Portugal não é a Hungria. Mas o resultado pode vir a ser o mesmo.

Weber Orban

Manfred Weber, líder da bancada parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE), fez o frete a Pedro Passos Coelho e juntou-se ao coro da demagogia que à direita rejeita, de forma cada vez mais aberta, a democracia representativa. Segundo Weber, que acusa a esquerda portuguesa de “populista” e “radical“, o PPE “combate diariamente no Parlamento Europeu as forças extremistas e populistas, afirmação que não deixa de ser curiosa se considerarmos que um dos baluartes do extremismo e do populismo representados no Parlamento Europeu integra precisamente o PPE e é liderado por Viktor Órban, o ditador húngaro que surge na foto num momento de cumplicidade com Manfred Weber e que até já foi vice-presidente do PPE. Caso para dizer que o combate do PPE está a correr tão bem que alguns dos seus alvos chegam mesmo a cargos de topo no partido. Um notável fenómeno de reintegração social. Para quando a Frente Nacional?

O artigo de Weber não foge muito da narrativa que vem sendo repetida até á exaustão desde o dia em que o PS reuniu pela primeira vez com o PCP depois das Legislativas. Mas é sempre muito interessante ver o discurso populista e demagogo atingir com precisão aquilo que pretende defender, tal como aconteceu recentemente com Luís Montenegro no Parlamento. É que, talvez por desconhecimento da realidade portuguesa, não foi só na dicotomia radicalismo/Viktor Órban que Manfred Weber meteu os pés pelas mãos. Tivesse ele acompanhado a as campanhas eleitorais de 2011 e 2015 de PSD e CDS-PP e talvez não caisse no erro de escrever:

Os populistas, vazios de ideologia, adaptam o seu discurso ao que lhes dá mais votos e nunca se refreiam de prometer o que não podem cumprir. São mestres da demagogia e das meias-verdades e grandes peritos na venda de ilusões.

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas numa frase. Mais assertivo seria impossível.

Mas Manfred Weber tem a sua razão quando afirma: “quando o populismo dá as mãos ao radicalismo, o resultado é e sempre será desastroso“. Por cá, o casamento do populismo do CDS-PP com o radicalismo do PSD “teapartizado” resultou na proliferação da pobreza, no esvaziamento do Estado Social, na precarização do mercado laboral e na emigração em massa, tudo isto em simultâneo com uma dívida que não parou de crescer. Ainda assim, e apesar do ressurgimento em massa de inúmeros “fachos”, presos durante décadas em vários armários por esse país fora e fartos de usar a máscara da social-democracia, tenho muita esperança que não nos transformemos numa Hungria. O PSD não é o Fidesz mas, com o populismo e o radicalismo que por aí andam, não devemos baixar a guarda: o resultado pode muito bem vir a ser o mesmo. Qualquer dia ainda começam a pedir a reintrodução da pena de morte e campos de trabalhos forçados

Foto@Magyarhirlap.hu

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