País governado por filhos de conúbios ilegais

Parti em muitas, muitas ocasiões. Corri Ceca e Meca. Voltei sempre. Nos tempos da ‘outra senhora’, com frequência repeli a tentação de não regressar.

Era jovem. Visitava cidades africanas, Londres e Paris com regularidade, na aurora da actividade profissional. Poderia ter escolhido a cidade-luz e casado com determinada Brigitte. No universo dos nomes, também existem modas – moda é a tradição do instantâneo, na sublime definição de Augustina Bessa Luís. A avalancha de ‘Brigittes’ em terras francesas, ao tempo, era fenómeno de mimetismo materno-paternal. Inúmeras mamãs e papás, no baptismo das meninas, inspiravam-se no nome do símbolo sexual da época, Brigitte Bardot.

No fundo, por cobardia, patriotismo ou alguma causa abscôndita, jamais reneguei o solo pátrio, onde nasci e sempre vivi. Um país típico, de percurso histórico multifacetado no último século – como outros, certamente. Mas, esta terra, nas últimas quatro décadas e meia, serviu de cenário a profundas e múltiplas transformações políticas, territoriais, de relações externas, económicas e sociais.

Entretanto, ao correr dos tempos, foram-se fabricando núcleos de políticos impreparados, tecnocratas, incultos e refractários em relação a sérios ideais éticos, morais, políticos, de solidariedade e de sensibilidade social.

Chegámos assim à era da governação por filhos de conúbios ilegais. Uma espécie de gente autofágica, alimentada da própria matéria escatológica. Expelem, do pensamento e da acção política, as excrescências autocráticas neoliberais, em estilo meteorologicamente ridículo, embusteiro e arrogante, atraiçoando os concidadãos em conluios com FMI/BCE/CE – forçosamente por esta ordem.

A estrondosa maioria dos cidadãos são vitimizados, sejam, elas e eles, professores, alunos, médicos, enfermeiros, trabalhadores especializados ou indiferenciados no activo ou reformados e pensionistas, e sobretudo os jovens que, de ar impante e com arrojo, convidam a sair – ou expulsam? – do país.

Sim, deste mesmo país, sublinho, onde, por um qualquer motivo, escolhi para residir uma vida inteira, recusando incorrer em vitalícia greve da Pátria e em consequente fuga para zona mais confortável. Teria, penso, um conforto deleitoso, longínquo da terra e dos filhos de conúbios ilegais que os pariram.

(Obs.: Escrevi este texto a pensar nos professores que fizeram greve e com quem estou solidário)

Comments

  1. Fernando says:

    Os filhos de conúbios – ilegais ou legais -, foram ( parte-se desse principio) paridos na terra que o viu nascer a si e a mim.
    Esses conúbios altamente impreparados ou deficitários para assumirem – ao longo de quase quatro décadas – os cargos pelos quais teem “pastado” livremente, tem um responsável. Chama-se Português! Ou porreiramente conhecido por Povo.
    O desleixo e o deixa p’ra amanha são marcas altamente vincadas na pele lusitana. Fátima (Santuario) só e’ lembrada quando precisam. E’ uma característica mui nossa.
    Quando hoje leio que a classe politica e’ doentiamente corrupta, eu pergunto-me: mas será só a classe politica corrupta?
    Que moral me assiste eu chamar corrupto ao meu vizinho, se eu também sou – se tiver oportunidade -?
    Quando há uns 10 anos escrevia ( modestamente) para um jornal de língua portuguesa (já não existente), alertando que era preciso que todos – portugueses residentes ou ausentes – devíamos ser mais selectivos, acompanhantes e exigentes para com aqueles que nos governam, fui condecorado ou carimbado de fascista, salazarista e velho do Restelo. Felizmente que a opinião comunitária virou o “bico ao prego”.
    O português e’ mesmo assim. Tem de bater com a cabeça na parede, para saber que afinal havia uma parede.
    Estes piropos com os quais nunca me identifiquei, fizeram-me endurecer imenso.
    Hoje estamos a passar pela humilhação de ser os “conubios ilegais Troika e quejandos” a dizer que caminho devemos seguir, tal como outrora o Infante D. Henrique disse ao mundo.
    Porque só agora e’ que andamos tão vigilantes, observadores, criticando e denunciando as malfeitorias provocadas pelos conúbios governantes?
    Talvez por que a maioria dos portugueses nao acreditavam na tal “parede”…
    A verdadeira revolução tem de começar na mudança de mentalidades. Tal como um edifício começa pelos alicerces.
    Essa mudança opera-se inicialmente no seio das famílias e depois na escola.
    As famílias – por razoes varias – estão maioritariamente desajustadas. No que respeita a’ escola, ela e’ composta por mulheres e homens com as mesmas virtudes e defeitos da família conúbia governativa. Não olha a meios para atingir os fins.
    Nao pondo de forma alguma a justeza da greve, não estou porem de acordo que a dita seja feita numa altura de exames. Mas o sr. Nogueira (?) “manda” e a classe obedece.

