Greve, finalmente

Confesso que ansiava pelo dia de hoje, com o sector dos transportes a fazer greve. É que já estava farto das cíclicas greves do pessoal das obras, da agricultura, da banca, das pescas, dos supermercados, das padarias, dos jardineiros, dos operadores de máquinas e de toda esse gente que usa e abusa da sua condição de emprego seguro e estável para fazer greve.

É isto que tem acontecido, não é?

Comments

  1. Nightwish says:

    Emprego seguro e estável nos transportes?
    Sabe porque é a greve ou está a fazer de conta? (independentemente de concordar ou não com ela).

    • jorge fliscorno says:

      Ah pois é, tem razão, estas greves ainda não estavam anunciadas antes dessa coisa chamada plano dos transportes. E nem têm existido todos os anos e várias vezes ao ano.

  2. J. Vasconcelos says:

    Como se sabe, o “pessoal das obras, da agricultura, […] das pescas, dos supermercados, das padarias” poucas greves fazem porque gozam de excelentes condições laborais. São. aliás, empregos que atraem anualmente milhares de jovens licenciados que, desiludidos com a sua formação superior, abraçam essas funções pelas inúmeras regalias que lhes proporcionam.

    • jorge fliscorno says:

      Em em forma de solidariedade, os outros fazem greves por eles. Boa.

  3. Catarina says:

    O facto de quem vive em extrema precariedade não fazer greve, não retira o direito àqueles que podem de manifestar-se de o fazerem. Quem cala consente. Se o Jorge está feliz com o rumo que isto leva, óptimo para si. Quem não está, pode e deve mostrar o seu descontentamento. Quanto à frequência com que há greves nos transportes isso deve-se ao facto da campanha de destruição do sector estar em marcha há muitos anos. Não tem parado desde que o Cavaco decidiu fechar 800km de linhas férreas e alcatroar o país. Hoje estamos aqui: o único país da Europa que perdeu passageiros ferroviários em 20 anos. Perdeu 40% sendo que o segundo pior desta lista ganhou 30%. O primeiro lugar da lista é ocupado pelos nossos vizinhos que ganharam 157% (tinham menos passageiros que Portugal nessa altura). A culpa disto tudo claro, só pode ser dos trabalhadores, esses grandes malandros que com os seus salários chorudos acumularam défices de milhares de milhões de euros. Por esta ordem de ideias os magnatas deste país devem ser aqueles senhores que andam a alcatroar estradas, basta ver a dívida acumulada da Estradas de Portugal.

    • Excelente comentário!

       

      Não tenho muito a acrescentar, desejo apenas demonstrar a importância dos transportes colectivos e do transporte de mercadorias por caminho de ferro: consumimos em média 272181 barris de petróleo por dia, queimamos quase 8 mil milhões USD por ano (usando um preço médio de 80USD/barril). Isto devido às políticas seguidas pelos nossos governos, sempre cheios de pessoas muito competentes.

       

      Por isso, e tendo em conta que as reivindicações são em regra perfeitamente razoáveis, tenho de concordar com estas greves.

      • Catarina says:

        Esqueci-me de mencionar uma coisa: o responsável pelo grupo de trabalho que está a estudar a reestruturação dos transportes, Pedro Almeida Gonçalves (ex-administrador do Metro de Lisboa e depois disso presidente da Soares da Costa durante vários anos) quando saiu da Soares da Costa chegou a ser dado como futuro para presidente da GALP. Entretanto aceitou este cargo do grupo de trabalho, pelo qual não está a ser remunerado, alegando que o país precisa de nós.
        Mais palavras para quê?

        • jorge fliscorno says:

          Mais uma vez concordo com o seu diagnóstico. Mas não têm sido o fim destas situações o que tem acabado com as greves.

