Castelo Branco e a ilusão da descentralização

O governo rumou em força para Castelo Branco, para um Conselho de Ministros descentralizado e umas quantas cerimónias relacionadas com o PRR.

Para a tropa de choque do regime na comunicação social, como foi o caso de Inês de Medeiros na TSF, isto aproxima a política dos cidadãos.

Nada mais falso. [Read more…]

A representação e a representatividade

Keyla Brasil, artista trans, invadiu o palco de uma peça no Teatro S. Luiz, protestando contra aquilo que denomina de ”transfake” (uma expressão, julgo, importada dos Estados Unidos da América), por um actor, que se identifica com o género masculino, estar a interpretar, na peça, o papel de uma mulher trans.

O argumento das activistas centra-se na questão da representatividade e do “lugar de fala”, exigindo, e bem, que mais artistas trans sejam contratadas para o teatro, artes performativas e para outros trabalhos onde, sabemos, há ainda discriminação e desigualdade no acesso; argumentam, também, e é aqui que a minha discórdia se apresenta, que só actores ou actrizes trans possam representar os papéis ficcionais de personagens trans. Nada mais errado, a meu ver, pois a representação não é um sinónimo de representatividade. Vejamos as definições dos dois conceitos, aplicados à questão em discussão:

1 – Representação: (teatro) “exibição em cena”, “espectáculo teatral”, (cinema, teatro, televisão) “desempenho de actores; interpretação; actuação”;
2 – Representatividade: “qualidade do que é representativo”; Representativo: “que representa”; “que envolve representação”; “constituído por representantes”.

Analisando as duas expressões, podemos concluir que as mesmas se inter-ligam. A representação pode ser representativa de alguma realidade, pode é ser, apenas, representação e, como tal, o teatro reveste-se apenas da premissa da interpretação de textos e personagens, não sendo raras as vezes que uma estória, sendo ficcional, retrata partes da realidade em que nos inserimos. A falta de representatividade no que à presença de pessoas trans na vida social e no mundo laboral, as suas dificuldades no acesso a direitos que são comuns, ou deviam ser, a todos os Seres Humanos, é real e não a podemos escamotear. [Read more…]

Consenso

define o que acontece quando de forma tácita (e sem grandes conversas, e muito menos ainda Conselhos de Estado) a grande maioria da opinião pública, e independentemente de posicionamentos outros, concorda num determinado aspecto relevante para a vida dessa sociedade, estabelecendo-se uma convergência de interesses. Não é o que está a acontecer, apesar dos apelos do PR e dos desejos de uma parte da classe política afecta ao PSD e ao PS. O que está a acontecer é um forcing (actualmente já na sua fase decadente) que, como Passos Coelho gosta de dizer “não tem aderência à realidade” fragmentada da sociedade portuguesa. Pois consenso haveria caso a grande maioria dos portugueses (de que as elites partidárias são apenas uma pequenina parcela) estivesse de acordo e consentisse que os partidos que têm governado o país se unissem nessa operação que o PR gosta de adjectivar como sendo de «salvação nacional». Não é o caso.

A maioria da população não vota, e não vota movida pela raiva contra a classe política, nesse terrorismo contra a democracia que não é aliás um fenómeno nacional: a Europa inteira anda nisso, para falar dos seus cidadãos empenhados em protestar pela abstenção. E os que votam estão fragmentados: entre os que prosseguem votando nos partidos que têm governado, avalizando que prossigam governando embora representando cada vez menos, e os que dão o seu voto a todos os outros que os princípios pouco democráticos (falando de representatividade) do ainda vigente sistema eleitoral tornam irrelevantes, com a ajuda da propaganda dos que reclamam para si o ofício de governar todos os outros.

