Paulo Júlio era secretário de estado e foi acusado pelo Ministério Público. Demitiu-se. O seu ministro foi denunciado por uma situação escandalosa, imoral mesmo que legal, colou-se no pote até ao fim.
O Tribunal de Instrução Criminal decidiu arquivar o processo ao ex-presidente da Câmara Municipal de Penela. Era óbvio: nem a oposição no Município de Penela via crime no assunto, apenas uma trapalhada, por acaso desnecessária.
Ressalva: conheço pessoalmente Paulo Júlio e o funcionário envolvido. Pessoal e em tempos profissionalmente. A ideia de o lugar de chefia não lhe ser atribuído só poderia passar pela cabeça de quem nunca trabalhou com o departamento de Cultura daquela Câmara. Ah, e já agora: em Penela encontrar alguém que não seja primo de outro alguém é possível, mas dá um certo trabalho.
Bonito gesto, o seu.
Em relação ao processo e ao que foi citado pela comunicação social (http://www.publico.pt/politica/noticia/paulo-julio-acusado-por-alegado-favorecimento-de-primo-em-concurso-1581806), eu acho muito estranho limitar-se um concurso para o departamento de cultura aos licenciados em História da Arte. Então e a Gestão de Património, a Museologia, a História ou a Arqueologia? Mais, se num concurso público surgir algum candidato com relações de parentesco com algum dos membros do júri, o que a transparência dita é que este membro do júri peça escusa e se retire da equipa avaliadora. Aliás, é isso que impõe a lei. Pelo que percebi este caso tem ainda um outro contorno suspeito, que é o facto de o vencedor aparentemente já trabalhar na câmara e portanto ser avaliado pelo seu superior hierárquico (o presidente da câmara). Por mais esta razão, o pedido de afastamento do júri impunha-se. Não foi isto que aconteceu. A partir desse momento, as pessoas não se podem queixar de sobre elas recaírem suspeições. Por fim, num concelho com 6 mil habitantes, são todos primos uns dos outros? Poupe-me.
Não ponho em causa nem a integridade, nem o valor profissional das pessoas em causa, nem a decisão do tribunal (resta esperar pelo desfecho do processo que pelos vistos ainda corre em tribunal administrativo), mas tira-me do sério esta atitude de pensar que qualquer processo menos claro que envolva um FP é uma cabala contra o Povo e qualquer processo menos claro que não envolva um FP é prova provada de que são todos uns corruptos e os FP’s uns coitadinhos.
Sobre o processo não comento, e que siga. Sobre a limitação, claro que é tola (e por acaso, eu até podia ter concorrido). Sobre o júri e a relação familiar, não falamos de primos em 1º grau.
O que sobretudo alguém me há-de explicar é porque não pode um funcionário ser naturalmente o primeiro candidato a um lugar de chefia, entretanto criado, sem estas confusões todas, e sendo óbvio que preenchia melhor do que ninguém os requisitos para o cargo, sobretudo por um factor, experiência, conhecimento do lugar, etc.
Já agora: dei aulas em Penela em 1987. Nunca imaginei encontrar a 30 km de Coimbra tanta consanguinidade,com consequências bem mais dramáticas do que estas, mas elas existem. Na altura era um dos concelhos mais pobres e a todos os títulos atrasados do país.