‘Todo está al revés’ ou ‘the life I could have lived, if only…’
Janto num sítio bestial, Stac Polly, um restaurantezinho simpático e bonito, com comida fabulosa (e eu tenho andado há semanas a comer comida de pub), na St. Mary Street. Bebo uma pint de Raven Ale a acompanhar a maravilhosa refeição, uma cerveja que, tenho quase a certeza, o Diogo haveria de gostar. Percorro, depois do café bastante aceitável, o resto da rua até à Royal Mile, no cruzamento com a High Street, onde caminho até à esquina com a South Bridge. Aí encontro a Cowgate e viro logo à direita para a Guthrie Street, não sem antes hesitar se entro no Jazz Bar aqui mesmo ao lado. Hesito mas não entro, portanto, porque quero perguntar primeiro ao Manu que tal é o bar. Entro em casa devem ser pouco mais de 22h e o Manu está acompanhado do Estebán, metade equatoriano, metade espanhol, que é homem-estátua e pintor e cuja fotografia apareceu há uns dias no Times. Uma fotografia belíssima, diga-se, quando a encontrar online logo a mostrarei. O Estebán está a pintar uma parede no quarto do Manu. Duas figuras bem bonitas, já vos digo. Mas quando meto a chave à porta estão os dois a beber cubas-livre. Oferecem-me mas rejeito porque não gosto de rum, mas ali fico a conversar com os dois.
Falamos principalmente de política e a certa altura o Estebán exclama a propósito das diferenças entre os ricos e os pobres e entre os países do norte e do sul que tudo está ao contrário. ‘Todo está al revés’. Concordamos todos na maior parte das coisas, embora eu me sinta obrigada a ser mais otimista que eles e nem sei bem porquê. Mas nos últimos anos, tenho para mim que se não somos ou tentamos ser otimistas – ainda outro dia o disse noutro postal, a respeito de uma conversa sobre a Grécia havida em Aberdeen – acabaremos por nos suicidar todos. Sim, o Gonçalo M. Tavares já o escreveu muito melhor do que alguma vez eu o farei… qualquer coisa como ‘o que é surpreendente é que não existam mais pessoas que todos os dias se atirem de prédios altos’. Não era assim, era apenas parecido, mas é esta a ideia. E por isso, a necessidade de otimismo. A certa altura o Estebán vai pintar a parede e eu continuo a fumar com o Manu. Ele fala muito alto sobre as razões pelas quais se atirou de Espanha para fora. Espanha, diz, não é um país decente. Um país que deixa que aconteça às pessoas o que está a acontecer não pode ser, diz ele, um país decente. Digo-lhe que o meu país também não é decente, que a Grécia também não o é, mas que as coisas começam a mudar aos poucos, ou, pelo menos, eu tenho essa esperança.
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