Pedro Passos Sócrates

PPSócrates

Eles tentaram tudo. Usaram recursos públicos ao serviço dos seus partidos, manipularam as redes sociais, esconderam-se por trás de um nome a apelar ao patriotismo e fizeram os caudilhos desaparecer dos cartazes. Eles tinham os comentadores mais influentes, tinham os bloggers da corda a atacar o PS todos os dias, tinham o Observador, o Sol e o Correio da Manhã. Eles fugiram a entrevistas, fugiram a debates, fugiram aos portugueses e terminaram a campanha envoltos em cordões humanos de jotas e seguranças como bolhas de actimel à volta do homem que abria portas na Tecnoforma. Eles reduziram o discurso ao nível mais primário possível, prometeram números impossíveis, empunharam terços e insistiram em enganar os portugueses quando disseram que o Novo Banco não ia ter custos para os contribuintes. Até António Costa e a campanha desastrosa do PS deram aquela forcinha.

E mesmo assim não foram além do PS de 2005/2011 e de uma maioria relativa. Passos Coelho é outro Sócrates, separam-nos apenas duas diferenças:

  1. Passos precisa de outro partido para ser Sócrates;
  2. A pancada que levou entre o primeiro e o segundo mandato foi maior.

Depois de todos os triunfalismos que o protocolo exige, a coligação enfrentará, a partir de hoje, um parlamento onde a esquerda estará em maioria. O último que lá esteve nas mesmas condições durou 2 anos. E não tinha um António Costa tenrinho a liderar o maior partido da oposição em processo de “pasokização” que, a julgar pelas suas palavras no discurso da derrota, estará disposto a facilitar a vida ao governo. Vai ser fabuloso ver as Marias Luz e restantes “clientes” e prostitutas do PàF nas redes sociais tirarem a mira do líder do PS e eventualmente terem que elogiar a sua abertura para viabilizar a governação dos seus caciques. Alguns adeptos não irão perceber no início mas os mais grunhos nem vão sequer notar.

Pedro Passos Sócrates Coelho lá continuará a seguir o caminho do seu antecessor. Uma maioria absoluta (ainda que no caso do primeiro-ministro tenha sido necessário recorrer ao táxi) seguida de uma maioria relativa em que a coligação que lidera consegue menos deputados do que o seu partido conseguiu sozinho em 2011, que não deverá ir além dos 107 deputados, tendo caído quase 12% face aos resultados de 2011, o que se traduz em menos 741.693 mil votos, mais do que a votação total do CDS-PP em 2011. De resto pior que Sócrates, que quando transitou da maioria absoluta de 2005 para a relativa de 2009 recuou cerca de 8,5%, tendo perdido 511.074 votos. Nem com um partido em anexo Passos consegue melhores resultados que o preso domiciliário.

Espera-o uma oposição parlamentar hostil, que até poderá revelar-se mais macia do que o esperado caso o PS opte pelo papel de prostituta política depois de uma campanha em que o discurso assentava num discurso agressivo em torno da impossibilidade de compromissos, ou, mais provável, o mesmo destino que o seu semelhante que será ser cozinhado em banho-maria durante aproximadamente dois anos até que, quando o refogado estiver no ponto, surja um Marco António Costa qualquer do PS que diga a Costa: “Ou há eleições no país ou há eleições no PS“. E lá voltaremos ao mesmo com mais do mesmo.

Foto: Lusa@Rádio Renascença

Comments

  1. Helder P. says:

    No entretanto, cerca de 60% dos eleitores queriam um governo de esquerda, mas vão levar com um de direita, porque o actual PS prefere relacionar-se com a direita do que com os partidos do seu lado do espectro político.
    Ainda hoje ouvi CDU e BE na cerimónia do 5 de Outubro a dizer que acreditam ser possível formar um governo de esquerda liderado pelo PS. Afinal quem é que é mais inflexível?

    • Ainda não percebi essa de 60% da esquerda…

      Conto 70% de votos à direita, 80% de deputados à direita, não chego a essas contas!

      Posso até conceder e tentar colar o PS ao centro e refazer as contas, agora esses 60 não os vejo.

    • ferpin says:

      Conceptualmente, a esquerda do PCP e BE nada tem a ver com a do PS

  2. anonimo says:

    Esta campanha eleitoral demonstrou que a Coligação não terá qualquer dificuldade em convencer os portugueses, daqui a 1 ano (no máximo), que o culpado pelo deteriorar da situação (que vai acontecer) é o bloqueio. Vai cair e vai ter a seguir maioria absoluta. Mais uma vez a esquerda demonstrou que o seu voto é desperdiçado, é um voto de protesto, não conduz a nenhuma solução governativa nem mesmo quando tem 60% dos votos. Não é para protestar que os partidos existem e concorrem a eleições: é para governar!

