Lúcido e activo até ao fim

Esta manhã deixou-nos o meu querido amigo JJCardoso que conheci à chegada de Moçambique e me recrutou para o MRPP em 1974 durante os tempos de Liceu José Falcão. Chamou-me há meses para se esclarecer da doença que chegava e ouviu-me, no meu péssimo costume cru e frio, dizer que faltava pouco. Ele não tremeu, não vacilou e foi comigo até ao lançamento da candidatura de outro amigo – o José Manuel Pureza pelo Bloco. Sempre lúcido, sempre activo, sempre firme. Estivemos a falar da doença e da política e das ilusões futuras e dos projectos que queria acabar, sentados na Brasileira na baixa. Adeus João José. Descansa em paz! Coimbra está mais pobre sem ti! Diogo Cabrita no Facebook

Ficções

António estava feliz. Cheio de si. Finalmente. O seu sonho tinha-se realizado. Ao fim de tantos meses. Meses? Que meses? Anos! Tinha feito o telefonema. Aquele telefonema que tinha fantasiado tantas e tantas vezes. Ah! E a cerimónia, antes, tinha sido linda. A cara do Aníbal era impagável. Parecia que lhe tinham arrancado um dente a sangue frio.
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Professores: isto é para ler

Se eles estão calados, falamos NÓS.

«Em Portugal, a cultura de direita converteu-se ao pragmatismo económico

(…) abandonou completamente os livros e as bibliotecas e instalou-se nas televisões, nos jornais, nos ministérios e nos escritórios. (…) [M]ais do que uma cultura de direita, o que temos são famílias de direita. Isto é: muito sangue e pouca cultura.»
[António Guerreiro, Público, Fevereiro de 2014]

Uma verdade que os leitores do Expresso não estão a ver

No dia 25 de Junho de 2010 (ou seja, há muito tempo), o Expresso fez um anúncio. Nesse anúncio, o Expresso prometia isto, aquilo e aqueloutro. Já tínhamos percebido que as coisas não eram assim tão simples. Para que não haja dúvidas acerca da situação actual, temos o esclarecimento do director-adjunto:

vieira pereira

Exactamente: ‘espectáculo’ e ‘actuar’.

Não, o Expresso nunca adoptou o Acordo Ortográfico de 1990 — não o adoptou nem em 2013, nem em 2014. Obviamente, 2015 não iria constituir uma excepção.

Efectivamente, há um problema e a solução é muito simples.

«Seguir-se-á talvez aquilo que Costa repete:

não fará cair nenhum governo se não tiver alternativa para apresentar.»
[Uma análise de António Pinho Vargas]

Nem a chantagem dos mercados sabeis fazer, palermas!

Sapo

Perante a ameaça de a democracia não seguir o rumo pretendido pela nação pafista e se transformar naquilo a que as claques se referem como sendo o “frentismo” ou a “ditadura de esquerda”, o spin que desceu à terra para iluminar o caminho dos justos não podia ser mais claro, ameaçador e digno de rebelião: os mercados não vão perdoar. Ressuscite-se a Rede Bombista que isto já só lá vai com sangue e sedes do PCP a arder.

Ontem, para reforçar as instruções enviadas às caixas de ressonância, a coisa até correu bem: o PSI-20 a cair 2% (como se fosse preciso muito para que isso acontecesse) e os juros a subir há alguns dias (apesar de ontem até terem descido ligeiramente mas isso não interessa nada) só podiam significar uma coisa e o título do Expresso não deixava margem para dúvidas: “Acções descem e juros sobem com medo de um governo de esquerda”. Oh, o medo! O terror! Deus nos acuda que o PREC está de volta. Fujam todos carago! [Read more…]

João José Ferreira da Silva Santos Cardoso

João José Cardoso e Rui Seguro

João José Cardoso e Rui Seguro

Ponto prévio: nunca me zanguei tantas vezes com um amigo e, consequentemente, nunca nunca reatei tantas vezes uma amizade. 

