossível. As oligarquias deixaram de ser consanguíneas e passaram a ser partidárias. O dinheiro comanda. Apenas se falou em reduzir o número de municípios o caciquismo local tremeu. Mais depressa caía outra vez o Carmo e a Trindade do que se acabavam com concelhos. Alguns presidentes, daqueles da velha guarda, mestres e doutorados em eleições, vieram dizer que nunca, que as liberdades das antigas e venerandas terras, etc, (os tachos), etc, bastiões, etc, desenvolvimento, etc, progresso, etc., NÃO & etc.
É óbvio que a III República jamais conseguiria acabar com um munícipio que fosse e virou-se para as freguesias. Como a maioria dos presidentes da junta não tem sequer o quarto ano de escolaridade, nem o mestrado em argúcia política como os edis municipais, é fácil manobrá-los. Os municípios rejubilaram. Menos juntas, menos dinheiro, menos patetas a quem pagar jantaradas para servir nas campanhas. [Read more…]
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