Um conto de crianças chamado requalificação

Despedimentos

Foto@Jornal de Notícias

A propósito da gestão de panelas sociais-democratas e centristas na Segurança Social sobre a qual aqui falei ontem, chamou-me a atenção a Carla Romualdo para esta notícia, que dá conta da situação de 480 funcionários, também da Segurança Social, que iniciam amanhã um processo de “requalificação” que, como sabemos, significa que vão todos para o olho da rua.

Pobres trabalhadores. Tivessem eles o cartão partidário certo e talvez não fossem “requalificados”. Tivessem eles o cartão partidário certo e, como se dizia nos tempos do saudoso conselho de administração do BES, “punha-se o Moedas a funcionar” e arranjavam-se uns cargos de assessor. Não tinham experiência? Não faz mal, estes também não e safaram-se bem. Tivessem eles o cartão partidário certo e facilmente estariam entre os milhares de boys que o bloco central usa como instrumento para perpetuar o seu poder na pesada máquina estatal. Tivessem eles o cartão partidário certo, ou que sabe o pai certo, e lá se arranjaria qualquer coisinha. Imunidades incluídas.

Passos Coelho enquadrou recentemente as ideias do Syriza no domínio da literatura juvenil. Porém, quem verdadeiramente vive um conto de crianças, daqueles em que os personagens vivem felizes para sempre, são fileiras e fileiras de abanadores de bandeiras, jotas telecomandados e filhos de chernes que podem ser os maiores idiotas à face da terra mas para quem se arranja sempre uma panelinha aqui ou acolá. E como qualquer bom conto de crianças, usam-se palavras macias como “requalificação” para resguardar os pequenotes da violência que sucessivos despedimentos vão causando na sociedade portuguesa, enquanto se ilude o eleitorado com outro conto de crianças, a história do desemprego que vai descendo pendurado na falácia dos estágios profissionais. Contos de crianças, há para todos os gostos. Mas enquanto uns vão cortando privilégios perante o nervosismo da elite decadente que grita “extrema-direita” e “populismo” por todo o lado, outros mantêm o status quo que, haja fé, os há-de levar à pasokização. Aqui ao lado é já a seguir.

Comments

  1. martinhopm says:

    Tivessem o cartão partidário certo e outro galo cantaria. Até quando?


  2. Reblogged this on O Retiro do Sossego.