Em 1977, eu, puto, decidi criar uma revista (era um modesto fanzine) de poesia e afins. Tinha quase tudo: o nome (liberatura) e a ideia (escrita apenas com minúsculas e textos curtos). Quanto ao resto, o mais importante, os autores, conhecia apenas um colega, o vítor, que escrevia umas coisas de que eu gostava. Convidei-o e passámos a ser dois. Alguém, já não sei quem, falou-me num tal Mário que escrevia uns textos. Lá fomos conhecer o dito Mário e, com ele, lançámos o número zero do liberatura. Impresso em stencil, como se fazia na época, até porque não tínhamos dinheiro para melhor.

Mas éramos poucos e o Mário (Fernandes da Costa) lembrou-se de um gajo que vivia na Ferreira Borges e que era capaz de querer participar. O gajo, sem ser preciso muito para o convencer, aceitou. Era o João José.

A partir daí, passámos a fazer praticamente tudo juntos, longas tardes de copos e tertúlia (suponho que não gostávamos da palavra na altura), dormíamos nas casas uns dos outros (principalmente na do João, que era mais central), os nossos pais aturavam-nos e alimentavam-nos a todos com doses industriais de paciência. Aumentámos o grupo, veio o Pardal, o Fernando e por aí fora, Viajámos, andávamos à boleia, acampámos, bebíamos finos e vinho ranhoso nas tascas da baixinha, íamos a filmes, aos raríssimos concertos que havia, e escrevíamos.

O João, na altura, além de literatura, interessava-se por espeleologia (que eu nem sonhava o que seria), fotografia e cinema. A espeleologia dava muito trabalho físico e ficou arrumada algures. O cinema, nos anos setenta, era-nos vedado, mas tenho ideia que ele ainda frequentou uns workshops (dizia-se curso). A fotografia, apesar de cara e difícil (os rolos, a revelação, a impressão), ficou-lhe para sempre e, anos mais tarde, vim a pedir-lhe que me ensinasse essas coisas de aberturas, tempos de exposição, diafragmas, contraluz, movimento, distância focal e etc.

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Já só pode ser adiada,

«a realidade nova que, mesmo que o PS lhe falhe», faz sorrir o cronista.
[Tiago Mota Saraiva]

«Estes são os meus princípios, e se vocês não gostarem deles … bem, tenho outros.»

A frase é atribuída a Groucho Marx mas podia ser aos mercados. Estarão «animados com a perspectiva de um governo de esquerda»? [Carlos Fino via Facebook de António Costa Santos]

Carta do Canadá: A casa da Avó

Vai um Outono doce, soalheiro, macio, sereno e lindo. Quem dera que o tempo no Canadá fosse sempre assim, mas não tarda  que chegue o severo inverno de muitos graus  negativos e gelo que, abusador, se estende até Abril.  Foi num Outono assim, há muitos anos,  que desabafei com aquele velho emigrante português o desejo de ter esta temperatura todo o ano. E ele, sábio de experiência, disse de sua justiça: “se o tempo no Canadá fosse assim todo o ano, lá em baixo já não havia ninguém… vinham todos para cá”.  Capaz disso, porque os políticos andam sempre a varrer pessoas pela fronteira fora.  Ia ruminando estes pensamentos enquanto atravessava a rua para me encontrar com a amiga de Tomar com quem ia tomar o pequeno almoço.

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Já podemos metê-los todos lá dentro?

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Idos ao ar 725 mil votos da PAF e eis que até lamber o próprio cotovelo se tornou possível

2010-01-25

Até ao dia das eleições, o programa do PS era irresponsável, traria o caos e tinha as contas mal feitas. Perante o pânico da direita, depois do golpe de mestre do PCP, eis que o impossível já é realizável. O IVA pode baixar, negociar aumento do salário mínimo e acelerar devolução da sobretaxa do IRS são medidas em cima da mesa e o plafonamento da Segurança Social deixa de ser uma vaca sagrada.

Lá se vai a credibilidade (cof, cof) do programa da PAF (existe?). E quanto não vale perder 725 mil votos, correspondendo ao segundo pior resultado de sempre da direita em Portugal – essa minoria que quer mandar na maioria.

