Os vilões e as varas

Miguel Relvas saiu mal do governo: de sopetão, sem aprumo nem dignidade, sem reconhecer erros cometidos, soltando sibilinas ameaças de quem se sente imaculado, sem o mais leve respeito pelo povo que lhe paga. Fez mesmo o inacreditável no seu discurso atabalhoado: declarou, perante o país inteiro, que gastou cinco anos com o seu amigo Pedro Passos Coelho – três a levá-lo à presidência do PSD e dois a servir-lhe de bengala no governo. Foi a mais absoluta grosseria, mesmo sendo verdade. É o que se chama lavar a cara com o favor àquele que o recebeu. Penso que, politicamente, está arrumado. Vai andar por aí, entre Portugal, Brasil e Angola, a vender influências e cunhas até essa vaca secar. E sobre tudo isto, ridículo de fazer doer. A fazer lembrar aqueles “calcinhas” da Luanda onde viveu em criança, cheios de artimanhas e golpes, que se estabeleciam como “advogados de sanzala”.

Pedro Passos Coelho ficou muito mal neste retrato da licenciatura a martelo fornecida a Relvas pela Universidade Lusófona, onde quem todo lo manda é Manuel Damásio que eu conheço dos tempos da UCIDT (União Católica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho), de que era assistente religioso Monsenhor João Evangelista, da Sé Velha de Coimbra. Nesse tempo Damásio era de missa, agora é de Maçonaria. Irmão do Relvas, portanto. Passos Coelho, consumada a saída do habilidoso sócio, teve ainda um gesto de total falta de respeito pelo povo que o sustenta: disse em pleno parlamento que Relvas não tinha cometido abuso nenhum. Tal qual. Ficou depois pior com o seu discurso de mau perdedor, perante o veto do Tribunal Constitucional. Impressionante a sua máscara de ódio e raiva. Como um garoto acossado que, em vez de reconhecer os seus erros e responsabilidades, tentasse atribuir ao Tribunal Constitucional a culpa do estado a que Portugal chegou: desemprego, miséria, fome, desespero, que é relatado no estrangeiro com consternação. Estado de degradação que só não é o buraco definitivo, graças à Igreja Católica e às outras Igrejas em presença, assim como como às associações de bem fazer e ao espírito de partilha do povo. Que remédio alternativo sugere Coelho? Mais do mesmo, mais de austeridade que tão bons resultados tem dado. Chamar à responsabilidade social os grandes capitalistas, nem pensar. Fazer voz grossa, endireitar a espinha e bater com os punhos na mesa de Bruxelas, não é capaz. Dar o lugar a quem sabe e é competente, nem morto, que a vaidade não deixa.

Miguel e Pedro, ambos produtos das Jotas, ali se fizeram homens à custa de intrigas, golpadas, cálculos, mentiras e outros aleijões de carácter, já que, afastados por morte ou impossibilidade os mais velhos dos partidos, as Jotas são o triste espelho da completa decadência e mediocridade.

Cavaco Silva continua igual a si próprio: lava as mãos e vai levando a vidinha. Faz-me lembrar uma piada do tempo da Guerra Colonial. Um barco cheio de tropas de regresso a Portugal e, na amurada, o general dizia: “adeus amigos, levo Angola no coração, barras de ouro no porão e diamantes no beliche. E quem cá ficar que se lixe”. Em boa verdade, quem nesta hora dramática levanta a voz em defesa dos velhos, das crianças, dos reformados e dos desempregados, é justamente o Tribunal Constitucional e o Provedor de Justiça. E as Igrejas.

Nestes dias de lama salvou-se o ministro Nuno Crato: exigiu contas à Universidade Lusófona, recebeu os relatórios, estudou-os no maior sigilo, isto é, sem o habitual badalo mediático de certos ministros e deputados, e por fim enviou o processo para a Procuradoria Geral da República com indicação de lhe parecer que a tal licenciatura do Relvas deve ser anulada. Com este procedimento, Crato veio demonstrar que quem é criado e educado com princípios, deles não o afastam ideologias ou religiões.

Bem diz o povo: se queres conhecer o vilão, mete-lhe a vara na mão. E dito isto, recomendo outro ditado: não há bem que sempre dure nem mal que não se acabe. Portanto, olhos abertos, coragem e calma.

 

 

Comments


  1. A BANCA É UM NOJO , POR ISSO CRIA VARAS DE RELVAS DANINHAS .