POR JOAQUIM QUICOLA
Boa tarde. O meu nome é Joaquim Quicola. Sou angolano. Genuíno. Nasci em Ndatalando, província do Kuanza Norte, portanto sou Kamundongo. Me pediram que vos escrevesse algumas palavras sobre mim e meu país que adoro. Serei breve.
Tenho 42 anos. Combati a Unita nas Fapla. Fui terceiro sargento e servi às ordens de um tenente pula.Pula nacional. Fui desmobilizado em 92 na sequência dos acordos. Fui na polícia durante quatro anos, mas não gostei. Muitos maus elementos. Vim para Luanda. Hoje sou segurança. Ganho 200 dólares por mês. Trabalho directo dois dias e descanso outros dois. Me trazem da empresa uma tijela de comida por dia. Mas se atrasam muito. Aí fico muitas horas sem comer e com fome a cabeça não funciona. Me vale a Cuca para esquecer essas dificuldades dessa vida. Mas quando bebo muito só complica ainda mais. Já prometeram despedir várias vezes. Eu também já prometi não beber.
A deslocação é por minha conta. Agora veja só. Eu moro lá no Dangereux. Vir no meu posto , aqui no Patriota ao pé do Benfica, fica muito distante. Esse trânsito nessa cidade de Luanda está cada vez mais impossível e gasto muito cumbu na deslocação.
A minha missão é assegurar a ordem e tranquilidades públicas numa casa onde moram uns pulas que trabalham numa empresa de construção. Tem três. O mais velho e o mais novo nasceram em Angola, mas não deixam de ser pulas. Não são genuínos. O do meio é mesmo só pula. No outro dia armaram uma maka. Afinal os pulas também não se entendem. Os mais velhos deixaram de falar com o mais novo. Esse mais kandengue é muito barroso. Não gostou de certas atitudes e ficou assim mesmo. No princípio sentavam junto na mesa para comer. Hoje nem se falam. Nem bom dia nem boa tarde. O puto é arquitecto, já lhe pedi para desenhar o meu cubicúlo lá no Dangereux. Gosto dele. Também não desgosto dos outros . Mas pulas, e vou falar com o todo o respeito a vocês que são pulas, são pulas. Muito complicados.
Vou terminar. Prometo mais mambos breve.
Saudações mano. Olho no pula arquitecto.
Hummm, sem tradução isto vai ser complicado mas aqui vão as mais cordiais saudações portistas, mano!
Oi kamba Pembele, como vai isso na Luanda meu. Um pula amigo diz que ha muita maka e falta kwuanza no bolso.
Até à próxima. Bebe umas birra por mim!
Camarada, irmão:
O meu kimbo mesmo é Camacupa, nas bandas do Kuíto, mas sou Bailundo genuíno do sangue dos outros que vieram morar aqui nessas bandas. Tem uns mambos familiares e coisas ideológicas e essa coisa da guerra com o mais velho Savimbi, kuatcha, galo negro, os manos todos dividos com a FNLA e as forças do MPLA. Hoje tem bué de minas lá na zona, estropiado, cego, e outros problemas da problemática actual. Na xitaca do mais velho e dos meus antecessores antecedentes temos medo de ir e não tem mandioca, não tem milho, não tem tomate porque talvez também tem minas. Tem pirão sem conduto e eu, kandengue, me obrigaram a fugir da guerra pra não morrer com a fome de não comer. Não sou luandense, nem kimbundo, nem bailundo, nem muíla, nem nada, sou angolano da conjuntura, pago gasosa, me pagam gasosa, a paz tardou mas chegou. Qualquer dia volto no meu kimbo, perto do Kuanza, depois de Camacupa. Angola é nossa, Angola é grande. Maka, maka mesmo já passou, agora só tem maka por causa da Cuca e da corrupção, da gasosa e de alguns desmobilizados armados. No futuro, se desminarem, você pode vir no meu Kimbo e eu vou receber bem você, camarada irmão, vamos fazer grande farra, com kissangua, peixe seco, pirão e batuque, só vai acabar às tantas.
Obrigado pela recepção papóide Moreira e papóide Fonseca, broda Pedro e meu puto Fernando.
Mas como é Nandinho, você não é português? não sabes falar a tua língua.
Mano
Tasse mal mesmo, mas cuidado não vira para o kaporroto tem muadiés a fazer aquilo de maneira que um avilo vai baikar mesmo se lhe toca
ps: tradução é dificil isto é conversa de kambas