          • Catarina says:

            Caro: O que os media divulgam é uma coisa; o que move as greves é outra. O Jorge sabe bem que a imprensa tem dono e esse dono tem agenda. Para conhecer os motivos da greve pode ver por exemplo: http://www.fectrans.net/images/informacao/Comunicado%20PopulacaoNov2011.pdf
            Para ter uma ideia sobre os transportes públicos, tire lá uns minutos e veja estes vídeos (se ainda não os viu pois até foram divulgados no Aventar):
            http://www.youtube.com/watch?v=pnKLHXuvDa0
            http://www.youtube.com/watch?v=lrZb49dvXZg&feature=player_embedded

            Reconheço que a greve não é a melhor forma de luta pois atinge de forma diferenciada quem mais depende dos transportes. Só que eu já tenho pensado em como contornar isto e não há volta a dar. É como a democracia, tem os seus defeitos mas até agora não se inventou melhor.

          • jorge fliscorno says:

            Obrigado pela sua opinião, Catarina. Vejo-me condenado a concordar sempre consigo, embora discordando 🙂 Conheço este vídeo, pois claro. E sei muito bem, até na pele, o que é a agenda dos media e o que é a realidade. Mas que hei-de dizer quando os que fazem greve são sempre os mesmos? E nem sequer é preciso partir do princípio que só os precários os de baixas habilitações é que não fazem greve. Veja as profissões de elevada qualificação no privado.

    • jorge fliscorno says:

      Tudo muito certo e não podia concordar mais. Um detalhe: quais têm sido as reivindicações nas diversas greves dos transportes e quais têm sido os motivos que têm levado à respectiva suspensão?

      É ou não um facto que sempre que houve aumento salarial, a greve foi suspensa? Acho que o cenário que descreve não tem muito a ver com isto.

      • Catarina says:

        Jorge: Respondo aqui porque não consigo responder ao seu comentário acima onde pergunta porque não fazem greve as profissões de elevada qualificação no privado. Antes de responder deixe-me agradecer ter-me divertido nesta altura em que só me apetece apertar o papo a umas pessoas, em particular a umas que estão a pensar fechar o metro às 23h 🙂 Voltando à resposta: Não fazem greve porque não precisam; são bem pagos !! Todas as pessoas que conheço que têm cargos de “técnico superior” no sector privado ganham bem mais que o equivalente no público. E não falo só de médicos, falo de economistas, engenheiros, gestores, advogados…

        • Porque nao mudam as pessoas do publico para o privado se no privado ha’ melhores condicoes e melhores ordenados?

          E se fossem bem pagos e as coisas funcionassem bem no ‘mercado de trabalho privado Portugues’ nao haveria o ‘brain drain’ que existe…

          Tambem posso dizer que todas as pessoas que conhec,o no publico trabalham menos e pior do que no privado, principal motivo: Cultura generalizada de /nao ha’ qualquer tipo de incentivo para trabalhar mais e/ou melhor’. Antes pelo contrario. Quem procura ser mais exigente consigo e com os outros, e’ pressionado para se deixar de ‘maluqueiras’…

          No meu contrato, posso ser despedido a bel prazer do meu empregador, com ou sem justificacao. – Nao tenho problema nenhum com isso.. A minha atitude e performance no trabalho e’ toda a ‘seguranca’ que preciso.

          Miguel Sousa Filipe
          Formado pelo IST (LEIC), a viver (e a trabalhar) em Seattle.

          • Catarina says:

            Miguel, lamento que só conheça imbecis no sector público em Portugal e só conheça competentes árduos trabalhadores no sector privado. Pergunta porque muitas pessoas não mudam? Porque nem todas as áreas têm funções equivalentes (polícia ou delegado do ministério público; professor investigador; maquinista…), porque há pessoas que acreditam que podem fazer a diferença na sua área (não são todos mercenários). Se o Miguel adoecer em Portugal, com uma daquelas doenças que precisa de vários especialistas para ser diagnosticada e tratada, acorrerá ao sector público quase de certeza. Não conheço ninguém com uma situação clínica destas que tenha permanecido muito tempo no privado. Despeço-me com votos de saúde!

          • Parabéns por te teres safo ao mundo Dilbert do privado. Eu pelo meu lado, assisto a demonstrações de incompetência tão grandes no público como no privado (em vários países). Penso que erramos em fazer juízos de eficiência usando a dicotomia público/privado, na minha opinião uma variável muito mais importante é o tamanho da organização, a ineficiência aumenta na proporção directa do tamanho da organização.