    • Excelente! Simplesmente excelente!

      “A verdadeira revolução tem de começar na mudança de mentalidades. Tal como um edifício começa pelos alicerces.
      Essa mudança opera-se inicialmente no seio das famílias e depois na escola.” E eu acrescentaria que a verdadeira revolução tem de ser uma revolução individual, cada indivíduo tem de começar por mudar a sua própria mentalidade.

      • Fernando says:

        Cara Isabel G. ao invés do que preconiza, a mudança nesta temática tem de ser colectiva e não individual. De que me serve ser “arrumadinho” se a’ minha volta encontro “desleixados”? Serei eu que terei de os ensinar ou corrigir? De forma alguma!
        Serei eu que tenho de dizer aos pais (na minha área comunitária) que devem instruir os seus filhos a se sentirem portugueses e não apenas quando joga a selecção portuguesa de futebol?
        Compete ao núcleo familiar (foi assim que procedi) indicar a “estrada” por onde teem de ir.
        Na Escola o professor ensinar as regras de comportamento na “estrada”.
        Não concorda comigo? Esteja a’ vontade.
        Eu costumo associar a figura de Professor a’ do Oleiro.
        O primeiro “molda” Criança para que sai alguém útil p’ra vida.
        O segundo molda o barro, para que das suas mãos saia uma peça útil para alguém.

        • Caro Fernando, sim, obviamente concordo consigo quanto à função da família e quanto à função do professor. No entanto assemelhasse-me imperiosa uma revolução de mentalidade individual antes que possa acontecer a revolução colectiva. E insisto nisto, porquê?
          Repare, para que um pai saiba educar o seu filho é preciso que dito pai tenha previamente revolucionado a sua mentalidade de tal modo que lhe permita passar de estereótipo, de autómato com comportamentos sociais cristalizados, a pessoa com total consciência social, política e humana. Só assim, porque ao mudar de mentalidade forçosamente mudou de atitude, poderá ser um exemplo capaz para o seu filho. É pelos exemplos que se vai aprendendo. E portanto, se cada um mudar a sua mentalidade, quase sem esforço mudar-se-á a mentalidade colectiva. Se acontecesse o que acabei de descrever, o professor dessa criança jamais teria de “educar”. Bastar-lhe-ia “orientar” ou “moldar” se quiser, sempre que esse “moldar” não seja equivalente a dar “forma definitiva”.
          Exemplos concretos? Veja o péssimo comportamento de alunos que ontem pretenderam impedir colegas de fazer exame. Estas atitudes não são próprias de quem tem consciência social, política e humana. Neste caso, “culpo” (entre aspas porque não me compete culpar ninguém!) os dois pilares da educação: os pais e os professores. Porquê? Porque não souberam dar o exemplo. Usando a sua própria analogia, não souberam uns indicar a “estrada” e não souberam outros ensinar as regras para andar nesse mesma “estrada”.

