Benfica, Fátima e outras divindades

pastorinhos

Nos últimos tempos, António Mexia, infelizmente benfiquista e sanguessuga-mor do regime, terá afirmado que as vitórias do Benfica nos campeonatos fazem bem ao PIB. Sem as vitórias vermelhas, o PIB, pelos vistos, andaria murcho, viveria descontente, embebedar-se-ia com tintos melancólicos, poderia até cantar fadunchos arrastados, cheios de ontens luminosos e carregados de hojes olheirentos, soluçando pelas ruas mal iluminadas.

A ser verdade a asserção mexiana, a solução para os problemas do país seria tornar obrigatórias as vitórias do Benfica, inscrevendo essa obrigatoriedade na Constituição. Alguns poderão dizer que isso acabaria com a verdade desportiva. Nada de novo: não me lembro de nenhum campeonato em que se reconheça mérito ao campeão. Seja como for, o que é a verdade desportiva comparada com o PIB? A primeira só existe para quem ganha; com um PIB saudável, ganhamos todos.

E se não for verdade aquilo que disse Mexia? E se não houver nenhuma relação entre o bem-estar do PIB e os golos de Cardozo? Não seria de admirar: Mexia já foi ministro, que é, em Portugal, o nome que se dá aos estagiários que irão gerir empresas de lucro garantido. Como não estamos num país, não faz sentido exigir a Mexia que seja sério e que respeite o clube de que é adepto e, sobretudo, os concidadãos que são obrigados a perder dinheiro e empregos para engordar antigos ministros e outros parasitas da classe nédia.

Mais recentemente, Cavaco resolveu atribuir à inspiração de Nossa Senhora de Fátima a sétima avaliação da troika, motivado, eventualmente, pelo simbolismo do número Sete. Não nego a Cavaco o direito de acreditar, como aceito que Mexia erga as mãos para o Benfica. Sem querer entrar na cabeça do chamado Presidente da República, porque prezo a minha saúde, pus-me a imaginar uma reunião entre Nossa Senhora de Fátima e a troika, cada um dos quatro com o seu portátil, numa reunião cheia de gráficos projectados e com a Senhora a debitar termos como tranches e timings. O facto de Nossa Senhora de Fátima já ter o hábito de lidar com grupos de três foi, com certeza, decisivo, para o sucesso da reunião, mesmo sabendo que há uma diferença: os três pastorinhos morriam de fome; os membros da troika matam-nos à fome.

Quero, sempre sob a égide do número três, sentar-me imaginariamente a uma mesa com Mexia e com Cavaco e deixar-lhes algumas palavras fraternas:

– Ó Tó, pá, diz-me uma coisa: tu achas que, mesmo que me dissessem que era bom para o PIB o Benfica perder, eu ia hoje torcer pelo Chelsea? Não respondas já, filho. Fica aí a pensar, caladinho. E tu, ó Aníbal, passa-te pela cabeça que a Nossa Senhora de Fátima, mesmo que exista, pronto, e que tenha um escritório ali mesmo pegadinho ao de Jesus (não, Tó, não é esse, pá!), entre tantos pedidos e promessas, ia perder tempo para iluminar três gajos que percebem tanto de Economia, tanto como Jesus (não, Tó, porra!) não percebia nada de Finanças? Só vos digo uma coisa, amigos: vocês os dois juntos davam um rico galheteiro!

Comments


  1. 😀
    Eheheh…!

  2. palavrossavrvs says:

    De Antologia, Nando. Comoveste-me, mais uma vez. Absolutamente brilhante.

  3. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Ai “jesus”
    nos valha ??


  4. Fernando, dás-me sempre um gozo do caraças quando escreves.
    Mas, por entre maldições da casa e outras maleitas do futebol, lá se foi uma moët et chandon, logo à noite, reservada para a festa. Graças a deus (com minúscula, porque se trata de um deus menor), os remoques serão mais serenos, não terei que apanhar com 10 benfiquistas a gozar comigo, nós é que somos grandes, nós queríamos era esta, o Jesus andou a enganar toda a gente…
    Assim, falaremos da qualidade da comida (confeccionada pelo anfitrião, o maior benfiquista á mesa e um dos melhores cozinheiros que conheço), da excelência do vinho, das mulheres das nossas vidas e da vida dos outros, do clima e da puta da crise, assuntos bem mais interessantes…
    E eu falarei de alguns benfiquistas que fui conhecendo, onde encontrei gente tão fixe, porque isto de ser doutro clube é tanga, o que importa é o que somos, intrinsecamente.
    Isso, manda-me pentear macacos… mas vale uma aposta em como a moët et chandon não fica no frigorífico?! Não fica, não, que eu não deixo, nem que tenha de ser eu a estoirar com a rolha, por conta de domingo, que não sei o que vai acontecer, e, assim como assim, já cá fica!
    Valha-nos isso.