A Maria

A Maria

A Maria nunca mais apareceu.

Os olhos, vindos do outro lado do mundo, fundos de ausência, casavam o branco e o negro para dizerem o que a boca não conseguia. O nariz afilava de um só traço o rosto magro, e os cabelos errantes fugiam da testa, cada pedaço para seu lado. A pele transluzia uma imagem por detrás dos vidros, imagem baça do avesso da vida.

Uma dor subtil desenhava os lábios maduros, finamente trémulos, como se estivessem prestes a chorar. Nunca alguma lágrima por eles correu ou voou algum beijo. Apenas o cigarro acendia e consumia a sua virgindade. [Read more…]

Agora jogo eu

Não bastavam as vergonhas que foram a recepção ao Inter de Milão em Barcelona com humanóides a tocar tachos e panelas à porta do hotel durante toda a madrugada, o fogo de artíficio e os foguetes barulhentos a impedirem o sono dos adversários, os apupos a Figo, o banho que cortou a festa aos italianos após o banho que levaram os donos da casa no resultado final da eliminatória. Agora, num grupo anti-Mourinho que uns neandertais cibernéticos (têm polegar opositor,  indicador para teclar e pouco mais) criaram no Facebook, hordas de hominídeos que mal sabem soletrar (e isso porque, enfim, estamos no sec. XXI) surgem das cavernas a gritar impropérios (palavra difícil) e insultos. Contra Mourinho? Também, mas com isso pode ele bem. Insultos, e em toda a linha, contra todos os portugueses, como se todos fossemos um e Mourinho fosse todos. Um proto-neandertal com o ibérico nome de Siarhey Ilich Uliánov vem mesmo dizer “Muerte a los gitanos portugueses” para alargar um pouco mais o preconceito étnico-nacionalista. Os comentários sucedem-se em catadupa e cada actualização de página dá um salto monstruoso no avolumar do racismo e da estupidez de casta.

Até podem ter uma das equipas que melhor joga futebol no mundo. Mas, e falo apenas destes “adeptos”, em imbecilidade, parvoíce e talento natural para a burrice são muito mais capazes do que a equipa que putativamente “suportam” e não há “Mourinho” que lhes ganhe. Levem a taça que eu, a partir daqui, já não jogo mais.

Rua de Andaluz: Lisboa Arruinada


Pequeno, modesto, mas característico prédio da rua de Andaluz, na intersecção com a Duque de Loulé. Preparam-se para o demolir e substituir por um exemplar decerto idêntico ao que surge mais à esquerda na fotografia. Esta zona parece condenada à total destruição.

Prioridade ao mar – Centros náuticos

no post anterior: Os portos


Para impulsionar os desportos náuticos e a náutica de recreio e dinamizar actividades complementares (turismo de cruzeiros, ecoturismo e turismo de natureza), o projecto do Hypercluster da Economia do Mar propõe a criação de centros do mar, tais como a “Cidade Náutica do Atlântico” em Viana do Castelo – Valimar, o “Arco Ribeirinho Sul – Marina do Tejo”, entre Alcochete e o Seixal, o “Centro Náutico da Baía de Cascais”, entre Cascais e Lisboa, o “Porto do Barlavento”, entre Portimão e Lagos, as “Portas do Mar” em Ponta Delgada, ou a “Escala do Atlântico”, no Faial, Pico ou São Jorge.
Esta área exige a elaboração de um plano estratégico de localização e implantação de apoios à navegação de recreio, a dinamização da “Porta Marítima de Lisboa”, que funcionaria como um grande espaço de recepção, e um novo quadro legal relativo à construção e exploração de portos de recreio. (Prof. Ernâni Lopes e Expresso)

PSD na frente:

Hoje recebi, por mão amiga, os resultados de uma sondagem que vai ser publicada amanhã no Diário Económico e na TSF. Foi-me pedido segredo. Cumpri. Mas afinal já começou a circular. Ok, então vou publicar:

Segundo o estudo de opinião da Marktest para Diário Económico/TSF os resultados são os seguintes:

PSD 39,8
PS 34
BE 8,3
CDU 7,2
CDS 4,5

Atendimento ao público II (*)


(*) Para não ferir susceptibilidades, não coloquei no título qualquer referência ao Estado ou ao Privado. Cada um que associe como quiser.

o desapreço pelo trabalho das mulheres

a mulher trabalha fora e em casa

Esta é a imagem de uma mulher a trabalhar: elegante, bem vestida, bem penteada, espaço limpo, sem papeis no meio: uma organização no espaço de trabalho. No entanto, nem sempre é assim. Escolhi esta imagem, por ser o que se vê dentro do mundo social. No espaço privado, o trabalho do lar despenteia, cansa, até a roupa é outra, que se pode sujar com a lide doméstica, e que, por ser mulher, ela tem a obrigação de fazer. Os homens, até há pouco tempo, não colaboravam no trabalho de casa nem a mulher o permitia: era o seu domínio, sentia-o como seu dever, sem horário. Ou, por outras palavras, o trabalho doméstico era o seu horário: começava de manhã cedo e acabava no minuto em que esse, o seu espaço, espaço de família, ficava acabado.

Em vários ensaios tenho afirmado que falar de crianças é um tema difícil. Falar do trabalho da mulher, é ainda mais. Para falar de crianças, há regras, manuais, estudos especializados. Para falar do trabalho da mulher, [Read more…]

Apesar de tudo, eu gosto do Papa

E perdoo-lhe tudo.

Não está bonito nesta fotografia? [Read more…]

Reabriu o ‘Café Central’

Inúmeras cidades e vilas do País têm o seu ‘Café Central’. Sem dispensar a fotografia do fundador numa parede, é sala de visitas de forasteiros e, em simultâneo, local de convívio e cultivo social e político das personalidades mais distintas da terra. Nos tempos da ditadura, as tertúlias dividiam-se entre apoiantes e opositores do regime. Havia também grupos de gente dedicada, sobretudo, a bate-papos futebolísticos.

O ambiente político-social transformou-se e suscitou metamorfoses e arrumações dos relacionamentos entre a clientela politizada de qualquer Café Central. Sumariamente, pode dizer-se que, após alguma refrega, consagraram-se duas grandes tribos rivais: uma chamada “rosa” e outra “laranja”. A escolha de cores, ao que se dizia, era de natureza partidária; mas é questão de mero preciosismo.

O ‘Café Central’ da minha vila passou por diversas vicissitudes; fechou e acaba de iniciar a reabertura. O encerramento, por considerável intervalo de tempo, é justificado por conflitos de interesses e ambições entre as tribos “rosa” e “laranja”. Ambas perseguiam idêntico objectivo: ter uma posição de domínio sobre a rival nas mesas e nos lugares do café. Contudo, o fecho não sossegou espíritos nem trouxe maior tranquilidade à comunidade. À falta do ‘Central’, os boatos, as verdades, os ditos e contra-ditos desceram à rua e às páginas dos jornais da terra que, desgraçada, entrou numa espiral de endividamento.

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Sabem o que faz um Consultor?

Ovelha na terminologia de uma empresa internacional de consultoria

A verba para consultadoria, no Orçamento Geral do Estado, não cessa de crescer, sempre emitindo pareceres a dizer o que for preciso e o seu contrário, já viram, o governante toma uma decisão, pisa tudo o que é legitimo e razoável, mas tem lá o parecer de um senhor muito importante, a dizer que sim que aquilo é “clean”, leva uns largos milhares e ficamos todos amigos.

O caso da ESCOM e da consultoria aos submarinos dá-nos a medida do que se pode fazer com consultorias, 30 Milhões de euros, para uma empresa que sabe tanto de submarinos como eu sei de lagares de azeite. Um “project finance” a dizer que o BES é o que apresentava melhores condições e toma lá 30 milhões…

Quem não vai nisso é o compadre que guardava ovelhas no Alentejo. Chegou lá um gajo de gravata e de BMW e diz: aposto com o compadre em como sei quantos animais tem. O compadre, que não via a Maria desde manhã, e estava com os azeites, responde-lhe: Ah, sim, então dou-lhe uma ovelha se acertar. E o engravatado saca do PC, faz umas contas e diz: O compadre tem aqui 2 000 animais!

