Liberdade de informação: ainda o caso Cofina

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(c) Shannon Stapleton/Reuters
Julho de 2011. Empregadas de hotelaria em manifestação junto ao Palácio de Justiça de Nova Iorque

Sim, “as trevas do fascismo” (designadamente o autoritarismo e a censura) pesam ainda na natureza profunda de um povo habituado a comer e a calar o que lhe estende uma elite que a democracia não conseguiu transformar em capazes representantes desse povo, antes tendo-se regenerado através dos serviços que tem prestado a todos menos a esse povo. Passados mais de 40 anos, as marcas desse tempo demasiado ainda estão presentes nos lugares mentais de todos: dos que detêm o poder, com a naturalidade perpétua de ser assim, numa sociedade fortemente desigual (herdeira de um feudalismo que prossegue determinando composições sociais que negam a mobilidade social que a democracia justamente favorece), e dos que o sofrem, pois o poder exerce-se quase sempre contra o Outro, mesmo quando se diz dele que é representativo. Trata-se de um padrão humano, que em Portugal toma a forma de característica constitutiva.

Vêm estas considerações histórico-político-filosóficas ainda a propósito do caso Correio da Manhã (CM) e da proibição decretada por um tribunal de toda e qualquer publicação relativa ao caso Sócrates no conjunto de títulos detidos pelo grupo Cofina. Considerada excessiva – entre outros por mim própria neste texto –, a medida censória choca pela aparente desproporção da sua abrangência. [Read more…]

A política no ” grau zero “.

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Virgílio Macedo tomou hoje posse como secretário de estado da administração interna do novo governo. Talvez seja uma boa desculpa para mais um ” golpe palaciano ” na Distrital do PSD do Porto.

Há cerca de 10 anos que nenhum presidente da distrital do PSD do Porto completa o seu mandato. Foi assim com Agostinho Branquinho, Marco António Costa e Virgílio Macedo. Esta é sempre uma forma de apanhar desprevenidos os seus antagonistas, não permitindo que haja tempo necessário para que possa aparecer uma alternativa política com tempo efectivo para apresentar uma candidatura credível e para fazer uma campanha séria e verdadeira junto dos 30.000 militantes do PSD no distrito do Porto.

Defendo, por várias razões, que o financiamento dos partidos deve ser exclusivamente público. Este é um passo importante para o fim da corrupção. Até agora só ganha eleições internas quem tem recursos financeiros para pagar as quotas aos ” seus ” militantes. E este dinheiro para pagar quotas de militantes de onde vem? De alguma árvore das patacas ou aparece após um toque de midas? Está provado que não se ganham eleições internas por mérito, mas ganha quem tem dinheiro. Por isso os dirigentes políticos são aqueles que conhecemos. Não se discutem ideias ou projectos, apenas prometem-se e oferecem-se ” tachos “.

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Olha a pegada

Circula pelos telejornais a notícia de que Portugal – pobre dele – é culpado de funestos prejuízos ao planeta por comer muito …peixe. Chiça, que nada nos é poupado. E nada excita tanto os noticiários e os seus aparolados jornalistas como uma qualquer agência da treta (não, não é a respeitada WWF), com um pomposo nome em inglês, proclamar qualquer suposta descoberta que, servilmente, possam transformar em verdade absoluta. Assim, piscívoros impenitentes que somos, com as nossas simples e pouco invasivas artes de pesca, promovidos ao desonroso 4º lugar entre os países europeus que maior pegada ecológica deixam sobre o nosso martirizado planeta, só nos resta, dizem eles, limitarmo-nos a “comer carapaus e cavalas”. E ceder os restantes mimos marítimos aos países ricos que, coitados, mal deixam uma pegadinha e não largam na atmosfera nem o ar rarefeito de um modesto traque.

O PCP já está a ganhar

Nunca os editoriais do Avante! foram tão lidos como agora. E citados.

Secretário de Estado do Turismo assume integrar um governo a prazo

Adolfo Mesquita Nunes, secretario de estado do turismo, Lx.

É um daqueles episódios caricatos que, não fossem os intrometidos dos jornalistas, não teria passado de um momento de confraternização entre o hoje reconduzido Secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, e o deputado socialista João Galamba. Mas, lá está, a RTP apanhou-o a jeito e a declaração fica para a história, com uma nota de honra e coragem para o centrista, que teve a capacidade de assumir que o governo hoje empossado não passa de uma mera formalidade e que se encontra literalmente a prazo. Isto, claro, caso o PS pretenda sobreviver enquanto partido. Porque se depois de todos os esforços para despachar este governo de volta para a São Caetano à Lapa e para o Caldas se lembrasse agora de recuar, suspeito que assistiríamos ao nascimento do PASOK português.

Voltando à frase do dia, disse Mesquita Nunes ao colega Galamba:

Daqui a 15 dias és tu que subirás esta escadaria.

Fonte do CDS ainda tentou dar a volta ao contexto e convencer os jornalistas de que se tratava de uma pergunta e não de uma afirmação. Em todo o caso, pergunta ou afirmação, a intervenção de Adolfo Mesquita Nunes é muito clara e ilustrativa do sentimento que se vive entre os membros do novo governo: a sua situação é precária e a queda do governo uma questão de dias. Haja alguém com consciência no meio de tantos contadores de contos para crianças.

A nova Ministra da Educação

Olá e adeus, mana.