    • Nightwish says:

      Vai? Então porquê? O que o PS bloqueará será o que o PSD prometeu, que não há cortes nas pensões nem nos ordenados e etcs. O PSD não se pode demitir por isso.
      Quanto ao achismo que a esquerda é um protesto, ache o que quiser, mas é a única solução para deixarmos a recessão. Assim, continuemos que estamos quase a chegar ao meio.

      • anonimo says:

        “achismo que a esquerda é um protesto”

        Não é achismo. A esquerda deixa de ser de protesto se apoiar em bloco a moção do rejeição do BE ao governo de Coligação e no dia seguinte apresentar uma solução de governo estável com base nos 60% de votos que teve (e na maioria absoluta de deputados que tem). Estão à espera de quê?
        Caso contrário fica demonstrado que o voto à esquerda é apenas um voto de protesto. Não serve para construir nenhuma solução governativa. É um desperdício.

        • Nightwish says:

          Entre isso e austeridade permanente, antes a falta de governo.
          Não concordo que a moção seja apresentada sem uma solução, mas também só passa se o PS quiser ser de esquerda, vai dar ao mesmo.

          • anonimo says:

            “O PSD não se pode demitir por isso.” – do comentário anterior
            Está novamente a subestimar a capacidade da Coligação para se fazer de vítima e de arranjar uma narrativa favorável na opinião pública, reforçada por um novo argumento de peso: à esquerda não é possível fazer governos, só protestar e bloquear (vai ser parte da narrativa). Não subestime novamente a Coligação!

            “só passa se o PS quiser ser de esquerda” – Já todos perceberam que à esquerda nada mudou nem vai mudar: a estratégia de marcar o terreno do BE, do PS e do PCP vai continuar e no fim não serve para nada (apenas para um bloqueio temporário que nada vai reverter de significativo).

            “Entre isso e austeridade permanente, antes a falta de governo.”
            A falta de governo não vai ser eterna. Se a esquerda deixar passar mais esta oportunidade não tenho qualquer dúvida que daqui a 1 ano a Coligação terá nova maioria absoluta, provavelmente com os votos da ala centro-esquerda (Assis, para simplificar) do PS (que vai ‘desaparecer’).

          • anonimo says:

            Dito de outra forma.

            Estratégias de bloqueio e de aposta na “falta de governo” não duram muito e não mudam nada de significativo: não vão reverter um milímetro das medidas do anterior governo, quando muito vão atrasar novas medidas. É muito pouco para quem dispõe de 60% dos votos para mudar efectivamente algo. Para ser sincero, esta discussão da urgência no entendimento à esquerda que nunca chega começa a saturar.

          • Nightwish says:

            Uma maioria absoluta depois de mais austeridade quando o próprio Coelho já disse que tinha acabado… Fie-se nisso.
            O que queria era um governo de “esquerda” com as mesmas políticas, mas os partidos não estão lá para fazer fretes.

    • Helder P. says:

      O PS é que tem neste momento a possibilidade de decidir se haverá um governo de esquerda ou de direita. Que assumam as suas responsabilidades e depois não atirem as culpas ao outros. Costa jogou sempre à defesa nesta campanha,deu vários tiros no pé, falou ao eleitorado com um programa tecnocrático e confuso e que em certas vertentes tinha mais de liberal que socialista. Também é verdade que a PàF montou uma campanha hábil de mentira e manipulação da realidade que o PS não foi capaz de desmascarar.
      Se optarem pela direita como é o costume, poderão começar a ter um processo de “pasokização”, porque agora falando em voto útil, um partido que serve sempre de idiota útil para a direita, pouca utilidade terá para um eleitor de esquerda. Cuidado com as imitações. Neste momento, o PS é o partido que o PSD e o CDS-PP querem que ele seja.

    • Nascimento says:

      Por isso é que és ANÓNIMO! Ou seja: Nada! E agora pira-te daqui e vai passear o PAN…..

  3. anonimo says:

    “Na emissão especial da TSF de rescaldo das legislativas, o deputado Pedro Filipe Soares diz que, caso o Presidente insista com um governo PSD/CDS, o Bloco avançará com uma moção de rejeição.”

    Do meu ponto de vista o Presidente tem de convidar a Coligação a formar governo. A esquerda pode depois avançar com uma moção de rejeição e, na prática, inviabilizá-lo. Mas para isso não passar de um mero “marcar de território” tem a obrigação de ter preparada uma alternativa de governo. Afinal, qual é a alternativa de governo em que o BE está a pensar para o pós moção de rejeição? Ou passou a adoptar os princípios anarquistas e acha que depois da queda do governo logo se vê? O BE pode fazer parte de uma alternativa de governo correspondente a 60% dos votos. Se essa alternativa efectivamente existir, então faz bem em avançar com a moção. Caso contrário que continue a ser um partido de protesto e de bloqueio.