O nosso compadre teve mesmo que lhe dar a ovelha e mandou-o escolher. Quando o engravatado se ia embora, diz-lhe o compadre: Eu aposto com vocemecê em como sei qual é a sua profissão. É consultor! Chegou aqui sem ninguem o chamar, disse-me uma coisa que eu já sabia e em vez de uma ovelha, leva-me o cão!

Perceberam porque anda tanta gente a viver à grande e à francesa como consultor do Estado?

Raios Partam os Gregos

Estou cada vez mais em sintonia com o nosso governo e com alguma da nossa oposição. A nossa oposição não se ‘oposiciona’ e o nosso governo não nos governa.

E a culpa de quem é? DOS GREGOS!

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Que Notas São Estas?

Leituras para bem desligar o televisor

“O silêncio é, no processo político, uma fonte documental tão importante como o discurso. Aquilo que se esconde está em luta com aquilo que se ostenta.”
Palavras sábias, estas que o professor Adriano Moreira publicou em 1977 no entrecho de O Novíssimo Príncipe (Editorial Intervenção, Braga/Lisboa). Tenho usado o lápis para cristalizar esta e outras citações da análise que o velho tribuno fez à quase-Revolução de Abril de 1974. Estoutra, por exemplo: “A Pátria não tem processo de inocência. Reflecte todos os actos dos seus filhos.” E esta ainda: “O arrependimento não mata o gosto do proveito.”
Tenho aproveitado esta e outras leituras recentes. Quero partilhá-las convosco, referindo-vo-las. A O Príncipe de Maquiavel, juntei Kaputt e Técnica do Golpe de Estado de Curzio Malaparte. Duas boas madrugadas me bastaram para levar a cabo a leitura de O Obelisco Preto de Erich Maria Remarque. E nos próximos dias vou dar A Volta ao Mundo com Ferreira de Castro.
E então? Então, ler é preciso para que o televisor siga saudavelmente desligado. Tenho caído de mais na asneira de o ligar logo de manhã. Aos gritos caça-táxis da Júlia Pinheiro e aos saracoteios papa-reformas do Goucha, sofro (d)a comissão par(a)lamentar de “inquérito” ao caso da frustrada compra da TVI. Vi o rapaz Penedos, anafadinho e ortoépio, a ser senhordoutorado pelas e a senhordoutorar as figuras que nos deputam. (E nisto do “deputar” vêm muito os tais “filhos da Pátria” do professor Adriano, não vêm? Vêm.) Vi outra vez o Vara (curiosa homonímia do substantivo colectivo da língua-também-pátria). Vi aquele que dizem sobrinho de não sei quem Soares. Vi até desistir de olhar – embora continue vendo perfeitamente, até sem cangalhas.
A solução? Ler: Moreira, Malaparte, Remarque, Castro. O problema é a minha mulher.
Chega a casa à tardinha. Vem estafada do trabalho. Sirvo-lhe um refresco na mesinha em frente ao sofá. Ela pega no comando da televisão. Liga. E pronto. Tudo se deteriora rapidamente. Pego num livro e fecho-me no quarto em silêncio, que agora vós podereis (re)citar como vera “fonte documental tão importante como o discurso.”

Rififi na FIFA

Terá sido encomenda do Bloco Central? Será uma forma de pressão sobre as plutocráticas agências de rating?

A FIFA colocou a selecção nacional cujo apuramento foi arrancado a ferros, em 3º lugar no ranking futeboleiro mundial.

Que bom, salvou-se a Nação. No balneário já ganhámos, “somos os maiores”!

Transportes em Roma

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Lambretta, que bella!