  2. Carlos Fonseca says:

    Fernando e Isabel G,
    Respeito as vossas opiniões. Também tenho, porém, direito à minha e, sobretudo, a fazê-la explodir nos momentos em que se torna insuportável.
    A responsabilidade da greve admite também outras leituras, Pode, p.e., ser atribuída ao ex-UDP e hoje neoliberal Crato, ao recusar a recomendação do Colégio Arbitral para transferir os exames para o dia 20, a fim de minimizar os prejuízos para os alunos.
    Culpar-se apenas o Sr. Nogueira é um deliberado acto de falta de visão ou de inaceitável sectarismo. Recorde-se que aderiram à greve os sindicatos afectos a todas forças políticas, incluindo o PSD (na FNE existem filiados ‘laranja’).
    A história da mudança de mentalidades é ‘velha e relha’. Já a ouvia nos tempos do Salazar. As idiossincrasias de um povo, especialmente o espírito fatalista e de covardia não se muda com a mesma facilidade com que se tira a ficha de uma tomada e se coloca noutra.
    Nunca fui assumido patriota e, nesta fase de uma vida que já vai longa, recrimino-me a mim próprio da covardia de não ter deixado para trás o país onde infelizmente nasci. Razões de ordem familiar – órfão prematuro de pai e necessidade de valer à família – também pesaram nisso. Poderia, de facto, ter nascido noutro ponto do mundo em que estivesse afastado do fado da exaltação da tristeza, como:

    “Povo que lavas no rio
    Que talhas com o teu machado
    As tábuas do meu caixão. …”

    O povo brasileiro é mais suave no ritmo e dócil na mensagem cantada:
    “Tristeza não tem fim
    Felicidade sim. …”, escreveu Vinicius.

    Em suma, a minha pátria é Camões, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Saramago, Alexandre O’Neil, Amadeu Souza-Cardoso, Carlos Botelho, Lopes Graça e outras figuras do género, capazes de fomentar em mim algum orgulho de ser português.
    Os políticos, dos tempos antigos e modernos são excrescências que, infelizmente condicionam as nossas vidas – saber eu que um Pedro Coelho desancava na minha vizinha Fátima, de quem tem duas filhas que abandonou, iria ser PM de Portugal; saber ainda que outros foram chefes do governo pelas mais variadas razões de interesse pessoal; desde a estreia de carro novo à manipulação de secções partidárias a partir da Cova da Beira. E que anda por aí um Seguro que me trás inseguro e ainda os outros que falam, falam, mas não mandam nada…enfim, tudo isto é uma anedota de mau gosto, mas ajustada a um povo que a merece. E não merece, de facto, mais..e ainda terá menos com as esquizofrénicas simpatias e pluviosidades de Gaspar.

    • Caro Carlos, em primeiro lugar, muito obrigada por respeitar a minha opinião.
      Compreendo, caro Carlos, que assim pense. Compreendo que apenas alguns notáveis portugueses lhe fomentem o orgulho de ser português. E até compreendo e concordo consigo quando diz que o povo que somos mais não merece…
      Mas, e é esta minha forma de estar na vida, mais importante que uma nação é o ser humano. Acima de qualquer nacionalidade, acima de qualquer patriotismo, acima de qualquer partido ou ideologia, para mim, está e sempre estará o ser humano. O respeito pelo próximo deveria ser inalienável. E quando são prejudicados seres humanos por outros seres humanos, alguém deverá sentir e assumir essa responsabilidade. E quando falo de responsabilidade, falo da responsabilidade individual, real, palpável, não da pseudo-responsabilidade de um sindicatozeco ou de um partidozeco ou de um governozeco. Já vai sendo hora de o ser humano assumir a pesada responsabilidade individual que tem no actual estado das coisas. Já vai sendo hora de que o ser humano deixe de escudar-se em “terceiros”, pessoas ou organizações, e comece a ver, com olhos de ver, a infindável, grotesca e cruel cadeia de causação que está a criar.
      “Nunca fui assumido patriota e, nesta fase de uma vida que já vai longa, recrimino-me a mim próprio da covardia de não ter deixado para trás o país onde infelizmente nasci…” Sabe, outro lugar qualquer para onde fosse e teria assistido, ao jeito particular desse lugar, a um qualquer outro fado triste. Afinal, o que distingue os seres humanos são apenas os nomes que lhes atribuem (portugueses, franceses, americanos, senegaleses – comunistas, socialistas, fascistas – brancos, negros, amarelos – ateus, cristãos, muçulmanos…) e não os seus sentimentos, os seus pensamentos e as suas acções.

