(Poema de Ofélia Bomba, minha colega, não de cardiologia mas de psiquiatria)
O ninho
É do azul que parto
Para o percurso único da poesia
Do azul do mar imenso
Do azul intenso
Que banha o meu país
E a minha fantasia
E segue solitário até ao infinito.
Passo pelo roxo da saudade
Nos lírios imortais de Van Gogh
Mistura de óleo e eternidade
De espanto e grito.
Passo, depois, no amarelo vivo
Dos girassóis de Julho em Portugal
E brindo à vida, ao amor cativo
Único, intemporal.
Navego no vermelho. Lume e fogo
Aurora boreal do meu percurso
Em que me perco e quase afogo
E desço à terra, ao castanho baço
Força telúrica a lembrar o curso
Do passado e do presente, num abraço.
Continuo no preto. Tinta-da-china.
Ou numa nuvem carregada de água
Na viuvez duma tarde chuvosa.
Liberto-me no branco em que assisto
À neve, à cal, aos vestidos de noiva
À bata da escola de menina
E paro p’ra pensar. Duvidosa.
Que importa se o teu olhar
É verde ou dourado
Bordado de sol ou de luar
Que importa se o teu sorriso
É um poente
Tinto de promessas quase a naufragar.
Se este poema é um caminho
Tecido de arco-íris e de asas
Onde me aventuro e ouso
E todas as cores do mundo
São o ninho
Em que eu repouso.
que bonito é este lugar de repouso