Postcards from Scotland #6 (Aberdeen)

The grey city between Don and Dee*

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Aberdeen não é uma cidade particularmente bonita. É a capital europeia do petróleo. Tem um porto muito grande e cheio de atividade e as gaivotas parecem gatos. As gaivotas têm acompanhado a minha viagem desde Liverpool, com os seus lamentos. Em Glasgow havia menos no centro da cidade, mas aqui, parecem, como disse, gatos. Estão por toda a parte, pousam no meio das ruas indiferentes aos carros, em cima dos caixotes de lixo e das paragens de autocarro. Há bocado enquanto esperava pelo autocarro, com o Renato, para regressarmos dos centro aos nossos hoteis, havia tantas gaivotas a voar tão baixo que parecia que estávamos no filme ‘Birds’, do Hitchcock. Antes de vir para o Reino Unido passou-me pelos olhos uma notícia sobre o País de Gales que falava, justamente, de gaivotas. De gaivotas que mordiam as pessoas e os cães. Um pouco assustador, portanto, estar ao princípio da noite na Union Street com tantas gaivotas a voar tão baixo. E a ouvir os seus lamentos.

Estou extremamente cansada hoje. Dormi quatro horas e meia, no máximo. Levantei-me cedíssimo. Não chovia. Não choveu o dia todo, aliás. O dia foi cansativo, de manhã com as apresentações, ao café com uma conversa com uma colega de Wageningen com quem, em breve, iniciarei um ação Marie Curie, ao almoço uma reunião do Grupo de Estudos sobre a Europa do sul e mediterrânica… à tarde com um longo passeio por Aberdeen, a cidade que fica entre o rio Don e o rio Dee. Estava frio durante o passeio. E Aberdeen é uma cidade cinzenta e não especialmente agradável. Não me entendam mal, não é feia, mas se não fosse o congresso, creio que não valeria a pena sequer parar aqui por mais que umas horas. Todos os edifícios são cinzentos e no pico do inverno a vida aqui deve ser difícil. Se mesmo agora, em Agosto, estão estas temperaturas e esta luz fria, o que será dos Aberdonians durante o longo inverno? Digo frequentemente mal de Portugal, mas que falta me faz o sol, a luz, o calor do meu país! Até aquela desorganizaçãozinha tão típica me faz já alguma falta. E poder sair para jantar à meia noite se me apetecer e encontrar restaurantes abertos e poder ficar até às 4 da manhã na rua e haver bares abertos e pessoas e animação. Nunca me hei-de habituar aos costumes dos ‘povos do norte’, na verdade, mesmo que tenham um sotaque maravilhoso como têm os Aberdonians, mesmo que sejam simpáticos como os escoceses me parecem ser. Mas a sua natureza calorosa não é suficiente para fazer esquecer o frio e o cinzento e a falta de luz e o facto de que as cozinhas fecham às 8 e meia e os bares às 11. Gosto muito de ser do sul, ainda que muitas (talvez demasiadas) vezes não me sinta uma pessoa do sul.

Ainda tenho duas apresentações amanhã logo às 9h e o dia será igualmente longo e cansativo. Os congressos são muito cansativos, na verdade. Já o disse de outras vezes. À medida que envelheço tenho mais dificuldades com os congressos propriamente ditos e com as ‘atividades paralelas’ que são, tantas vezes, as mais importantes, afinal. Por isso este postal é curto. Estou longe do centro da cidade. Perto do Don. Devia ter ficado mais perto do Dee. Mas ficando aqui, de manhã posso dormir mais meia hora. E, já o disse, isso conta muito para uma noctívaga que detesta manhãs como eu.

‘Oidhche mhath’ que é como quem dá as boas noites em gaélico escocês.

* Aberdeen quer dizer, justamente, ‘between Don and Dee’.