“Sol ou 24horas, é tudo a mesma coisa”

O debate já ai animado quando me sentei numa mesa junto deles. ‘Eles’ são sete ou oito comensais. Amigos de longa data, percebia-se pela desenvoltura com que conversaram. Ali não havia conversa da treta, era coisa levada a sério por quem já está ambientado.

O tema da conversa era, no momento em que me sentei ali perto, o Mundial de futebol. Em poucos minutos, talvez menos de um minuto, o grupo saltou do polvo alemão para a rainha de Espanha que foi ao balneário da ‘roja’, até à capacidade da Holanda poder vencer o encontro da final, aterrando na polémica em redor das declarações “verdadeiras”, na certeza do jornalista, ou “mentirosas”, na versão do entrevistado, de Carlos Queiroz ao jornal Sol.

Os compinchas também aqui não pararam muito tempo, mantendo a velocidade vertiginosa de quem despacha assuntos como em Portugal se elaboram leis. Neste ponto, o tema central nem sequer foi o teor das (alegadas) declarações do seleccionador. A substância não era para ali chamada. A forma é que os reteve. Um dos elementos, dos mais prolíficos a soltar ditames, atirou: “O Queiroz já desmentiu isso. Foi o 24horas que mandou uma notícia… Oh!”. Ao longo, mais cauteloso, um outro elemento encolhe os ombros e faz cara de desconfiado. Um terceiro assinala: “Não foi o 24horas, foi o Sol”. O primeiro não desarmou: “Sol ou 24horas, é tudo a mesma coisa”.

Neste ponto decidi desligar. O grupo, com vontade de se fazer escutar, continuava a falar alto. Eu é que deixei de os ouvir.
Para além do disparate de comparar jornais incomparáveis, como o 24horas (que até já fechou há mais de duas semanas) e o Sol, o que mais me intrigou foi a capacidade de apreensão da informação, da forma como acaba por ser assimilada e debatida. Um grupo de engravatados, com ar de engenheiros e doutores, não foi, em parte, capaz de apreender devidamente a informação que lhes chegou e, pior, saltaram de assunto em assunto com a sensibilidade de um elefante a saltar de nenúfar para nenúfar. Com pompa mas sem delicadeza.
Num momento em que uma enorme quantidade de informação nos chega por várias fontes, será que estamos a ter o tempo suficiente para a contextualizar e assimilar? Parece que não.

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