Alastramento oceânico

alastramento oceânico

(Tentativa de resposta a uma questão do Luís, não por um especialista, como já disse, mas por um curioso como eu)

A costa oriental do continente sul-americano e a costa ocidental do continente africano, encaixam-se perfeitamente como se de duas peças de um puzzle se tratasse. Um facto que toda a gente observa. Diz o Luís que dá que pensar, e dá. Todavia, a explicação, do ponto de vista teórico, parece óbvia e interessante, e denomina-se “alastramento oceânico”. Um ovo de Colombo, que, como todos os ovos de Colombo, só se abrem na cabeça dos génios.

Com efeito, ambos os continentes estiveram unidos num continente gigante, o Gondwana, há milhares de milhões de anos, e cuja superfície deveria estar recoberta de lagos. A fractura e a separação destes dois continentes, aliás como acontece em outros, começou a dar-se pelo nascimento de uma enorme crista vulcânica, submarina, que hoje, gigantesca, desce desde a Islândia, que constitui a porção da crista que vem à superfície, até ao extremo sul. É a chamada Crista médio-atlântica, uma longa cordilheira sub-marina, que separa longitudinalmente, pelo meio do Atlântico, a África do Brasil.

Diferentemente da interessante e abandonada teoria de Wegener, o que acontece é que esta crista, esta excrescência da litosfera, está em constante crescimento, ao entumescer toda a espessura dos dez mil metros abaixo do fundo do mar, ao engordar a sua base, ao elevar as suas encostas e os seus picos, com a acumulação de nova rocha vulcânica, a qual se vai empilhando, e vai engrossando de um lado e de outro o sopé da cordilheira, empurrando, por assim dizer, a América do Sul para Ocidente e a África para Oriente. E tudo isto, imaginem (!), à velocidade do crescimento das unhas.

A comprovar esta aliciante e elegante teoria, dificilmente contestável, está o facto de que as rochas do fundo do mar mais próximas da costa do Brasil e da costa da África têm 140 milhões de anos, as rochas mais próximas da base da crista, de um lado e do outro, têm 65 milhões de anos e as rochas dos picos da cordilheira são extremamente recentes, em termos de tempo geológico.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Admirável, Adão, obrigado! Vou ler mais sobre esse assunto.Abraço


  2. Admirável Google, que nos permite passear pelas profundezas dessa cordilheira (e de outras) sem a ajuda de Jacques Cousteau, sem precisarmos de lá ir, sem precisarmos de iluminação e muito menos de vestir um escafandro!
    Só não conseguimos ver é os peixinhos…