            Depois, neste momento, podes-te sentir no topo do mundo e confiares a 110% nas tuas capacidades, mas as circunstâncias mudam, penso que devemos dar alguma protecção às pessoas que dela necessitem.

            Li algures que a maior parte dos engenheiros nos EUA com mais de 50 anos estão desempregados ou sub-empregados.

            O que é melhor? Termos engenheiros experientes, mas caros, desempregados, ou organizações “lean and mean“? Penso que necessitamos de equilíbrio.

  4. Cada vez mais penso que, o prejuízo que as greves causam, nomeadamente as greves na área dos transportes, as quais são constantes, deveriam ser cobrado a quem participa nestas acções.
    Estamos sempre a falar nos direitos…nos direitos…e nos direitos. No entanto…pouco se fala nos deveres. Estes senhores estão sempre a pensar nos seus direitos, acima de tudo, “no direito à greve”…e a maioria deles, deveria de ter vergonha na cara, olhando para aquilo que ainda é o seu ordenado, as horas que fazem…e as regalias que têm. Andamos todos nós a pagar os milhões de prejuízo que as empresas onde trabalham dão, e ainda temos de ser penalizados com os danos que causam às nossas vidas, muitas vezes colocando em causa o ganha pão de milhares de portugueses. Geralmente quem faz greve…não são os mais desprotegidos e com menos regalias…são os que estão de barriga cheia. Temos o país a finar-se…mas é com pessoas desta mentalidade que lhe faremos o enterro. Para mim, uma grande parte das pessoas que passa a vida a fazer greve, usufruindo de um rendimento bastante superior ao da maioria dos portugueses, tinham o direi a…ser despedidas. Eu quero…quero…quero…seja a que custo for…mas eu não estou para dar…nem que seja com pouco esforço. Por estes…pagam muitos, assim como pagarão as gerações futuras.

  5. Aqui na minha terra ninguém aderiu à greve, se calhar é por não existirem transportes públicos …

    • Pisca says:

      Devem estar todos de barriga cheia, tal como o João Azevedo

      • Claro. Bem visto . Como somos todos ricos aqui na zona, os transportes públicos são coisa supérflua. Deus o perdoe pelo comentário …

  6. Ricardo Santos Pinto says:

    Como seria bom o mundo, meu caro Jorge, se ninguém tivesse possibilidades práticas de fazer greve. Como seria bom o mundo se ninguém tivesse emprego seguro e estável.

    • jorge fliscorno says:

      Tenho bem presente o que as greves, num determinado período na História, proporcionaram. Mas quantas greves já fez a CP este ano? Quantas fez no ano passado? Aliás, quantas costuma fazer por ano? E com que objectivos?

      • Catarina says:

        Jorge: a CP fez bastantes greves no início do ano, é verdade, mas não tantas quanto se divulga por aí. Quem anda de comboio sabe isso. Já lhe passou pela cabeça que empresas EPE que quase não tiveram greves tenham desrespeitado a lei do orçamento de 2011? E já pensou que poderá haver intenção de prolongar o conflito para que a população diabolize os trabalhadores e aceite tranquila subidas exponenciais de preços; diminuição dos serviços; privatizações e extinções de serviços públicos. Enfim, aquelas coisas que andam por ái nos jornais estes dias…

  7. Ricardo Santos Pinto says:

    Os objectivos são óbvios, Jorge, e do ponto de vista dos trabalhadores são os correctos. Cada sindicato luta pelos direitos dos seus associados. Parece-me justo.

    • jorge fliscorno says:

      E a mim também me parece justo. Mas porque não acontece o mesmo nas outras profissões? Fala-se de uma greve e logo se pode pensar em empresas públicas e Estado.

  8. hugo says:

    Só não percebo porque não aderem a greve os desempregados e trabalham, vou-me despedir do meu emprego de agricultor só para poder participar na próxima greve dos transportes e conduzir um cacilheiro.

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