      • Carlos Fonseca says:

        Desde os sofistas e depois de Sócrates para a frente que a dialéctica das sociedades humanas se revelou fenómeno secular, opondo filósofos e teorizadores de diversas correntes. O individualismo em que a Isabel parece acreditar baseia-se no pensamento de John Locke, o pai da ideologia liberal. Tenho uma opinião diferente, porque não acredito na autonomia radical dos indivíduos – a regeneração da comunidade a partir da regeneração de cada ser humano isoladamente é utópica.
        A humanidade é composta de complexas relações de interesses que obviam a conjugação perfeita de vontades e comportamentos dos seres individuais. A História demonstra-o à exaustão.
        Quanto à pátria ou às pátrias, até por ser cidadão do mundo, é um conceito que refuto desde que tomei consciência do que se passa à minha volta. Até pelas razões que invoca, ser português, norte-americano, francês, senegalês ou de qualquer outra nacionalidade não cativa a minha fidelidade incondicional a qualquer lugar geográfico – sim, nascer aqui ou acolá, são incidentes demográficos e da geografia humana.
        Tenho apreço, sim, por mulheres e homens que constituem paradigmas para o bem da humanidade. É neles que me revejo, independentemente de serem naturais deste ou daquele país, deste ou daquele continente.

        • Talvez, caro Carlos, seja essa sua visão global, despida de patriotismos, o caminho mais sensato a percorrer. E deixe-me dizer-lhe que concordo com essa sua visão. Costumo responder, quando me perguntam de onde sou, que sou da Terra. Não aceito vínculos menores que esse e nunca tive sentimentos patrióticos (no nosso mundo perverso e injusto, para que uma pátria nasça é preciso, por vezes, que outra morra, e isso para mim é inconcebível).
          Realmente não importa a nacionalidade daqueles que, por meio da sua força individual, permanecem eternos na amálgama disforme que é o percurso evolutivo humano. Não querendo maçá-lo com a minha convicção da mudança individual, faço, no entanto, notar que as grandes mudanças e os grandes avanços na humanidade sempre tiveram origem em seres individuais, sábios, a maior parte das vezes contestados pelas mentalidades da sua época. E, infelizmente, só postumamente e bem mais tarde, reconhecidos e tomados como exemplo.
          Muito grata pelas suas opiniões e sobretudo por aquilo que com esta troca de comentários me ensinou. É sempre um prazer trocar ideias consigo.

          P.S. – Partilho do seu gosto por Fernando Pessoa.

          • Carlos Fonseca says:

            Cara Isabel, afinal parece que afinal, em termos de conceptualização e interpretação da sociedade humana não estamos assim tão longe.
            Quanto a Pessoa, deixo um pensamento do ‘Livro do Desassossego’: “Eu sou do tamanho daquilo que vejo e não do da minha altura”

        • Assim parece, caro Carlos! 🙂

          “Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho.” in Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

          • Só um pensador de grande talento seria capaz de tão belas e profundas palavras. O sofrimento e sonho são caminhos da vida de que os sábios e quem os lê tem noção de percorrer. Os outros vagueiam ao sabor da incapacidades e ignorância, sem saber para onde vão e com quem estão.
            Obrigado Isabel pelo trazer Fernando Pessoa à nossa companhia.

