Citações: Ide ler o Miguel no jornal O Jogo, ide:

Hoje, o Miguel Carvalho publicou mais um artigo de opinião no jornal O Jogo. É de leitura obrigatória.

 

A “culpa” do jornalismo

[Miguel Carvalho*]
Ah, e tal, o jornalismo é o principal culpado do resultado de André Ventura. Sempre a dar-lhe voz, a fazer pé de microfone, a execrá-lo ou a pensar no próximo bitaite incendiário que virá dali, pois sempre virá alguma coisa.
Bem, sou capaz de concordar que Ventura e o Chega têm tempo de palha em demasia. Digo tempo de palha porque uma boa parte da antena está sempre a salivar com zaragata.
Mas o que sugerem: que o jornalismo se demita da sua responsabilidade de investigar, de escrutinar, de contrastar, de trazer a público aquilo que leve os cidadãos a tomar decisões mais responsáveis e aprofundadas, mesmo se escolhem não o fazer?
O que sugerem: que fiquemos sentadinhos a ver o andor passar e fazer de conta que não há um entertainer político hábil que ocupou o espaço de sucessivas irrelevâncias partidárias, do esquecimento a que foi votada parte do País, do ressentimento acumulado por tanto submundo engravatado e promessa por cumprir?
O que sugerem: que o jornalismo abdique de prestar um serviço público, independentemente da sociedade valorizar esse esforço, ainda por cima em tempos de recursos esganados?

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Quando Portugal Ardeu ou Uma Comédia Portuguesa – Crónicas do Rochedo XX

miguel carvalho livro

O automóvel que explodiu foi armadilhado aqui em casa. A minha sogra pedia-nos sempre para não matarmos ninguém, “Por favor, não entrem nesse campo, eu não quero cá ninguém assim”. Eles levavam o carro já armadilhado, com o material todo, só faltava colocar os detonadores. Mas iam estragando tudo. À ida pararam na Mealhada, nos leitões. O Ramiro pediu a conta e o homem demorou a trazê-la. E ele disse: “Bem, se não vem já a conta vou-me já embora e depois, olhe, meta na conta deste senhor”. O Ramiro tinha um porta-chaves com a imagem do Salazar num porta-chaves” – Silva Santos em entrevista a Miguel Carvalho no livro “Quando Portugal Ardeu” do jornalista e escritor Miguel Carvalho.

Este episódio, como outros do género que se podem ler na obra do Miguel Carvalho dizem muito sobre Portugal. Vamos ali a Lisboa colocar uma bomba mas antes, claro, toca a aviar um leitão na Mealhada… Eu, por exemplo, se me pedirem para ir ali a Vigo colocar uma bomba tinha de desviar a Viana para comer uma bola de berlim no Natário, obviamente.

Quando terminei de ler o livro fiquei na dúvida se toda esta história é cómica ou trágica. Depois de uma noite de sono a minha conclusão é outra: nem tragédia nem comédia, apenas Portugal. Uns bombistas com bons sentimentos, arrependidos por terem assassinado uma inocente em S. Martinho do Campo, que para todas as missões não dispensavam uma refeição opípara (seja leitão ou marisco) nem o conforto de um hotel de luxo, uns financiadores pretensamente ricaços que se esqueciam de pagar os serviços e, tão português, uns espertalhaços que desviavam os fundos para a causa directamente para o seu bolso e, cereja no topo do bolo, nem falta o empresário bronco que aproveita a onda terrorista para um ajuste de contas pessoal com um seu antigo funcionário. Sem esquecer uma dúzia de gabarolas, a santa igreja católica, autarcas, polícias e juízes corruptos, militares sinistros, prostitutas e uma boa dúzia de tontos. Se isto não é Portugal no seu melhor…

No final de tudo isto ficou uma conclusão que me arrepia, escrita pelo autor da obra: “Oradores exaltados, habituados a atear almas e comícios, recolhiam-se agora em poltronas e gabinetes alcatifados. Conspiradores de outras safras tinham sido reciclados para o conforto dos cargos, das instituições e do poder político. Militares, vetustos juízes, certos polícias e uns quantos ladrões disputavam negócios e sinecuras, à luz do dia e com cobertura legal, mas tão na sombra como no passado. Todos queriam sossego, iniciativa privada, brandos costumes e democracia de estufa. E silêncio, por favor”.

Nada mudou. Só o trotil é que já não está na moda.

