O 11 de Setembro do ambiente

http://static.publico.pt/imagens.aspx/302914?tp=UH&db=IMAGENS&w=350Foi assim que o Presidente Obama classificou o desastre que está a ocorrer no Golfo do México. Nada será igual depois deste desastre tal como o mundo mudou com os aviões contra os edificios do World Center.

Um inferno, contam as pessoas habituadas a lidarem com furacões e a recomeçarem tudo no dia seguinte. Já tiveram derrames mas contidos, nada que se pareça com o actual que vai acabar com a sua  vida que apreciam nm lugar fantástico. O sétimo melhor lugar do mundo para a pesca desportiva cujo festival anual foi já cancelado.

Mas a o tipo de desenvolvimento económico a que estamos habituados, montados na energia proveniente do petróleo, vai cada vez mais trazer-nos problemas, até que se encontrem verdadeiras alternativas. Dizem-nos que as energias verdes não são ainda alternativas em eficiência e em preço, mas a verdade é que é dificil encontrar energia mais ineficiente que a proveniente do petróleo. Basta ver que um automóvel, precisa de pesar cerca de 2 000 kgs para transportar uma pessoa que pesa em média 70 kgs. Isto é, um carro gasta o combustível correspondente a fazer mover 2 000 kgs quando bastaria gastar o necessário para movimentar 70 kgs.

O que realmente está em equação há muitos anos são os poderosos interesses ligados ao petróleo e não a inexistência de energias alternativas provenientes de processos tecnológicos há muito conhecidos.

Infelizmente, só um desastre desta dimensão e às portas dos US poderá contribuir para a mudança de mentalidades! Será desta que a indústria vai apostar em força na energia verde?

Comments


  1. Dizem-nos que as energias verdes não são ainda alternativas em eficiência e em preço

    Na realidade ainda não são.

    A BP publicou há uns dias o seu Statistical Review of World Energy 2010 que dá uma boa panorâmica da produção de energia a nível mundial.

    Temos mais ou menos 87.5% da energia consumida é energia fóssil (gás natural, petróleo e carvão). Depois temos uns 12% em energia hidro-eléctrica e nuclear e o restante 0.5% energias renováveis (solar, geotérmica e eólica). – Este números variam conforme a fonte, mas mais ou menos dá nisto.

    Ou seja temos um grande caminho a percorrer até as energias renováveis serem algum tipo de alternativa credível (projecções mais optimistas não antes de 2030).

    Mesmo considerando que temos um crescimento exponencial das energias renováveis, há vários pontos a ter em conta:

    * As energias renováveis exigem a disponibilidade de grandes recursos – vamos ter de abdicar de muitas coisas para disponibilizar esses recursos – estou a falar de recursos energéticos, financeiros, matérias primas e instalações industriais – Temos recursos suficientes para adaptar a nossa infra-estrutura a estes novos tipos de energia? (Na minha opinião esta é a maior incógnita.)

    * Têm um impacto negativo muito maior. Por exemplo para substituir uma central a carvão de 2GW qual a área ocupada por turbinas eólicas? (lembrar que a produção eólica real é uns 15% da potência máxima indicada). – Este impactos serão admissíveis?

    * Estamos dispostos enquanto sociedade a mudar os modelos económicos e sociais (que obrigam a ter dívida e a crescimento sempre positivo) por forma a permitir as mudanças anteriores?

    mas a verdade é que é dificil encontrar energia mais ineficiente que a proveniente do petróleo. Basta ver que um automóvel, precisa de pesar cerca de 2 000 kgs para transportar uma pessoa que pesa em média 70 kgs. Isto é, um carro gasta o combustível correspondente a fazer mover 2 000 kgs quando bastaria gastar o necessário para movimentar 70 kgs.

