Tens a certeza que queres dar lições de honestidade ao Centeno, Passos?

ppc

Concordo com o Bruno Santos: “Se o Ministro das Finanças não mentiu, deve encerrar-se o assunto e seguir em frente. Mas se mentiu, deve sair. Um alto responsável público não pode mentir“. Tão simples quanto isto. Um alto responsável público deve ser à prova de bala, íntegro, honesto e transparente. Se quem nos governa não possui estas qualidades, estamos tramados.

E é exactamente por pensar assim que não percebo o descaramento de Pedro Passos Coelho, que por estes dias afirmou que Centeno “está muito fragilizado” porque “faltou à verdade aos portugueses”. Das duas, uma: ou o líder do PSD passou quatro anos e meio muito fragilizado na liderança do governo, o que explicaria muitas argoladas, ou não tem um pingo de vergonha na cara. Olha que a internet não perdoa, Pedro.

Passos Coelho começou a mentir aos portugueses em campanha, aldrabando o eleitorado com os já famosos contos para crianças sobre não aumentar impostos, não cortar salários e pensões ou não vender património público “como quem vende os anéis para ir buscar dinheiro”. Chegado ao poder, rapidamente ficamos a saber que tais garantias não passavam de pequenas mentiras eleitoralistas. Mas as intrujices não ficaram por aqui. Revisitemos alguns dos mais célebres momentos em que Passos Coelho “faltou à verdade aos portugueses”.

Regressemos a 2012. Como bem notou o “saudoso” Carlos Fonseca, Passos Coelho mentiu na Conferência Made In Portugal quando afirmou que o seu governo cumpria a regra de fazer nomeações, exclusivamente, com base em critérios de competência e sem atender a filiações partidárias. E disse isto apesar de ter entupido a Segurança Social de boys dos partidos então no poder. Não faltaram empregos para os rapazes, fossem eles o ex-patrão do próprio Passos ou os famosos jovens jotinhas que, com as tenras idades de 21 e 22 anos, eram já grandes especialistas para o acompanhamento do memorando da Troika. Fragilizado ou não, Passos sobreviveu, e ainda teve tempo de distribuir mais uns quantos tachos antes de ser remetido para o cargo de profeta da desgraça-mor.

Avançando até ao final de 2014, somos confrontados com um conjunto de mentiras a que Passos Coelho recorreu, no Parlamento, a propósito da polémica em torno do sua condição de deputado em regime de exclusividade. Independentemente da gravidade das mesmas, o então primeiro-ministro mentiu quatro vezes perante os parlamentares: mentiu quando disse ter optado por não receber subvenção vitalícia, já que estava legalmente impedido por ter requerido o subsídio de reintegração; mentiu ao dizer que escolheu não receber o acrescento salarial de 10% decorrente da condição de deputado em exclusividade, uma vez que já auferia um incremento de 15%, pelo facto de ser vice-presidente da bancada parlamentar do PSD; mentiu quando afirmou ter sido ilibado pela PGR, algo impossível na medida em que, dada a prescrição do crime, a PGR não tinha competências para o ilibar de coisa nenhuma; e, finalmente, mentiu quando afirmou que começou a trabalhar na Tecnoforma em 2001, apesar de ter relatado, no seu livro “Mudar”, que optou por fazer o seu curso superior enquanto trabalhava na Tecnoforma, curso esse que foi concluído em…2001. A menos que se tenha licenciado em meses, à moda do Relvas, as datas são claramente incompatíveis.

Chegados à era da Geringonça, no ano da graça de 2016, Passos Coelho mentiu sobre a Arrow Global, que contratou Maria Luís Albuquerque, ao afirmar que o fundo “não atua directamente” ou tampouco “negoceia com bancos em Portugal”. Apesar de ser público que a nova empregadora da sua ex-ministra comprou e vendeu créditos do Banif. Diogo Cavaleiro, jornalista do Jornal de Negócios, faz a mentira cair por terra.

No mesmo ano, dois meses após a mentira anterior, Passos voltou a mentir ao país. Neste caso, tratou-se de uma mentira tão estúpida e desnecessária que, durante alguns dias, o ex-primeiro transformou-se no bobo da corte. Criticando António Costa por estar presente na inauguração do Túnel do Marão, o que na realidade foi uma tentativa falhada de fragilizar o seu sucessor pela presença de José Sócrates no evento, Passos caiu no absoluto ridículo de fazer esta bela afirmação:

Mesmo que eu fosse primeiro-ministro, coisa que hoje não sou, e a obra fosse inaugurada amanhã, eu não estaria lá. Porque nunca estive em nenhuma obra de inauguração enquanto fui primeiro-ministro, nem de estradas, nem de autoestradas, nem de pontes, nem de coisa nenhuma.

A internet não perdoou e encheu-se de fotografias de Passos a cortar fitas. Genial.

Bem, a escrita já vai longa e tende a tornar-se aborrecida. Outros casos poderiam aqui ter sido enunciados, do embuste da saída limpa ao caso do Novo Banco, que não teria impacto no bolso dos portugueses. Podíamos até gastar mais algumas linhas a comentar alguns êxitos da antecessora de Centeno, como o embuste da devolução da sobretaxa ou a forma como se varreu o Banif para debaixo do tapete. Mas já temos aqui matéria suficiente para perceber que, se há pessoa que não tem moral para falar da (ainda hipotética) mentira de Centeno, essa pessoa é Pedro Passos Coelho.

Foto: Rafael Marchante/Reuters@Dinheiro Vivo

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Se a mentira pagasse imposto, Pedro Passos Coelho pagaria um IRS superior ao de António Domingues.