Aproveitem para ler esta obra do Miguel Carvalho. Retrata uma época de Portugal que é um espelho de todas as outras, até da nossa. E pode ser que compreendam o verdadeiro papel do General Ramalho Eanes em tudo isto. Pode ser. Eu fiquei com mais dúvidas que certezas. E reparem bem nalgumas das personalidades do Norte que surgem neste livro. Algumas ainda andam por cá. Outras foram, hoje, substituídas pelos filhos. E genros. E afilhados. E sobrinhos. Sem esquecer os primos. É que se Portugal é uma aldeia, o Norte é uma ruela…

A Comunicação Política Digital – a entrevista (1)

1450839_10201066651530033_610383186_nNotas Breves: A entrevista feita pelo jornalista Miguel Carvalho (Visão) foi realizada após várias conversas prévias nos meses de agosto e setembro (se a memória me não falha, a entrevista propriamente dita, foram mais de quatro horas, foi em outubro). O jornalista sabia do teor da minha tese (a eleição de Pedro Passos Coelho como presidente do PSD e a influência da blogosfera e redes sociais) e do resultado da mesma em termos académicos. Obviamente, a entrevista só foi realizada depois do Miguel Carvalho ter tido uma cópia da mesma e a ter analisado ao pormenor. Quanto à entrevista, como pode testemunhar o Miguel Carvalho, foi franca e leal. Sem meias palavras, “rodriguinhos” ou artimanhas. Nada tenho a reclamar, independentemente de um ou outro pormenor que, misturado, pode e está a gerar alguma confusão. O que é absolutamente normal: uma entrevista de tantas horas reduzida a três páginas de revista teria, forçosamente, de ser assim. Muito do que foi dito não está lá nem podia estar face aos naturais constrangimentos de espaço e o que está dito, por vezes, fruto do normal corte e cose, pode ser interpretado de forma errada. Porém, isso não invalida, bem pelo contrário, a forma enviesada como alguns a querem ver/ler. O que também não me espanta. E até percebo as razões…

A tese que defendi mais não é do que um estudo académico sobre a influência da blogosfera e das redes sociais na comunicação política digital naquelas eleições internas. Deixando já claro algo que afirmo na minha conclusão: não se vai voltar a repetir. Por variadas razões que não vale a pena estar aqui a discutir. Mas, permitam-me que vá directo a um tema que está a gerar bastante confusão (e que a publicação, em breve, da tese no Aventar, vai permitir esclarecer melhor): o Albergue Espanhol.

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«Estejam Quietas com a Cama!»

O trabalho jornalístico de Miguel Carvalho, adiante citado, é primoroso e merece boa leitura. Aprende-se muito. Todas as leituras complementares da figura Salazar que nos dêem os figurantes aleatórios que o rodearam, como Rosália Araújo, complementam-nos a nós, compõem a portugueseologia que nos falta, especialmente nesta hora em que recolhemos, impotentes, temerosos e com esta raiva amordaçada, os agraços dos anos ávidos da jacobinada socialista, a factura da grande devastação lesa-pátria socialista, os efeitos nocivos da democracia tomada como pretexto para a impunidade da criminalidade política mais crassa, essa inter-partidária, mas notoriamente mais de assinatura socialista, dado a recente capitulação e pré-falência nacionais terem sido obra sua. Depois de Salazar, veio Soares. Com ele, começou a medrar todo um sistema malicioso dado à permissividade selectiva: ao mesmo tempo que nos castiga e oprime no plano económico e fiscal, vai perdoando largamente a políticos gangsters qualquer crime, a reiteração de qualquer crime, qualquer prevaricação, qualquer abuso de poder, qualquer veleidade de auto-eternização no cargo. No fim, vêem-se premiados com as delícias do furto aos contribuintes e condenando milhões de cidadãos à mais vexatória penúria, ancorados a dívidas incomportáveis pelas décadas das décadas. Não poderiam tais consumadas bestas democráticas ter ao menos a virtude de não falhar na sustentabilidade do Estado Português e nos pressupostos da nossa soberania garantida, coisas em que Salazar não falhou?!: «Em São Bento, onde Salazar por vezes vegeta, há quem veja miragens de melhoras. «Não se iluda, senhor director! Ele mija na cama e borra-se todo!», dirá o motorista Furtado a Costa Brochado, jornalista e intelectual salazarista. No palacete, escasseiam as visitas ao morto adiado, abundam fraldas, transfusões e preocupações. «Era do cadeirão para cama e da cama para o cadeirão.» O tremor de terra que assusta Lisboa em 1969, abana os candeeiros em São Bento e apanha o ditador prostrado, entre lençóis, com as enfermeiras em volta. «Estejam quietas com a cama!», atirou ainda Salazar, emergindo por momentos dos confins da alma.» Miguel Carvalho

PSD:

Hoje, no Correio da Manhã, temos Moita Flores a apoiar Pedro Passos Coelho. Fiquei surpreendido. Pelo apoio e pela violência das palavras:

“Quem segue com atenção a vida do PSD não deixa de questionar, com perplexidade, quais as razões que levam a que os núcleos mais desgastados, embora poderosos, semana após semana, num rodopio frenético, testem uma procissão de candidatos, mais ou menos forçados, sebastiânicos, alguns feitos de barro, outros produzidos em laboratório. Aquilo que mais surpreende e desgosta é vermos inimigos jurados de ontem, abraçados, aplaudindo-se com o entusiasmo de um amor novo”.

Pela amostra, as próximas directas no PSD prometem.

E já que estamos a falar do PSD, o que dizer da reportagem na Madeira de Miguel Carvalho na Visão desta semana? Infelizmente não está online. É uma história com muitas estórias dentro dela e que merecem uma análise profunda.