Medidas Anti-crise: Eliminação dos Subsídios de Férias e de Natal

Este governo (e os governos anteriores) mostra uma aversão incompreensível à tomada de decisões que tenham impactos económicos visíveis. O mesmo pudor é aparente em relação a medidas que melhorem a máquina do estado, ou que enfraqueçam os interesses instalados. Parece que têm também preguiça em desenhar e implementar medidas. O amigo Álvaro parece sofrer muito deste torpor.

A lista de medidas anti-crise é longa e cheia de insucessos. Desde 2008 são tomadas medidas torpes, muitas vezes contra a própria economia. Parece ainda pensar-se que temos hipóteses de competir via o abaixamento dos salários, como se estivéssemos numa corrida para ver que consegue ser mais miserável e como se tivéssemos alguma hipótese de ganhar essa corrida.

Uma medida muito simples que o governo podia tomar, com grande impacto económico, seria a eliminação pura e simples dos subsídios de férias e Natal. Obviamente que isso não implicaria o abaixamento dos salários, simplesmente aumentava-se em um sexto o salário mensal médio (será o mesmo que pegar no salário bruto e dividir por doze para obter o salário mensal, em vez de 14 como agora fazemos) e deixava-se de pagar os subsídios. O trabalhador não perdia um tostão.

 

Em teoria, todos os meses, as empresas deveriam provisionar uma importância equivalente a um sexto dos salários para o pagamento dos subsídios no fim de cada semestre. Na prática, devido aos problemas crónicos de tesouraria que as empresas nacionais enfrentam, isso não é feito. O resultado óbvio é as empresas terem problemas gravíssimos quando é altura de pagar os subsídios. Se estes fossem eliminados esses problemas desapareciam e simplificava-se a vida às empresas.

Para o lado do trabalhador esta medida também seria benéfica. Em primeiro lugar o trabalhador deixa de depender da entidade patronal para a gestão do seu próprio dinheiro. Depois iria ter o salário imediatamente disponível em vez de ter de estar à espera dos subsídios (sendo muitas vezes obrigado a pedir adiantamentos ou pior, recorrer ao crédito pessoal com taxas de juro surreais).

Há também um aspecto a ter em conta, que em termos individuais não tem grande importância, mas que em termos globais assume um valor elevado que tem consequências económicas. O facto das empresas reterem um sexto do salário todos os meses e de não pagarem juro sobre esse dinheiro resulta numa perda para o trabalhador (é fácil de ver, se o juro for 4% ao ano, a empresa fica a dever 1.7% de um salário na forma de juro não pago, todos os anos). Este dinheiro é uma dívida que nunca ninguém fala. Experimentem ficar a dever 1.7% de um qualquer empréstimo que tenham numa instituição de crédito…

Comments

  1. Nightwish says:

    Não se preocupe, o mais certo é mesmo deixarem de existir quando for renegociado o acordo com os ocupantes.

  2. A ação faz parte de fazermos das coisas acontecerem. Penso muitas vezes que, se as coisas fossem tão graves, porque é que não agimos? Chamo a minha geração de revolucionários comodistas. será só a minha?

  3. desde 1972 que são feitas medidas contra a economia que ela tenha aguentado até aqui é milagre de fatinha de certeza

    há empresas fora do estado com crédito…milagre

    há empresas a pagarem 14 meses fora da estado-dependência?

    devem ser das que receberam a pronto

    aqui vão falir 35 no próximo mês (6 de camionage pela greve da estiva) 3 porque não cumpriram os prazos de entrega e já estavam mal antes da greve da estiva…4 porque vão para espanha…2 porque se mudam para Leixões…as outras acho qué porque as finanças as catrafiaram e uma foi como aquele do CDS que se finou …actividade cerebral do patronato nula após uns tempos comatosos

    é um patronato velho e reaça….adeviamos assaltar-lhes as casas…há um aí ópé do colégio moderno façam a rebolução na casa dele

  4. A economia nacional também vive dos gastos. Aqueles que recebem menos salário e menos subsídios de férias, vão gastar menos, logo o sector terciário (comércio e serviços) é o primeiro a sentir a crise, porque as pessoas vão tentar poupar np que não é essencial para a sua sobrevivência. O pior é que este sector da economia dinamizou-se muito nas últimas décadas e criou muito emprego…
    A poupança nos salários, em vez de criar riqueza pode aumentar a pobreza, devido ao desemprego e á precaridade das pequenas e médias empresas comerciais…

  5. Já antes comentei (creio que aqui no Aventar) algo sobre este assunto dos 12 meses / 14 meses.
    Se os “gestores” não conseguem, mesmo podendo reter o tal sexto dos salários (que até rende juros), pagar em condições, como vão conseguir pagar os 12? Eu respondo-lhe como: pagando 12, mas sem o tal sexto a mais.
    O resultado final seria inevitavelmente esse. Possivelmente não para os que já estão contratados, mas a partir daí, a fasquia descia logo. Em vez de oferecerem 450€ x 14, passavam a oferecer 450€ x 12. Só.

  6. #5

    A questão que coloca pode-se aplicar a qualquer medida. Temos uma lei que obriga a pagar 14 x ano. A nova lei apenas teria de dizer que não haveria abaixamento do salário anual.

    É evidente que os nossos “gestores”, preferem seguir o caminho fácil tentando competir pelo abaixamento de salários (e os sucessivos governos têm-lhes feito a vontade, incluindo este último).

  7. Helder Guerreiro,

    Pois, a nova lei diria que não haveria abaixamento de salário anual. Foi como eu disse, os contratos que já estão, vá, se não fossem entretanto despedidos ao abrigo das novas “subjectividades” que estão aí à porta, ainda concedo que se mantivessem pelo mesmo salário anual. Mas qualquer novo contrato seria feito obviamente por baixo. E a pressão (que já existe) para o salário baixar seria ainda maior. Resultado prático: daqui a pouco tempo, a regra seria 12 x salário baixo. É por isto que essa ideia não me parece muito boa. Por isso, e porque sinceramente acho um falso problema essa questão. Se uma empresa tem dificuldades em pagar os subsídios, é porque não tratou de contabilizar devidamente os mesmos ao longo do ano. É claro, eu percebo que com tantas dificuldades, a tentação, e muitas vezes a necessidade absoluta, é de usar todo o dinheiro disponível, e mesmo esse não chega. Mas o problema é ESSE, ou as causas disso, e não a obrigatoriedade de salvaguardar o dinheiro para pagar depois nos subsídios. O problema não são os subsídios, ou constrangimentos de tesouraria nos meses correspondentes, ou o que lhe queiram chamar. Se o dinheiro falta, vai faltar para pagar os salários mais altos mensalmente. Se não falta, e os subsídios são complicados, é porque não se cuidou de salvaguardar esse dinheiro. Mudar de 14 para 12 meses não vai resolver nada disso.

  8. Offtopic: Só pra ver se aquele monstrengo horrível deixa de aparecer, agora que já subscrevi um gravatar …

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