Carta do Canadá: A Sobremesa Americana

Fernanda Leitão 

O prémio Nobel, depois de lhe terem aposto as insígnias doutorais de três universidades, desabafou, entre naif e apardalado, que nunca tinha tido tantas coisas penduradas no pescoço ao mesmo tempo.Ninguém o avisou que Portugal é a pátria do oito ou oitenta. Depois, no silêncio do seu quarto de hotel,  Paul Krugman escreveu para o New York Times uma prosa datada de Lisboa.

Prosa desencantada que começa “por aqui as coisas estão terríveis”, estende a lista do desemprego alarmante, da economia que não cresce, da classe média esmagada e vestindo o estatuto de novos pobres, da recessão garantida, da dívida que não é garantido poder ser paga. E acaba perguntando:”Porque é que a Europa se tornou o doente da economia mundial?”.  Para, de novo, elaborar uma lista de razões e de comparações, acabando por denunciar a “ irresponsabilidade fiscal” e o excesso de austeridade despótica da Alemanha.  Que, no seu parecer, vai provocar situações como a da Grécia nos países do sul da Europa. E não só, já que se mostra sombrio em relação à Irlanda, Bélgica e Holanda.

E rematou: “Para o resto do mundo ter a Europa no caminho certo faz toda a diferença, porque as histórias acerca da Europa estão a ser usadas para impor políticas cruéis ou destruidoras, ou ambas as coisas.  Quando voltar a ouvir pessoas invocando o exemplo europeu com o fito de exigir a destruiçáo da segurança social ou os cortes brutais numa economia profundamente deprimida, é preciso que  saiba: essas pessoas não sabem do que estão a falar”.

Os meios da comunicaçáo social potugueses referiram repetidamente os almoços que Krugman teve com o primeiro ministro e o ministro das Finanças, como quem tem a certeza de não haver almoços grátis em parte nenhuma. Não ponho de parte que o governo tenha apreciado esses almoços com uma lente de aumentar. Mas estou certa que não apreciou mesmo nada esta sobremesa americana deixada à solta na imprensa  internacional, sobretudo neste período de azia provocada pelo petisco de Vancouver.  Krugman, esse, americano e pachola, deve ter dito o que dizem os americanos pacholas quando lhes oferecem almoços: it was lovely. Mesmo não tendo gostado por aí além…  Marketing oblige.

Comments

  1. Estudem História.
    Nenhum país nunca saiu da depressão com “austeridade”, mas sim com rigor e muito trabalho.
    Se destruírem a Europa, os Europeus não se deixarão destruir sem lutar e uma guerra ocorrerá, como nos anos 30, ou 14-18 ou outros casos.
    A crise será resolvida, pelo melhor ou pior.
    Esperemos que se resolva pelo melhor, para bem de nós todos.

  2. marai celeste ramos says:

    A ministra da agricultura e ambiente também tem esperança em que chova – Por outro lado os portugueses mesmo os menos religiososfalam em que “aconteceu milagre” – eu também ecredito mas julgo saber que Deus Nª Sr. fará milagres se eu der pelo menos o 1º passo – E eu nem sei o que é isso de optimismo e pessimismo e ficar sentado numa cadeira “à espera que chova” – ou que se dê qiualquer milagre – pergunte-se aos homens de Caxinas perdidos no mar na sua Balsa

  3. Carlos Fonseca says:

    Fernanda,
    Estive presente na Aula Magna da Universidade de Lisboa, no acto das generosas condecorações de Krugman. Do longo e por vezes contraditório discurso, ficou registado que o referido economista, detestava dizê-lo, considerou não haver alternativa à política de austeridade do governo. Admitiu ainda a necessidade dos salários dos portugueses serem reduzidos de 20/30% em relação às retribuições de trabalho na Alemanha. Tudo isto, há que sublinhar, foi afirmado junto do seu amigo e ex-colega de Yale, Jorge Braga de Macedo, um alto-comissário do governo de Passos Coelho e Portas.
    Ficou demonstrado, publica e exaustivamente, que Paul Krugman escreve um coisa no NYT e, presencialmente, afirma o inverso. Há algum tempo que passei a ter dúvidas sobre a idoneidade de Krugman. Agora fiquei com uma certeza: não tem credibilidade. Ao contrário de Joseph Stiglitz, por exemplo.

  4. Fernanda Leitao says:

    Carlos Fonseca
    Bem haja pelo seu comentário.
    Acredito em si e no que conta. Mas devo dizer que não é grande surpresa para mim.No entanto, se tiver o trabalho de ler aprosa com atenção, verá que é um gozo ao americano e aos
    amigos do governo. Todos bons uns para os outros e fiéis alunos da escola “market oblige”.
    Uns mercenários e uns salafrários da política.
    Thank you again.

  5. Carlos Fonseca says:

    Fernanda,
    Se o meu comentário se presta a ser confundido como uma crítica ao ‘post’, peço desculpa. A intenção foi justamente a contrária, ao transmitir a experiência na cerimómia e a confirmação de que Paul Krugman é, de facto, uma figura putativa, excessivamente contraditória.
    Best regards and many thanks to you too!
    🙂

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