  3. Fernando says:

    E’ simpático estabelecer – a muitos milhares de kilometros de distancia – um dialogo via web. Obrigado pela sua simpatia Isabel G.
    Não vou entrar em pormenores sobre se a greve e’ ou foi justa ou sobre de que lado esta’ a razão. E’ evidente que tenho a minha opinião formalizada, mas….muito débil de informação não marionetizada quer pelos “midia”, quer por qualquer parte em litígio.
    Concordo em parte com o que a Isabel diz. Mas os anos que levo de vida – e creia que já são muitos – teem me ensinado muito. A vida tem-me dado chicotadas e beijos o suficiente para eu hoje olhar o mundo com reserva. Hoje, e nem a preposito, acabei de receber um beijo da vida! Quando há minutos antes de começar a escrever esta resposta, recebi um telefonema de uma das minhas netas a dizer: ” avo amanha vou começar a dar aulas na área das ciências num High School.” Beijo balsâmico que recebi…
    Sobre a mentalidade, esta deve começar por nos próprios. 100% de acordo Isabel! Mas sabe certamente que muitos pais – de ontem e de hoje – já nasceram deficientes ( perdoe-me a comparação) de educação. O português, a cuja família eu pertenço, tem uma aptidão nata para o individualismo. Quando nos admiramos e/ou elogiamos a postura cívica/laboral/educacional de um escandinavo, temos que ser frontais e lúcidos, para saber que um português jamais se submeteria a tal “escravatura”. Dizem somos latinos. Pois!
    No’s ( com honrosas excepções) gostamos de copiar, seguir ou saltar para a ribalta a tudo o que vem dos “outros”. Desde que não nos de muito trabalho ou chatice.
    E’ esta a nossa mentalidade Isabel!
    Vou-lhe contar um episódio, que alias eu disse para todo o mundo ouvir, através da RTP (Contacto Austrália) e que retrata bem o individualismo ou a tacanhez da mentalidade portuguesa.
    Existe aqui (arredores de Sydney) dois clubes portugueses a uma distancia um do outro equivalente ao “salto de uma pulga”.
    Tentei acabar com os dois clubes e formar uma CASA DE PORTUGAL que acolhesse TODOS os portugueses, sejam elas do continente ou das regiões autónomas.
    Esbarrei na tal “parede” que os mais antigos aqui residentes me avisaram existir. Mas, teimoso que sou, pensava conseguir derruba-la. Mas quem sou eu – pigmeu -, com forca suficiente para derrubar um gigante chamado Mentalidade?
    Bati com a minha ” fuça” na parede e fiquei a sangrar una tempos. Hoje a hemorragia esta estancada…
    Para mudar a mentalidade temos que nos comportar como o macaco. Cada um no seu galho. Depois e’ preciso essa palavra horrível que da’ pelo nome de disciplina. Acontece que, a disciplina em Portugal e’ associada a ditadura. E assim voltamos a estaca zero, onde cada um estabelece a disciplina que muito bem lhe aprouver.
    Vamos pois vivendo na liberdade de agredir professores, sem que os sindicatos organizem uma greve – tão acérrima como esta – para defender o estatuto e a integridade física do professor/a. E fico-me por aqui, por que já fui uma vez insultado no Aventar. Azar meu, por (embora de formação católica) não frequentar a igreja, e, por via disso, o “Ámen” não sai da minha boca a qualquer preço ou desejo..
    Cordiais saudações Isabel.

    • Caro Fernando, sou eu que lhe agradeço esta excelente e amena “cavaqueira” virtual que tanto me enriqueceu! Sou fã incondicional do bom senso, e a sensatez com que o caro Fernando explanou as suas posições, quer nos seus comentários aos meus, quer nos seus comentário aos do Carlos Fonseca, constituiu para mim um engrandecimento na minha forma de pensar. É destas discussões (no bom sentido) que nasce a luz, e quem mais se alumiou fui eu pelo muito que aprendi com o Fernando e com o Carlos.
      Pena tenho que a maior parte das trocas de ideias, aqui no Aventar, acabem em insultos e produzam odiozinhos de estimação que parecem solidificar-se com o tempo…
      Caro Fernando, do Porto para Sydney, as mais cordiais saudações!