  2. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Muito bem. Como diz o povo: “Apanha-se mais depressa um mentioroso do que um coxo”. É oena que a imprensa deixe passar diariamente o discurso de “virgem ofendida” do PPC sem o confrontar com a sua própria prática em anos recentes. Cito ainda outro ditado: “Quem tem telhados de vidor, não atira pedras aos vizinhos”.
    Isto admitindo que Mário Centeno mentiu, algo que, na minha opinião, ainda carece de prova.

  3. Ferpin says:

    Eu também lamento a situação que o centeno se deixou enredar. Parece obvio que prometeu ao Domingues não exibir a vida no CM.
    No entanto, é repugnante ver a malta da PAF, que apoiou o aldrabão e mentiroso passos, e portas, a exibir indignação na TV por aquilo, que comparado com eles, é um insignificante fait-diver

  4. Point says:

    faltam os SWAPS da Maria Luis no parlamento na lista.

  5. José Peralta says:

    Realmente, este aldrabão repelente, é tão estúpido que até se “esquece” que a Internet é assassina…

    Não sei porquê, mas lembrei-me de uma “personagem” dos livros de banda desenhada do “Lucky Luke”…

    Os “Dalton”, perguntar-me-ão ?

    Não ! O “Rantanplan”…

  6. Paulo Só says:

    Eu acho que deviam prendê-lo, ao Centeno. Mentiu, não se sabe o quê nem para quê. Não interessa. Ninguém se interessa, nem mesmo os PSDinochios. Aguardemos as sondagens. Ou então o Presidente que dissolva a assembleia para esses gajos levarem a surra que lhes falta.

    • Deolinda Gonçalves Mattos Mendonça says:

      Era o que querias! Mas e o coelho o que pensas dele? Afinal a conversa é sobre as mentiras do pafioso.

  7. Ferreira says:

    A isto eu chamo um mentiroso “esquecido” .

    • Deolinda Gonçalves Mattos Mendonça says:

      Ainda novo e já com Alzheimer!

  8. SI MI LA RE says:

    As mentiras também são graduadas. Mentem os pais às crianças para comerem a sopa, mentem as crianças aos pais para que estes não molhem a sopa, etc, etc. O que está em causa é o grau de estrago ou prejuízo que a mentira tenha atingido. Admitindo que Centeno disse uma meia verdade ou mesmo uma mentira completa, interessa saber o grau de prejuízo que ela causou e pelos vistos foi de zero, ao contrário dos anos de mentira de PPC. Domingues e a sua equipa foram à vida , o problema foi clarificado e tudo voltou à normalidade sem prejuízo para ninguém. Este pobre País tem tantos problemas complexos e estes indivíduos da politica não sabem ir além da estrumeira . PPC está morto , mas mente mais uma vez, porque não admite, temos também a borboleta candidata que está prestes a queimar as asas. E se essa gente trabalhasse ?

  9. João Cabanas says:

    A isto chama-se como diz o JJ “cotovelite”.
    É preciso ter lata e inveja para estar a pedir a cabeça dum ECONOMISTA que sem aumentar impostos, sem fazer cortes nos ordenados e pensões, bem pelo contrário conseguiu repor algum poder de compra aos tralhadores, conseguiu dizia eu controlar o défice, ficando inclusivé abaixo das previdões iniciais !!..Mesmo que tivesse mentido, terá maior legitimidade para se manter no governo, do que teve este inútil do Passos para se manter lá 4 anos.

  10. carlos vilhena says:

    Passos coelho já se esqueceu o nos fez arrazou os portugueses com imposto e no fim ficamos na porcaria para nao dizer merda e o que este charlatao vem agora pegar em coisas que ele fez pior uma coiss deixo aqui bem claro a todos os portuguese tenhao cuidado com a ouvelha vestido com a capa do
    Lobo.

    S

  11. Mario Quintela says:

    Maakt Manos ESTE SENHOR DEVIA TER VERGONHA DE FALAR DOS OUTROS…PARA NAO FALAR DE FRAUDE ELEITORAL POIS PARA GANHAR ELEICOES FOI PRECISO ENGANAR TODOS OS PORTUGUESES PROMETENDO TUDO E MAIS ALGUMA COISA……ASSIM E FACIL GANHAR ELEICOES MAS DO QUE PROMETEU NADA CUMPRIU INCLUSIVE ANDOU A ROUBAR AOS POBRES PARA DAR AOS RICOS (EDP,PORTUGAL TELECOM,GALP ETC)ESTE SR SIM DEVIA ESTAR PRESO POR FRAUDE ELEITORAL,EU SEMPRE FUI DO PSD MAS AO APARECER ESSE SR DESISTI ,,,,,O SR COSTA ESTA A FAZER UM EXCELENTE TRABALHO ESTA A REPOR AOS POBRES O QUE ESSE SENHOR ROUBOU……E O SR MARCELO REBELO DE SOUSA E O MELHOR PRESIDENTE QUE O MUNDO JA TEVE……..POR ISSO SR PASSOS COELHO VA LAVAR A BOCA COM CRIOLINA POIS VOCE NAO PASSA DE UM PODRE.

  12. António Martins says:

    O problema actual é que muitos (é o caso do BE) vêm dizer agora que o que já passou já passou e não é oportuno ir vasculhar em assuntos encerrados nem recentemente nem num passado longínquo. Há é que olhar para a frente.
    No caso da CGD dizem uns que falar em certas coisas pode prejudicar a instituição. No entanto afirmam outros que mal seria se a CGD fosse abaixo por causa de meras tricas.

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