  4. anonimo says:

    Clarificando.
    Perspectiva de um partido de protesto e bloqueio: há 60% de eleitores contra um governo da Coligação.
    Perspectiva de um partido de governação: há 60% de eleitores a favor de um governo de esquerda.

    Só faz sentido apresentar uma moção de rejeição se a perspectiva for a segunda. E estiverem garantidas à partida as condições para que isso aconteça efectivamente. Caso contrário a alternativa é Portugal ter tido eleições e não haver governo. Nenhum.

    • Nightwish says:

      Isso não depende do BE, depende do PS. Ou viabiliza a direita ou a esquerda.
      De qualquer modo, sem governo não há austeridade; caso contrário lá teremos que cobrir os 7,2% já no início do ano…

      • anonimo says:

        “Isso não depende do BE, depende do PS”
        Esse é um erro de análise comum: se são necessários os dois para formar governo porque é que só depende de um?
        Pode sempre dizer que o PS vai viabilizar um governo de direita porque o BE não é suficientemente flexível. O mesmo pode ser dito ao contrário, claro. Mas ninguém pode afirmar que é culpa apenas de um.

        • Nightwish says:

          Claro que sim, ou o PS é de esquerda ou de facto não tem alternativa, como o BE e o PaF demonstraram durante a campanha.

      • Nascimento says:

        Mas a malta aqui já responde a ANÓNIMOS?Não chegou a acção de desinformação dos mérdias, e os blogues dos sobrinhos pago pelo PAF nestas semanas? Ó pá, vão ladrar para o observador….xo daqui.

        • anonimo says:

          O meu nome é Silva. Ou Nascimento.Já não sou anónimo portanto. Satisfeito?

    • Isto (que concordo): “há 60% de eleitores contra um governo da Coligação. ”

      É diferente disto (que não vejo): ” há 60% de eleitores a favor de um governo de esquerda.”

      • anonimo says:

        Mas não é para isso que há eleições em democracia: os partidos políticos têm obrigação de promover a governabilidade. Daí que seja nessa perspectiva que os 60% devam ser interpretados.

        • Nightwish says:

          Têm obrigação de cumprir aquilo para que foram eleitos. Se isso impede que se faça muita coisa na qual há grande divisão pois que haja.

        • Nightwish says:

          E a governabilidade e a estabilidade já lhe levaram quanto dinheiro nos últimos 40 anos? E serviu para resolver a grande recessão ou continua tudo na mesma à espera de uma alternativa milagrosa ao investimento público?
          Espero que coma governabilidade ao pequeno almoço depois do orçamento de 2016.

          • anonimo says:

            Ao pedido de governabilidade e estabilidade à direita a resposta não pode ser ingovernabilidade e bloqueio: tem de ser governabilidade e estabilidade à esquerda! Para mudar efectivamente alguma coisa e não adiar o ‘inevitável’. É esse o meu argumento!

          • anonimo says:

            A esquerda auto-diminuiu-se de tal forma que deixou que os termos ‘governabilidade’ e ‘estabilidade’ passassem automaticamente a ser de direita!

          • Nightwish says:

            Diz o António e diz a senhora Merkel. Na próxima crise vamos ver…

          • Nightwish says:

            É anonimo, não é António. Mas então o quê, vale tudo para estar no governo? Para isso já há muitos partidos, eu quero um que tenha princípios e linhas vermelhas e que lute pelas pessoas.

          • anonimo says:

            “É anonimo, não é António.” Deixe lá, eu percebi.

            “eu quero um que tenha princípios e linhas vermelhas e que lute pelas pessoas”.
            Princípios, com certeza.
            Linhas vermelhas depende. É necessário algum grau de compromisso para formar alianças de governo, desde que não violem os princípios.
            Qual é a melhor forma de lutar pelas pessoas? Bloquear temporariamente a austeridade (“mais austeridade quando o próprio Coelho já disse que tinha acabado” – amanhã Coelho já lá não está) ou governar à esquerda e mudar algo, ainda que possa parecer pouco, de acordo com os princípios?
            A esquerda não pode simplesmente prescindir da ‘governabilidade’ e da ‘estabilidade’ à esquerda. A esquerda tem de querer ser governo! Tem 60% dos votos e não faz um esforço para deixar de ser apenas bloqueio e protesto! Porque é que a direita consegue se só tem 40% dos votos?
            Pode não ter princípios nem linhas vermelhas mas no final governa e muda o que quer.