  4. Fernando says:

    Caro Carlos Fonseca compreendo a revolta que existe dentro de si. Também nas minhas entranhas há revolta, mas… aqui ou ali com outros contornos.
    Reparo – julgo não estar a cometer um erro de analise – que a sua intervenção e’ mais de cariz politico, do que propriamente dito grevista.
    Digo-lhe, honestamente, que não gosto da mímica do sr. Nogueira enquanto sindicalista. Tirando isso, não conheço o sr. Nogueira de lado algum. Todavia, li recentemente um artigo no Expresso de autoria do sr. H. Raposo (umas vezes idolatrado outras vexado), que me deixou a pensar.
    Como e’ que o sr. Nogueira (ou outro qualquer Nogueira) enquanto professor, e’ avaliado com um “muito bom”, se ele não da aulas há imensos anos?
    Bem… mas em Portugal ate’ os vigaristas são Conselheiros de Estado, tele-comentadores ou medalhados no Dia de Camões.
    Logo, a avaliação dada ao sr. Nogueira, não me aquenta nem me arrefenta, tão pouco me surpreende.
    Caro Carlos, fui delegado sindical nos distritos de Coimbra e de Setúbal entre 1962 e 1970.
    Pretendo com isto dizer-lhe, que sei o que e’ ser delegado sindical em tempos difíceis.
    Falando ao de leve na actual situação politica em Portugal, todos sabemos que o Pais foi assaltado por um bando de oportunistas ( a maioria drs.) paridos do antigo regime, mas rapidamente convertidos em democratas. A ascensão politica destes indivíduos teve a bênção e os aplausos histéricos do cidadão votante, que. sem “saber ler nem escrever” alinhava num partido imposto por um familiar, um padre, um doutor, um amigo etc. Nunca pela sua própria decisão.
    Alias, ainda hoje se observa pessoas com uma bandeirinha que lhes depositam na mão, a troco de um almoço ou de um boné de protecção solar a dar vivas. O que conta e’ ter a “manjedoura” a’ frente dos olhos ou a promessa de uma qualquer coisa.
    Ha pessoas que teimam em ser raquíticos politicamente. Não gostam de andar pelos seus próprios meios de analise e julgamento. Quando são acusados de paralisia politica, desculpam-se com o antigamente. Fácil. Facílimo!
    Pessoalmente estou-me nas tintas para o antigamente.
    No 25 de Abril, residia eu no Barreiro – a Moscovo ou Leninegrado como era conhecida a então vila. No meu regresso a casa ao final da tarde do dia 25/4, vi uma enorme marcha com bandeiras do MRPP e PCP.
    Ingenuamente, perguntei a uns marchantes com boinas a’ Che Guevara: ” então…onde esta’ a bandeira portuguesa?”
    E… as fabricas da CUF iam-me caindo em cima…..
    Valeu-me a defesa e identificação dada por uns 4 ou 5 amigos, de não levar um “enxerto” de porrada em plena av. Manuel de Melo. Depois desses mimos, correria ainda o risco – mais que certo – de ser catalogado de pide. Eu que nem a tropa fiz ….Ou então bufo.Tudo por perguntar pela bandeira portuguesa!
    Como disse a’ Isabel G. a vida deu-me grandes chicotadas… e tornou-me um homem duro e exigente para com a sociedade. Mas particularmente para comigo próprio.
    Se os portugueses em 1974/5/6 e por ai fora não acreditassem no Pai Natal, e fossem tão rigorosos para com a classe politica como são hoje, talvez muitos não tivessem necessidade de emigrar ( não e’ o meu caso), ou não estivessem a ser confrontados com situações altamente trágicas.
    Voltar agora atrás, e’ too late! meu caro.
    Não confunda “relações de interesses com disciplina de interesses”. O mundo de ontem não e’ igual ao mundo de hoje.
    Le-se com frequência: “volta Salazar que estas perdoado”. Vamos supor metafisicamente que ele voltava.
    O que faria? NADA! apenas teria de alinhar com os mais fortes. A globalização – na minha opinião – e’/foi uma utopia de sonhadores em noites de trovoadas. Como foi um falhanço Portugal aderir a moeda única. Euro.
    Diz-se que os cérebros jovens estão a sair de Portugal. Sim e’ verdade. Como também vai ser verdade, que muitos desses cérebros não voltarão definitivamente para Portugal. Porque?!
    Por variadíssimas razoes talvez. Uma delas e’ que ninguém consegue plantar um pinhal num tapete a’ beira mar plantado.
    Cumprimentos