Bravo António Costa

A linguagem da política já não serve. As palavras da política não prestam. Não basta dizer transparência a torto e a direito para que tudo fique visível – muito pelo contrário, pois a palavra transparência, que significa a verdade límpida, é um manto grosso de opacidade lançado sobre tudo o que a acção política esconde, ou aquilo em que é omissa. Não chega escrever transparência, ou honestidade, ou competência nos cartazes para sê-lo. É que já não basta parecê-lo. Talvez a palavra mais urgente seja clareza, a palavra clareza tornada claríssima por quem a pratica por intermédio de enunciados e acções claras. Nos cartazes que mandou imprimir para a campanha autárquica, António Costa foi bastante claro: “Preciso do seu voto”, disse sem mais rodeios nem transparências. [Read more…]

Votar

votar

Uma das consequências perversas da arma de propaganda política que constituem as sondagens – falando das que se publicam para desmoralizar –, é levar as pessoas a desacreditar completamente: na democracia, na classe política (claro), mas também no próprio povo de cidadãos eleitores. Tudo fica então reduzido a essa visão do Inferno que transforma a gente a que se pertence no mais abjecto dos povos – gente burra que nem portas, incapaz de raciocinar e compreender os princípios do sistema eleitoral que, com a abstenção, premeia os vencedores, entregando-lhes ilegitimamente (falando da representatividade em que assenta o sistema) os governos da Nação. [Read more…]

Cavaco e Passos representam quantos portugueses?

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Presidenciais 2011 (maior abstenção de sempre em eleições para a Presidência)
2.231.956 votaram em Cavaco Silva, representando 23,32% do universo de eleitores inscritos. Abstenção+Brancos=5.164.859, representando 56,63% do universo de eleitores inscritos. Cavaco ganhou com 52,95% dos que votaram.

Legislativas 2011 (maior abstenção de sempre em eleições para o Parlamento)
Dos 9.624.354 eleitores inscritos, abstiveram-se 43,88%, ou seja, 4.039.725 não votaram, 2.159.181 votaram no PSD (22,62%) e 653.888 votaram no CDS-PP (6,85%).

(num apanhado rápido, usando esta fonte, que entretanto se ‘fornece’ na Comissão Nacional de Eleições)

Essa coisa da representatividade

José Seguro tardava em resvalar para a demagogia. Tardava mas lá chegou. Como manda a boa cartilha da pior política que há décadas se faz em Portugal. Reduzir o número de deputados não tem qualquer interesse prático para resolver os actuais problemas do país. Nem, em bom rigor, levanta questões de representatividade. Isto, porque há muito que a representação do povo nas esferas do poder, cedeu lugar aos compromissos para se atingir o desejado poder: ninguém chega à chefia – primeiro do partido e depois do Governo – sem, pelo caminho, se comprometer com os patrocinadores que, mais tarde cobram a esmola ao santo pelos milagres convenientes. Veja-se, recentemente, os avanços e recuos do PSD e do CDS, na proposta de lei sobre o crédito à habitação, em sede de entrega directa da casa para pagamento total do empréstimo. Mais um a juntar ao rol dos exemplos do poder das vozes de dono. Não há bem ou interesse públicos que resistam. E se isto vale para os partidos do rotativismo governativo – PS, PSD e CDS -, também vale para aqueles cuja cegueira doutrinária e vassalagem externa, não se coibiram de tomar decisões absolutamente contrárias aos interesses de Portugal – sim, não esqueço que o PCP votou contra a entrada de Portugal na CEE. Por tudo isto, há muito que não temos quem represente o povo no poder, que cuide do bem e o interesse públicos. Temos partidos políticos que, ora por razões de praxis ideológica ora por ganâncias pessoais, particulares ou corporativas, há muito que não representam o povo. E, já agora, exigir exclusividade aos deputados da nação, impedindo-os de estar em simultâneo na defesa do interesse público e de interesses privados, talvez fizesse muito mais pela representatividade do povo, do que reduzir o número de parlamentares.

Cromo do Dia: Assembleia Regional da Madeira

Que o partido do Alberto João tem um entendimento peculiar da democracia, já sabíamos. Que a população se está a borrifar para esse entendimento ou qualquer outro, desde que dê túneis e subsídios, também sabíamos. Agora, que democracia é um deputado votar por todos, ainda não sabíamos. Lá se vai, de uma assentada, o conceito de representatividade por listas eleitas, o conceito de fiscalização por heterogeneidade, o voto de consciência, a liberdade de voto, a diversidade de ideias e argumentos, a necessidade de debate. Mas, por absurdo (e o absurdo cabe nestas cabecinhas), talvez fosse esta a forma de tornar o funcionamento da “democracia” mais barato: grupos parlamentares de um só elemento, quatro, vá lá cinco, deputados por parlamento e estava a coisa resolvida.

Mais um cromo raro.

parlamento regional