Consenso

define o que acontece quando de forma tácita (e sem grandes conversas, e muito menos ainda Conselhos de Estado) a grande maioria da opinião pública, e independentemente de posicionamentos outros, concorda num determinado aspecto relevante para a vida dessa sociedade, estabelecendo-se uma convergência de interesses. Não é o que está a acontecer, apesar dos apelos do PR e dos desejos de uma parte da classe política afecta ao PSD e ao PS. O que está a acontecer é um forcing (actualmente já na sua fase decadente) que, como Passos Coelho gosta de dizer “não tem aderência à realidade” fragmentada da sociedade portuguesa. Pois consenso haveria caso a grande maioria dos portugueses (de que as elites partidárias são apenas uma pequenina parcela) estivesse de acordo e consentisse que os partidos que têm governado o país se unissem nessa operação que o PR gosta de adjectivar como sendo de «salvação nacional». Não é o caso.

A maioria da população não vota, e não vota movida pela raiva contra a classe política, nesse terrorismo contra a democracia que não é aliás um fenómeno nacional: a Europa inteira anda nisso, para falar dos seus cidadãos empenhados em protestar pela abstenção. E os que votam estão fragmentados: entre os que prosseguem votando nos partidos que têm governado, avalizando que prossigam governando embora representando cada vez menos, e os que dão o seu voto a todos os outros que os princípios pouco democráticos (falando de representatividade) do ainda vigente sistema eleitoral tornam irrelevantes, com a ajuda da propaganda dos que reclamam para si o ofício de governar todos os outros.

Será possível o consenso?

Santana Castilho*

1. Poiares Maduro foi recentemente ouvido na Comissão Parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local. Entre outras coisas, falou de educação como se, digo eu, não existisse ministro dessa pasta. E que disse? Que pretende que, no próximo ano lectivo, dez municípios-piloto sejam responsáveis pela gestão da educação. Não clarificou, ele que invocou a transparência, o que é isso de “gestão da educação” que, assim deixada na nebulosidade, pode ser tudo e nada. Mas foi assertivo quando afirmou que iria descentralizar. Ora descentralizar, verbo transitivo que significa afastar do centro, distribuir pelas localidades ou corporações locais, pode nada resolver e tudo piorar. A gestão da educação nacional não precisa que substituamos o monolitismo do ministério por outros tantos monolitismos, um em cada câmara. Há coisas que devem continuar concentradas (concursos de professores, por exemplo, onde o experimentalismo descentralizador dos últimos anos gerou aberrações inomináveis) e outras que, ao invés de serem desconcentradas por câmaras, devem, outrossim, ser disseminadas pelas escolas e pelos professores (a gestão pedagógica, por exemplo). Ao ministro Maduro (e ao da Educação, se existisse) conviria reler a história da I República (a descentralização/municipalização da educação foi definida pela primeira vez em decreto de 29 de Março de 1911) para perceber que não é de descentralização municipalista mas de autonomia que as escolas e os professores necessitam.

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Paraíso do Argumento ou Sibéria do Insulto?

1. Gostaria de enfatizar um ponto em matéria de colaboração e prazer de aventar, não como um presidente de clube que proclama confiança no treinador que irá despedir, mas como um coração amoroso, afectuoso, que ama e admira os companheiros aventadores, no seu brilho e na sua esplêndida liberdade, se revê inteiramente em Nelson Mandela, mas talvez escreva como Átila e olhe para a bloga como um espartano deseja com lágrimas a primeira linha do combate: por isso declaro que eu, Joaquim Carlos, estou perfeitamente à vontade quer com o volume quer com a substância dos insultos, ataques pessoais rasteiros e leituras debochantes que os meus posts por vezes merecem de anónimos viscerais, como eu, mas demasiado facciosos, irracionais e ideologizantes para misturar discordância com destruição e desmoralização. Vivo bem com isso. Bem sei que alguma ingenuidade e indiscrição minhas podem ser usadas contra mim. Aceito-o. Mesmo vindo de anónimos. Quem vai a combate, arrisca-se todo. Ou não vai.