  5. Carlos Fonseca says:

    Caro Fernando, escrevi como cidadão. Não como político ou grevista. Não sou professor, mas leia o Memorando do FMI publicado no ‘Aventar’ e facilmente perceberá que as medidas previstas levarão a engrossar o povaréu no desemprego, na pobreza e mesmo na miséria, hoje abundante em Portugal.
    Fala do Barreiro. Fui Director da CUF/Quimigal em Lisboa, perto do Largo do Calvário onde havia a velhinha fábrica União do sabão. Conheço bem a realidade do mundo do trabalho e sempre fui alinhado com os debaixo contra os de cima – convivi com estes últimos, como deve imaginar. Conheci-os bem. Vi o Catroga, impulsionado pelo amigo Cavaco, disparar de Director Financeiro para Administrador. Sempre arrogante e embriagado ao final de tarde.
    Sou lisboeta de gema, filho de lisboetas. Vivo 15 a 20 dias por mês numa aldeia no Alto Alentejo. Ainda há tempos, tive necessidade de ir a uma estação de correios da vila e deparar com uma enorme fila de ex-rurais reformados a receber entre 180 e 220 € mensais. O Catroga recebe 45.000 para ir 1/2 vezes por mês à EDP e à volta de 19.000 de reforma. Gabou-se de ser co-autor do memorando da ‘troika’. E Portugal tem, sempre teve e terá, demasiados Catrogas que me incomodam muito mais do que qualquer Nogueira sindicalista.
    O Fernando tem o privilégio de viver na Austrália, país que nem sequer beliscado pela crise foi. Tudo o que possa dizer sobre viver no Portugal actual emana de informação incompleta, porque a experiência ‘in loco’ é indispensável para ajuizarmos a verdade dos acontecimentos em qualquer sociedade.
    Ainda ontem, o governo pagou mil milhões dos ‘swaps’, caso em que também está envolvida a Sec. Estado Maria Luís Albuquerque, figurinha que, além de poupada a sanções aplicadas a outros elementos até do PSD, dirige a investigação às ‘swaps’.
    Que país é este? País nenhum, mas sim ‘local sujo e mal frequentado”, como dizia o Eça nos Maias.
    Cumprimentos,
    CF

  6. Fernando says:

    Eu partilho a’ distancia da sua revolta.
    O que me irrita ate as vísceras, e’ a lamuria e o folclore em vez de acção. Entenda que quando falo em acção não estou – longe disso – a querer ver carros queimados ou qualquer outros actos de vandalismo.
    Quero somente que o povo de uma vez por todas “abra os olhos”, e que não se deixe manipular por um qualquer cagalhao de colarinho engomado.
    A mim enquanto cidadão e português ( nascido em Lisboa no Beco das Cruzes ), não me tira o sono que um qualquer partido politico seja governo. Mas já me tira o apetite saber que ” e’ mais do mesmo “.
    Revolto me ate as entranhas, não haver justiça em Portugal. A justiça em Portugal não e’ cega. Ela vê e bem, mesmo de olhos fechados.
    E’ ultrajante existir reformas de cento e poucos euros/mês. Como e’ pornográfico as reformas de milhares de euros/mês.
    O povo revolta-se contra quem recebe 10 ou 30 mil euros mês. Mas defende com unhas e pedradas um jogador de futebol que ganha tanto ou mais do que o Jorge Jardim.
    Onde esta’ o equilíbrio?
    Os meus sentimentos humanistas não são feitos de mármore de Vila Viçosa.
    O cidadão português tem de se emancipar politicamente. Deixar de respirar apenas futebol ou telenovelas. Saber exigir mas saber cumprir. Defender os seus direitos mas cumprir com os seus deveres. Não pode alinhar em greves, ainda que delas venha a usufruir um beneficio de 10% , quando os mentores e/ou fomentadores dessas greves arrecadam 90%!
    De 1976 a 1986 trabalhei numa vila do Alto Alentejo que se chama Sousel. Se um dia o Carlos passar por la, pergunte a um ou mais residentes quem fundou os Bombeiros Voluntários da vila. Fica a saber um pouco mais de mim. Mas não contado por mim.
    Com prejuízo profissional nunca me verguei. Nem mesmo ao então poderoso Presidente da Câmara local Dr. Torres Pereira ( PSD). As injustiças, os abusos, os atropelos, as vigarices a que tenho assistido desde 1975, transformou-me num homem doentiamente apolitico.
    Quanto a’ minha permanência na Austrália ( que parece andar distraída ) deu-se depois da minha reforma,e tem a ver com “reunião de Família”
    Aceite os meus melhores cumprimentos.
    FS

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