          • anonimo says:

            “Para isso já há muitos partidos, eu quero um que tenha princípios e linhas vermelhas e que lute pelas pessoas.”
            Desculpe a franqueza mas para isso não precisa de um partido político: um sindicato (p. ex.) também tem princípios e linhas vermelhas, e luta pelas pessoas. A diferença entre um partido e um sindicato é que um partido pode ir mais além e mudar efectivamente algo. Mas para isso tem de ser governo.

          • Nightwish says:

            Mas dentro do Euro e sem reestruturação não pode fazer nada. E, assim sendo, uma coligação com o PS também nada resolvia. Algo que a UE há-de perceber eventualmente, a bem ou a mal.

  5. Dezperado says:

    A democracia é uma coisa chata, quando nao ganha o partido que nós queremos.

    Quando o povo vota naqueles que nao queremos, inventam-se mil desculpas para tal ter acontecido.

    Logo este governo que durante 4 anos era para cair, segundo este blogue umas 15 vezes……o povo elegeu-os novamente.

    Temos pena.

  6. Calvin says:

    Este blogue é uma valente paródia!! fumam-se valentes brocas por aqui, muita masturbação mental, aplaudem-se uns aos outros mas grande parte do que aqui é escrito não tem qualquer aderência à realidade!! Vcs estão aqui fechados e não percebem quase nada do que se vai passando aí por fora. Há uns tempos sonhavam estar aqui hoje a festejar o desemprego do Passos mas afinal discutem apenas como lhe fazer a vida negra nos próximos 2 anos. Não perceberam o Syriza, não perceberam o Costa e não percebem o país real. O país que se assustou com as filas no MB em Atenas e que não quer pensar sequer que os lunáticos da CDU ou do Bloco pudessem chegar ao governo. Coligação à esquerda?!? só me posso rir com tanta ingenuidade. o PS não é de esquerda, é do poder e serve quem lhe garanta esse poder e a CDU odeia o Bloco. O que o país votante disse ontem foi “Passos, continua lá com o teu trabalho de endireitar as contas públicas, mas agora de rédea curta para não desatares a fazer parvoíces, como aconteceu frequentemente nestes 4 anos”. Tudo o resto é ficção. governo de esquerda, formado por 3 partidos derrotados?!? larguem lá os cogumelos!!

    • Nightwish says:

      Endireitar as contas públicas não é ficção, depois de um défice de 7,2%. Santa ignorância. Continua lá a rir-te que com o orçamento dos próximos anos até choras.
      7 anos em crise é pouquinho para ignorantes, vamos a mais uns quantos a ver se aprendes economia.

    • “O que o país votante disse ontem foi “Passos, continua lá com o teu trabalho de endireitar as contas públicas, mas agora de rédea curta para não desatares a fazer parvoíces, como aconteceu frequentemente nestes 4 anos”. Tudo o resto é ficção. governo de esquerda, formado por 3 partidos derrotados?!? larguem lá os cogumelos!!”

      100% correcto! (falando em percentagens!!!)

    • Dezperado says:

      Excelente Calvin…..so não ve quem não quer ver, ou quem prefere viver no seu mundinho à parte do mundo real.

      Nightwish, 7,2% de deficit??? a sério????? afinal havia alguem a ouvir o costa…..mas pelos vistos eram poucos

  7. joao says:

    Parece que o PS que até agora nunca foi de esquerda já é para a sua esquerda um partido de esquerda. Eu sou bastante pragmático se o PS se coligar com o bloco e a cdu e conseguir que haja um governo para os próximos 4 anos… força. Agora não venham dizer que essa era a vontade do povo português. Alguém me pode dizer que se o PS fosse pré eleições com bloco e cdu iriam ter 60 por cento? E com que programa? A renegociação da divida? A saída do euro? A saída da europa? Mas enfim vamos acreditar que o PS faz um governo maioritário. Mas se o PS não conseguir fazer governo com a CDU, um governo minoritário com o bloco já é legitimo? Pois claro que sim… mas vamos lá então continuar a dizer que o que aproxima o PS do bloco e da cdu e maior do que o que aproxima do psd que já estou com saudades de ouvir o pessoal de esquerda a dizer que o ps é de esquerda

  8. Muito tudologo e troll militantes podiam aproveitar este tempo pós eleições ,para fazer uma renovação de cenário, de guarda roupa, linguagem e argumentário, aprendendo com o exemplo que os eleitores reais (não as ficções que os liiricos jornalistas e tudologos imaginam nos seus delírios) e passarem uma imagem de realismo e competência nos seus próximos escritos.
    Será que têm humildade e competência para o fazerem? a bem da saudável convivência democrática seria bom que os que gostam da linguagem do ódio se moderassem.

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