O truque

A caricata tentativa de armadilhar os partidos da esquerda parlamentar, protagonizada pela direita reinante, falhou. Queriam os Coelheiros e os Porteiros abrir as hostilidades na Assembleia da República debatendo temas tão angustiosamente urgentes como “os compromissos internacionais de Portugal”. A manobra é tão infantil e canhestra que surpreende. A resposta foi, obviamente, de rejeição do truque e de exigência de que os futuros ex-governantes apresentem o seu programa e se deixem de fitas e tentativas de discutir programas alheios procurando brechas na aliança nascente. Porque não deixa de ser surpreendente que um governo que não é mais que uma desfalcada versão do anterior, não seja capaz, em tempo útil, de apresentar os trabalhos de casa. É mais uma prova do que valem os nossos ex e futuros ex-governantes.

Depois do estágio, o emprego de sonho

Sérgio Monteiro entusiasmado com novas funções

Assunção Cristas critica colegas de governo

“Inspirei-me em Jesus, que nunca teve medo de se meter com gente pouco recomendável”

Peter Boone, o terrorista ultraliberal que pôs a economia portuguesa de joelhos

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É hoje notícia que Peter Boone, economista, terrorista financeiro e colunista no blogue Economix do New York Times, foi constituído arguido pelo Ministério Público português por manipulação de mercado, uma acusação que remonta a 2010 e a uma série de artigos que foi escrevendo anunciando a catástrofe das finanças lusas. Enganou-se no diagnóstico? Nada disso! Até ajudou a acelerar a sua concretização. Até porque, nisto dos mercados, pouco interessa a saúde das economias e das instituições, que o digam os EUA e o Lehman Brothers. Interessa, isso sim, a voracidade da escumalha liberal que coloca países inteiros de joelhos para satisfazer a sua ambição extremista de lucros sem olhar a meios, que não se obtêm pela via da produtividade mas pela especulação terrorista. E o jihadista Peter Boone lucrou, e bem, com a nossa desgraça: um fundo de risco do qual era administrador – Salute Capital Management – lucrou cerca de 820 mil euros com a desvalorização das Obrigações do Tesouro Português numa única negociação de dívida pública. [Read more…]

Pedro Passos Coelho ataca Paulo Portas no discurso de tomada de posse

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No seu discurso de tomada de posse, o novo e aparentemente precário primeiro-ministro Pedro Passos Coelho aproveitou o momento para lançar umas farpas à direita, num ataque claro e cerrado a Paulo Portas e ao episódio de 2013, que começou com uma demissão irrevogável e terminou com Portas promovido ao recém-criado cargo de vice-primeiro-ministro:

Ninguém deve arriscar o bem-estar dos portugueses em nome de uma agenda ideológica ou de ambições políticas pessoais ou partidárias‘.

Portas arriscou o bem-estar dos portugueses em função das suas ambições políticas pessoais, da sua fome de poder para parafrasear o individuo, e Passos Coelho parece não ter ainda perdoado o responsável pela subida dos juros da dívida para a casa dos 8% e pelas perdas de 2,3 mil milhões de euros sofridas pela bolsa de valores portuguesa no Verão de 2013. Nada que não se resolva: ao que tudo indica, a próxima demissão de Portas será mesmo irrevogável.

Coisas verdadeiramente importantes

Os carros para os novos dirigentes deste governo já estão disponíveis?

Ferreira Leite ou Rui Rio: um dos dois poderá vir a ser o próximo primeiro-ministro

Estou a escrever este texto no momento em que o Presidente da República está a dar posse ao governo de Passos Coelho. Um governo que, dada a actual conjuntura política, terá um prazo de validade muito curto. Aliás ainda ontem Fernando Negrão afirmou que este governo não aceitará ficar em gestão. Estas declarações surgem no seguimento do que eu pensava sobre Pedro Passos Coelho. Eu sempre considerei que Passos Coelho não aceitaria liderar um governo de gestão.

Por outro lado é mais que conhecida a opinião de Cavaco Silva sobre um governo liderado por António Costa com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do PCP. Aliás, ainda, esta semana, o Presidente da rui_rioRepública reafirmou que não se arrependeu de nada do que disse no dia 22 de Outubro.

Neste seguimento acredito cada vez mais que teremos um novo governo de iniciativa presidencial, 35 anos depois do último de iniciativa do Presidente, Ramalho Eanes, liderado por Maria de Lourdes Pintassilgo.

Por isso, e em coerência com as opiniões que são públicas de Cavaco Silva, os nomes de Manuela Ferreira Leite e Rui Rio surgem como os mais prováveis para liderarem um governo de iniciativa do actual Presidente da República.manuela_ferreira_leite

Estes dois nomes, para além de agradarem a Cavaco Silva, não terão com certeza a oposição do PSD e António Costa não terá grande margem de manobra para contornar a nomeação de qualquer um destes nomes. É conhecida a boa relação pessoal entre Rui Rio e António Costa, bem como foi público durante a última campanha eleitoral a aproximação do líder do PS às ideias defendidas por Manuela Ferreira Leite.

Esta solução de um governo de iniciativa presidencial poderá ser fatal para Pedro Passos Coelho, sendo que entendo que a solução de Rui Rio poderá ser mesmo a morte do “ Passismo “.

D. Banca

A banca portuguesa não aprende. Depois de todos os desvarios e crimes cuja conta fica a ser paga pelos contribuintes, os bancos restantes mostram as mesmas arrogância e pesporrência com que sempre nos fustigaram o juízo, a paciência e os parcos recursos. E eis que Faria de Oliveira ousa anunciar, num alarde de humor chunga, que um governo de esquerda pode transformar Portugal em Cuba, enquanto o presidente daquele bando de parasitas do erário público que se chama BCP ousa ameaçar-nos com as mais funestas consequências se ousarmos tal solução política. Quer dizer: esta corte de carraças dos recursos públicos – sem os quais já há muito teriam falido – em vez de se recolher em discreto e silencioso recato, como seria razoável, levantam a crista e cacarejam ameaças. Estão a pedi-las. Oxalá um dia lhas dêem.