Para Maria Lopes Abrantes, nascida ontem
Dá a impressão de ficarmos sem parte do nosso corpo e das nossas ideias ao descrever a actividade que o verbo define. Estou certo, sim, que debate não é adjectivo nem substantivo. É uma actividade exercida por todas as pessoas que têm as suas ideias de procuram trazer para si, para as suas definições, o que outra pessoa anda a pensar, agir definir. Discussão em que os intervenientes procuram trazer os assistentes à sua opinião. Normalmente acaba em uma disputa ou contenda, entendendo por contenda a diferença de opiniões sobre um mesmo assunto, ou, se conjugamos o verbo, podemos referir esta simples frase: Discutir em debate.
Bem sabemos que o debate faz parte das nossas vidas por termos diferentes opiniões sobre o agir em inter-actuaração, de forma heterogéneas e diferenciada.
A vida em sociedade, do sítio que for, pensa de forma diferente sobre o mesmo assunto. Tão diferentes, as vezes, que ou queremos impor as nossas ideias sobre os factos, os simplesmente ganhar a contenda por penar que o que vemos, ouvimos e calamos, fazem parte da nossa própria personalidade, denominada por Freud, do nosso próprio, estimando que esse ser é eu, que é superior ao eu do outro. Contenda seria, em consequência, questão; disputa; contenção, luta, guerra.
Há grupos sociais em que o debate no tem cabimento. Não falo apenas das etnias nativas estudadas por nós, falo de grupos socais iguais em classe e posses mas que opinam de forma diferente sobre como as adquirir, gerir, incrementar fazer crescer em mais-valia, como definiu Marx em 1862 e 1863, nos seus textos A teoria da mais-valia, base da formação e acumulação do capital. Sendo capital a propriedade de meios de produção, que outros trabalham para receber moeda ou salário, denominando-se assim proletários. Sobre o facto de pagar pelo trabalho, o debate é ainda maior. Bem sabemos, como tenho explicado em outros textos, que os grupos sociais que nos governam e exercem autoridades, matem um debate permanente sobre quem governa a quem e qual é a base proletária do seu lucro. Lucro ou acumulação de riquezas que apenas se trocam por mais riquezas ou em manufacturas, ou em moeda.
Todo grupo político que exerce soberania sobre nós, reclama o apoio do povo que governa. É o maior dos debates, por incluir promessas eleitorais de subida de ordenados, de baixa de imposto de adiantar a idade da reforma. Entre nós, apenas quatro grupos políticos reclamam esse ápio popular, em debate permanente sobre novas leis, sobre inovação das formas de vida, como o matrimónio ente pessoas do mesmo sexo, esse facto que tem trazido ideias revoltadas entre os que apoiam este tipo de união, os que a repelem e os que colocam este tipo de união entre grupos sociais de segunda classe.
O debate é sempre um prelúdio ao ensejo de ganhar a soberania e mandar, dividendo aos grupos sociais entre os que parecem dizer que sim as formas livres de amar, bem como um outro si as formas políticas de comandar. O debate caracteriza-se, em estes meandros, pelas palavras doces, sedutoras, prometedoras de subida do PIB ou produto interno bruto. Facto económico, que até o dia de hoje, não se tem cumprido. O nosso país recua fortemente para as crises económicas. O que aumenta é o desemprego, facto social que cada grupo político diz ser da responsabilidade de que governa, enquanto quem governa diz ser da responsabilidade dos opostos aos líderes de quem governa.
O debate dentro das etnias, quase não seria possível, por existir hierarquias sagrada que mandam e resolvem os debates com um mando esclarecido e esclarecedor, mantendo sempre as mesmas formas de agir de geração em geração. É natural que o debate existe. O meu amigo e colega, Maurice Godelier, filmou os debates entre homens de diferentes grupos, que, por não ter experiencia com a cinematografia, apenas viam aos outros, os seu opositores e o debate continuava entre os que estavam na tela e os que observavam desde o terraço em que se exibia o filme, como acontecera comigo e Berta Nunes, na aldeia Os Vales, em Alfandega da Fé. Ou com os Macfarlane e eu em São João de Monte. Foi assim que descobrimos que a melhor maneira de soltar as conversas e línguas, era mostrar uma realidade virtual, que provocava debate entre grupos filmados separadamente. Como foi o caso de Vila Ruiva em Portugal e os meus filmes sobre o seu dia-a-dia, o entre os Picunche, de Pencahue, Talca, Chile.
Debater é continuar a comunicação interrompida pelo temor às lutas e aos estalos com o confrontante presente. O filme é apenas um mediador e muitos desentendimentos ficam resolvidos.
Parece-me que Debate é uma discussão amigável entre duas ou mais pessoas que queiram apenas colocar suas ideias em questão ou discordar das demais, sempre tentando prevalecer a sua própria opinião ou sendo convencido pelas opiniões opostas.
Em geral, os debates são longos, e raramente se chega a alguma conclusão, porém, é uma prática considerada saudável onde uma pessoa pode ver vários lados de uma mesma questão.
Haveria mais a dizer, mas é cansativo para quem lê. Pensei que no Aventar ia encontrar um sítio de debate, com teoria, hipótese e prova. O não o tenho encontrado… por enquanto. Retirar textos ao autores sem se permitir usar em alternativas como livros individuais, é uma ofensa aos Direitos definidos pelas Nações Unidas. De certeza, nada deve acontecer de esta maneira e seremos capazes de entender o que o outro escreve o debate-lo, com palavras amáveis e uma boa teoria, não apenas com a teoria cultural que ironiza.
Por enquanto, é a mina ideia sobre o Debate que existe entre nós: leitura delicada, comentários sérios e não afundar ao contrário em ideias que, necessariamente, devem ser diferentes pela forma de entender a vida.
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