Os problemas de comunicação do governo

Por muito que queiramos (ou quiséssemos) olhar para os políticos como casos individuais, o seu comportamento é demasiado estereotipado para que o mereçam, tornando, por exemplo, as Farpas queirozianas textos infelizmente intemporais, tal é a triste semelhança entre os politicotes da Regeneração e os espécimes ministeriais nossos contemporâneos.

Sempre que algum aspecto da governação suscita crítica ou revolta, lá surge um sequaz do governo a choramingar que os ataques resultam da dificuldade em explicar as medidas. Na realidade, o governante limita-se a agredir o cidadão, esperando que este compreenda que o soco que lhe acerta na queixada é, afinal, beijo apaixonado, manifestação evidente de um amor mal compreendido. No fundo, o governo pouco difere do perpetrador de violência doméstica que explica à vítima que a quantidade de porrada é directamente proporcional à paixão.

Aguiar-Branco, em entrevista ao i, mostra-se um desses exemplares para quem o que se diz ou o como se diz é muito mais importante do que aquilo que se faz. Para o ministro da Defesa, o patriotismo manifesta-se mesmo no que se diz, que o fazer é coisa sem importância. Entre outras pérolas, comenta assim as recentes críticas de Manuela Ferreira Leite:

Não alimento nenhuma actuação que, neste momento, seja uma actuação que não tenha em conta o interesse nacional. Para mim, o interesse nacional passa por haver serenidade no debate, uma situação em que ninguém coloque os interesses, protagonismo e a situação particular em primeira posição, por comparação ao interesse nacional.

É a maravilha da vacuidade, a diplomacia fingida, a frontalidade envergonhada, é um conjunto desconexo de palavras que se aproxima da agramaticalidade. Aguiar-Branco acumula: é um ministro que não sabe fazer, mas, coerentemente, é também um ministro que não sabe falar e, portanto, não lhe devia ser permitido dizer fosse o que fosse.

Deliciemo-nos com os pormenores:

a) O ministro não alimenta determinado tipo de actuações, até porque haverá actuações glutonas e, portanto, difíceis de sustentar;

b) O ministro não o fará, sobretudo se essa actuação não tiver em conta o interesse nacional;

c) Poderá, no entanto, alimentar actuações que não tenham em conta o interesse nacional, mas não “neste momento”;

d) E como é isso do interesse nacional? É algo que só se descobre ou só se alcança se houver serenidade no debate, o que quer dizer que, ao mínimo sinal de nervosismo no debate, afastamo-nos do interesse nacional;

e) Por sua vez, a serenidade no debate é, pelos vistos, uma situação livre de interesses, protagonismo e é, ainda, uma situação livre de uma situação particular em primeira posição, especialmente se comparada com o interesse nacional.

É verdade: com Aguiar-Branco, é garantido que o governo continuará a ter problemas de comunicação.

Comments

  1. MAGRIÇO says:

    Este naipe de governantes parece ter sido escolhido a dedo: quase todos a mesma imaturidade política, a mesma incapacidade criativa e o mesmo vácuo intelectual. Passos Coelho devia ter tido como objectivo um daqueles patéticos recordes do Guiness.

  2. edgar says:

    Não conseguem explicar as medidas porque as medidas são inexplicáveis a quem ouviu as promessas eleitorais do PSD e do CDS.


  3. COPIADO-É a maravilha da vacuidade, a diplomacia fingida, a frontalidade envergonhada, é um conjunto desconexo de palavras que se aproxima da agramaticalidade. Aguiar-Branco acumula: é um ministro que não sabe fazer, mas, coerentemente, é também um ministro que não sabe falar e, portanto, não lhe devia ser permitido dizer fosse o que fosse.mcor-adoro reinventar palavras mas esta de AGRAMATICALIDADE – é do melhor “a-ventar”++++Este naipe de governantes parece ter sido escolhido a dedo+++ (e quanto à comunicabilidade dêem ao ministro um telemóvel pois pode estar nas condições do PR que não ganha para as despesas pessoais – ou talvez um SONOTONE que é grátis para os “desprotegidos” da sorte ou o cartão doirado tem limite e não chega para telélé ??) – vou ver entrevista com João Jardim -21:00H-RTP1-19 setembro – e hole a LUA de quarto crescente está extremamente luminosa e vem desenhada – no céu está tudo bonito hoje, mesmo o FOGO do INFERNO aquele tornado vertical do belo horrível (pergunta a minha ignorância Aguiar Branco também é advogado e jurista ??) – Alberto joão é de todod os ENTRVISTADOS o único que consegue dizer o que quer tenha ou não interêsse, conta todos os outros em que os jornalistas pergundaores sugam pelo menos 2/3 do tempo da perguntação – vou ouvir – costuma dizer coisas ue mais ninguém diz – Esere lá diz ele eu tenho que acabar – está lixado o jornalista que teve mesmo que se calar – boa !

  4. Konigvs says:

    Os assaltantes que entram banco adentro e dizem “mãos ao ar isto é um assalto” na volta também têm de elaborar melhores estratégias de comunicação. Talvez assim, quem é assaltado, de tão contente que fica, talvez entregue os seus bens de boa vontade.
    Cambada de filhos da puta, quando estavam na oposição a única merda que souberam dizer era que o filósofo só se preocupava com a imagem e forma como comunicava e usava o teleponto. Vão a França que pode ser que ele dê umas aulinhas de comunicação. Cambada de filhos da puta.