    É uma forma de ver as coisas.Se experimentarmos a colocar um carro normal de uns 1000kg numa superfície plana, na pista de um aeroporto, por exemplo. E depois o tentarmos empurrar com as nossas mãos durante 1 km – ficam óbvias as vantagens de ter uma fonte de energia à mão… Está é uma das grandes vantagens do petróleo, armazena uma grande quantidade de energia num pequeno volume, está imediatamente disponível e temos aparelhos que fazem a conversão de forma satisfatória. – Uma chávena de chá de gasolina é suficiente para empurrar o carro durante o quilómetro (há carros que gastam um terço disto). – Julgo que se está a referir mais ao egoísmo dos homens e menos a factores de eficiência.

    Concordaria consigo se formulasse o artigo de outra forma. Eu também acho que o petróleo é ineficiente em termos de custo / benefício mas, para mim, isso deve-se ao facto do preço do petróleo não contemplar as “externalidades” associadas ao uso do mesmo, estou a falar da poluição, das alterações climáticas, de desastres como o da deepwater horizon ou do Exxon Valdez , baixa da qualidade de vida por termos as cidades atravancadas de carros, guerras travadas em países distantes, etc…

    Infelizmente estes custos não são directos pelo que na prática são invisíveis para quase toda a gente, apesar de serem bem reais.

    O que realmente está em equação há muitos anos são os poderosos interesses ligados ao petróleo e não a inexistência de energias alternativas provenientes de processos tecnológicos há muito conhecidos.

    Não creio que essas tecnologias existam…

    Também não acredito em teorias da conspiração pelo simples motivo de não acreditar que os governantes e de uma forma geral as pessoas que mandam nas economias terem a coordenação entre eles e a inteligência necessária para levarem a cabo esquemas de tal magnitude. Façam a análise dos nossos políticos e empresários e digam se são possíveis esquemas desses. Além disto, se fossem assim tão coordenados (os poderes deste mundo) de certeza que chegariam à conclusão que os ganhos potenciais para eles serão muito maiores se a sociedade onde vivem tiver sucesso a longo prazo, em vez disso o que vemos é a perseguição do lucro fácil e rápido. Isto não é forma de agir para conspiradores internacionais.

    Já ouvi o nosso PR a dizer asneiras sobre a utilização de hidrogénio, ou o PM em intervenções não muito mais brilhantes, veja o debate quinzenal no parlamento sobre energia feito em 11 de Abril de 2008 – terá tb oportunidade de ouvir o resto do espectro político a dizer bacoradas sobre estes assuntos…

    Eu não gosto de citar casos anedóticos para fazer comparações (falha sempre alguma coisa). Mas veja a triste situação deste simulacro de país em que vivemos. Durante pelo menos 30 anos privilegiámos uma forma fácil de fazer dinheiro: betão. Como a via do betão sempre foi o melhor negócio no país, não é de admirar que não se tenha investido noutros negócios. Não é à toa que não temos empresas de projecção verdadeiramente mundial em Portugal, para quê ter trabalho a ir ganhar dinheiro à América e Japão, se pudemos ganhar cá, principescamente, fazendo estradas…

    O que se passou é que os combustíveis fósseis são fáceis de extrair, digamos que dão mais bang for the buck do que as outras formas de energia, logo não houve incentivo para procurar outros caminhos.

    Será desta que a indústria vai apostar em força na energia verde?

    Não creio (e espero estar enganado). Julgo que vamos ter as próximas décadas ainda mais atribuladas do que esta que está a acabar. Julgo que o ciclo económico se vai acelerar, resultando dai recessões quase pegadas umas às outras. E julgo que as pessoas se vão agarrar ao seu way of life até à última instância. Quando houver fome, nessa altura, deveremos ter mudanças mais rápidas.