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Proposta de Governo para a XIII Legislatura

O XX Governo Constitucional (carregue para ampliar)

O XX Governo Constitucional
(carregue para ampliar)

Postal de Wageningen #2

não quero que te preocupes

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uma vez disseste-me que se tivesses uma memória como a minha suicidavas-te. parei o copo de cerveja, mesmo antes dos lábios. era aveiro. era noite. o verão despedia-se e nós conheciamos-nos pouco a pouco, a um ritmo intermitente que combinava a minha impulsividade com o teu mau feitio. entre outras coisas, incluindo os tais desencontros de horários. éramos ambos, por razões diferentes, uma trapalhada ambulante. tínhamos bagagens muito pesadas que arrastávamos para todo o lado e só raramente largavámos das mãos e dos olhos. disseste aquilo muito seguro do que acabavas de dizer, mas como se não te lembrasses do peso do que acabavas de dizer. eu não disse nada, o copo suspenso antes da boca mas pensei que parvo. dizer-me esta merda a mim e sacudi a cabeça e bebi finalmente.

mas foi evidente que tinhas razão. uma memória enorme, a minha e pesada como o raio, que não me larga as mãos e os olhos. uma memória brutal. no entanto, ainda não me matei e tenho, sinceramente como sempre tive, dúvidas que alguma vez me suicide. dava trabalho e, na verdade, agora que morreste, restam poucas pessoas de quem goste o suficiente para lhes deixar as malas. suponho que me entendas. passaram muitas estações e acabámos por nos conhecer tanto quanto podem as pessoas conhecer-se. já sei, é sempre quase nada.

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Dedicado aos ressabiados de direita que andam por aí a estrebuchar

Fiquei por estes dias a saber, pela turba que entoa cânticos de apoio ao PàF nas redes sociais, que a possibilidade de um governo que integre CDU e BE resultaria numa ditadura de esquerda. Que se prepara um golpe de Estado. Que os mercados serão implacáveis com a heresia democrática de haver quem à esquerda do PS se perfile para encontrar soluções governativas. O apocalipse ao virar da esquina. [Read more…]

«Por que é que uma aliança pós-eleitoral entre o PSD e o CDS foi, em 2011, uma coligação

e uma aliança pós-eleitoral entre o PS, o BE e o PCP é, em 2015, uma frente?» Uma boa pergunta de Daniel Oliveira.

O socialismo

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1974: foi assim antes de Setembro, de Março e dos SUV. E em Abril de 1975 o povo votou sobretudo no PS, que era onde se dizia que estava o socialismo.

Touché, encore

quando o passos coelho se uniu ao PCP e ao Bloco para derrubar o sócrates, aí já não falaram em golpe de estado [MCS]

O João gostava disto e de vocês

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O João era um verdadeiro blogger, gostava tanto disto que por vezes deixava coisas importantes (daquelas realmente importantes) por fazer só para continuar a bombar no Aventar. E o João gostava da equipa do Aventar. Quantas vezes estava a chegar ao 007 para jantar com o João após um dia de trabalho e o João: “temos lá agora um puto no Aventar…” Havia sempre um puto novo no Aventar que fazia maravilhas para o João. Dissertava sobre as novas secções do Aventar, “olha, temos uma nova secção Hoje dá na net“, lembro-me especialmente como ficou radiante com a Rádio Aventar, que o remetia para os tempos da Rádio Universidade. Desafiou-me para entrar no Aventar e, tal como fazia com os restantes membros do Aventar, estava sempre a chagar-me para escrever novos posts. De vez em quando o João escrevia asneira da grossa. Mas o que era notável era a sua humildade. “Olha pá, ontem mandei uma argolada de todo o tamanho no Aventar“. Nunca conheci um blogger capaz de admitir o erro com a franqueza e a rapidez do João. Por vezes enviava-me mensagens muito preocupado às tantas da matina “vê se o que escrevi no meu post de hoje está correto do ponto de vista científico, estou a levar porrada de meia-noite na caixa de comentários“. Obviamente que o João tinha chatices com outros membros do Aventar, confidenciava-me o diferendo com determinado membro, mas atirava logo a seguir “a ver se reconcilio com el@ daqui a umas semanitas“.

O João é um dos meus melhores amigos. Um dos mais imperfeitos. No sábado quando peguei nestas fotografias dei por mim a soluçar descontroladamente e não consegui. Hoje isto já saiu melhor.