O espírito com que escrevi o texto ‘A TVI que os sustente!’ era de esperança. No fundo, o ânimo de que as saídas de José Alberto Carvalho, Judite de Sousa e da menos mediática Maria José Nunes, da RTP para a TVI, tivessem o efeito de despertar consciências adormecidas. Precisamente de quem tem a missão de zelar pela aplicação de dinheiros públicos; caso, diga-se, do Secretário de Estado da Comunicação Social, Arons de Carvalho.
Todavia, com este e outros elementos do actual Governo a esperança de uma boa prática, uma que seja, esboroa-se em segundos. E assim, de súbito, foram contratar Nuno Santos da SIC para o cargo de Director de Informação da RTP, sob protesto da Comissão de Trabalhadores – o comunicado desta refere ter havido um voto de falta de confiança nos 400 jornalistas da casa, número que, em boa verdade, também me impressionou pelo exagero e possíveis custos associados.
Pessoalmente, é-me indiferente que um Nuno qualquer, chame-se Santos ou Pecador, aufira chorudo ordenado. O que, de facto, considero ignominioso é a TV estatal, em tempo de sacrifícios lançados sobre milhões de portugueses, ter o despudor de realizar contratações milionárias. E mais ainda, como salientou oportunamente o meu companheiro Helder Guerreiro, a RTP está em falência técnica desde 1996 e assim continua em 2010.
Para quem tenha interesse – e paciência – de se inteirar dos pormenores da catástrofe, aconselho a leitura, mesmo que breve, das páginas 56 a 60 do Relatório e Contas da RTP de 2009. Desta publicação, destaco os seguintes dados:
- Do total dos Proveitos Operacionais, 307,5 M de euros (M €), a parte maioritária de 77,14% (237,2 M €) é proveniente de Fundos Públicos, sendo os restantes 22,86% (70,3 M €) gerados por Receitas Comerciais;
- Os Custos com o Pessoal atingiram 113 M €, ou seja, 38,37% do total anual dos Custos Operacionais (294,5 M €);
- A Dívida Bancária ascendia a 807,9 M € – certamente avalizada pelo Estado Português;
- Os Capitais Próprios eram fortemente negativos (- 592,0 M €), o que traduzia a situação de falência técnica antes citada.
Creio que, em 2010 e mesmo já em 2011, a situação económica e financeira da RTP permanece grave. Se for privatizada em 2013, como admitiu em tempos o ministro Teixeira dos Santos, essa situação será alvo de saneamento prévio. Com dinheiros públicos, elimina-se a gordura do monstro. Depois haverá clientes, de certeza.
Pela minha parte, defendo a existência de uma TV pública, opção que na Europa nem é nada original; mas, simultaneamente sou a favor da demolição desta RTP do nosso desperdício e da sua transformação em outra à escala daquilo que o País pode ter e pagar.
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