Mas, numa sociedade menos imbecilizada e menos fanatizada, nunca deveria estar em causa quem escreve. Portugal não é o Egipto. Os números do País são frios. Os compromissos do Memorando foram assumidos e a sua revisão-suavização só poderá advir do cumprimento à partida. Pressupostos de boa vontade e boa fé negocial entre partes, quaisquer partes, fazem dos projectos de democracia, Democracias. Os riscos económicos de Portugal são comuns a demasiados países na Europa: esta é uma crise que é muito nossa, portuguesa, filha da corrupção e do eleitoralismo de décadas, e só agravada pelos problemas dos demais países, no pós-2008. Podemos debater e argumentar. Quem, ao invés, prefere insultar-me, rebaixar-me, é bem-vindo na mesma. Pode vir. Nem ameaças à minha integridade suscitarão, prometo, qualquer acto de censura ou a uma corrida aos armamentos da verve estéril. Não estou a pedir paz nem a acenar com a bandeira por tréguas. Estou a dizer que venham. Venham, se são homens. [Read more…]

A falta de senso dos defensores do consenso

Santana Castilho*

Diariamente, grandes e pequenas coisas, afinal aquilo de que é feita a vida, desfilam em alardes de falta de senso, mesmo quando os seus intérpretes, por inerência dos cargos que ocupam, dele nunca devessem prescindir. O país não está só em recessão e depressão. Parece gerido a partir de uma nave de loucos.

1. Em nome do consenso, Cavaco Silva criticou Paulo Portas por falar e expor, em público, a fragilidade da coligação moribunda. Mas não se coibiu, ele próprio, de defender, em público, o que Portas disse. Que a senhora de Fátima (segundo ele provável responsável pela conclusão da sétima avaliação) lhe ilumine o senso comum, já que os “cidadões” (novo presidencial plural) recusam consensos sabujos.

2. Não é de senso comum ou sequer mínimo que se trata quando se ouve, como ouvimos, o primeiro-ministro afirmar, naquele jeito característico de estadista de Massamá, que os cortes apresentados ao eurogrupo não se aplicam à generalidade dos cidadãos mas, tão-só, aos reformados e funcionários públicos. A questão é de siso. Não o tem, de todo, quem teima em dividir os portugueses em subespécies: os espoliáveis, sem direito a pio, e a “generalidade”, salva e agradecida. [Read more…]

Águas paradas: o consenso alargado

passos coelho miguel macedo vitor gaspar miguel relvas governo consenso politicoCavaco Silva, o chefe de gabinete de Passos Coelho, aproveitou o seu discurso nas comemorações do 25 de Abril para explicar que o país, graças ao governo, está melhor, apesar das “consequências gravosas”, o que poderia ser engraçado, se não fossem as consequências, e poderia ser inteligente, se fizesse algum sentido um país estar bem, quando os cidadãos estão mal. [Read more…]

Mais consenso ainda?

Parece que anda por aí um apelo ao consenso, que é preciso que os principais partidos políticos se entendam e que os partidos menos principais se mantenham nas franjas, até porque são imprestáveis para a governação, ao contrário dos que têm governado nos últimos trinta anos, sempre tão prestáveis, como se pode avaliar pelo estado do Estado.

Mas será possível haver maior consenso do que aquele que tem sido praticado pelos partidos que têm ocupado o poder? Todos gastaram mais do que podiam, todos transformaram o Estado numa plataforma de negócios privados com dinheiros públicos, todos vêem o poder como uma agência de empregos para a multidão de lambedores de botas criados pelas juventudes partidárias. São estes mesmos partidos que vivem neste consenso há anos que, agora, vão resolver os problemas que criaram?

O país está em crise por causa do consenso. Abaixo o consenso!

Diz-me para que lado puxas e dir-te-ei quem és

Gente de vários quadrantes – alguma mais insuspeita do que outra – tem vindo a apelar a um entendimento nacional, a uma espécie de consenso, para que o país enfrente os desafios que se apresentam. Não tenho dúvidas de que alguma racionalidade básica e atenção aos interesses comuns e nacionais fariam milagres e aliviariam o fardo.

Acho, aliás, numa altura em que se pedem sacrifícios a “todos” os portugueses, que um mínimo de elevação de discurso e boa dose de clarividência política ajudariam os portugueses a entender as razões e justificações dos pedidos. “Falar verdade” funcionaria muito mais como prática quotidiana do que funciona como slogan eleitoral com uma classe política desacreditada. Quisessem a união e compreensão dos portugueses e explicar-lhes-iam -se soubessem- de onde se vem e para onde se vai.  Fosse importante a participação dos portugueses e aplicariam a “transparência” e o rigor. Pretendessem a colaboração dos portugueses e evitar-se-iam os sinais contraditórios, as injustiças gritantes e as decisões irracionais.

É que não basta dizer: Portugueses, vamos puxar todos para o mesmo lado (e só poderiam dizê-lo com credibilidade depois de findo o cortejo constante de acusações e vitimizações), para que os portugueses saltem do descrédito para a ação.

Teriam, por exemplo, que dizer para que lado puxar e para quê. Quantos portugueses querem fazer sacrifícios e ainda assim puxar para este lado? E para este? E este?

Porque para certos lados a corda até parece não precisar de ser puxada. Basta-lhe a inércia e a lei da “gravidade”.