    Entretanto vamos (mundo ocidental) continuar a travar a nossa luta pela sobrevivência bem longe da vista da maior parte das pessoas, seja no Equador, seja na Nigéria ou mesmo no Canadá, para já não falar em lutas mais quentes noutros sítios do mundo…

  2. Luis Moreira says:

    Meu caro, se não tivessemos passado do carro puxado a cavalo para o automóvel não teríamos as cidades gigantescas de hoje, e nessa altura, o Jonh Ford dizia que os seus melhores clientes eram os seus empregados porque eram dos poucos que ganhavam o suficiente para lhe comprar um carro. O engenheiro da IBM que construiu um computador a partir da máquina de calcular julgava que ía vender 5 computadores, até que o Bill Gates percebeu que podia colocar um PC em cima de cada uma das nossas secretárias. Se os vai-vem da Nasa pesassem, na proporção do carro, não subiam 100 metros de altura. A questão é que esta forma de progresso tem que mudar e já está a mudar. 50% das pessoas que se deslocam de casa para o emprego já não precisam de o fazer, podem trabalhar a partir de casa. As tecnologias há muito que são dominadas só é preciso fazer a “industrialização” e aí ,sim, há muito interesse em jogo.

  3. António Soares says:

    …A pensar dessa maneira,temos ainda muito petróleo para beber,e, pelo que vejo,ainda vamos nadar nele…nem com estes sinais,vemos o túnel,onde estamos meter-nos?!Tirem as palas dos lados dos olhos…


  4. P/ Luís Moreira: o que eu estou a dizer é que não temos recursos para fazer essa industrialização. Além disto ainda não temos um substituto com a densidade de energia e portabilidade que os combustíveis fósseis proporcionam. Isto, tanto quanto posso aferir, é facto.

    É claro que poderá haver uma revolução tecnológica, como foi o aparecimento do motor a vapor, ou a revolução verde da segunda metade do século XX – mas isto é por enquanto uma incógnita.

    P/ António Soares: não tenha dúvidas que vai ter muito petróleo para beber, e garanto que tenho os olhos bem destapados. Há uma experiência engraçada que se pode fazer, tente enumerar os objectos à sua volta onde não foram usados combustíveis fósseis na sua manufactura, como matéria prima ou no seu transporte…

    Eu compreendo a vossa ânsia e a necessidade de mudar só não vejo uma forma prática de o fazer sem sofrimento. Foi isto que falei no meu primeiro post.

    Outro problema é a nossa falta de recursos. A adaptação massiva de toda a nossa infraestrutura vai custar dezenas de biliões de euros (biliões Europeus, com 12 zeros). Onde é que é suposto irmos buscar esse tipo de recursos, mantendo uma economia saudável com as instituições a funcionar? Se não quiserem pensar em dinheiro, pode-se pensar em energia, ou toneladas de aço ou horas/homem. O processo de transição vai ser muito complicado (na realidade, muitos dos problemas actuais do mundo podem ser explicados pelo inicio desse processo de transição).

    Julgo mesmo que invocar essa coisa a que chamam “os interesses” (entidades difusas e mal definidas) é pernicioso para a discussão dado esconder a verdadeira profundidade do problema com que nos debatemos. É claro que há mesquinhez por parte da industria da energia, dos políticos, etc mas são tudo interesses largamente irrelevantes face à magnitude do problema.

    Estes factos não são motivo para baixarmos os braços e deixarmos de fazer o que achamos que é correcto, penso isso sim que para atacar um problema convém saber o que se passa realmente e não confiar em generalidades imprecisas.

    Só para acabar. Imaginem que eram o presidente dos EUA, ou um membro da família Rothschild ou Rockefeller, ou enfim, imaginem que eram alguém com alguma medida de poder neste mundo. Quais eram as medidas concretas que tomavam para mudar a situação?

    • Luís Moreira says:

      A inércia explica muito deste problema. Os combustíveis fósseis estão a 30 anos do fim da exploração económica, são cada vez mais caros, com mais perigos…


  5. É claro que esta matéria dá para conversas intermináveis.

    Em relação à eficiência é também necessário termos em conta o Paradoxo de Jevons

  6. António Soares says:

    …Helder,as (palas),quem as tem que tirar,são os senhores do mundo,nós somos apenas,os pagantes,por tabela dessa ganancia,sem controle, de quem pode ou devia poder controlar…mas como é tudo petroleo
    do mesmo barril…

Trackbacks


  1. […] O desastre continua, imparável, sem solução à vista. Agora a BP estima que o poço possa derramar 100 000 barris/dia o que contraria as previsões mais optimistas do passado, após as medidas já tomadas! […]