A bexiga e as cirurgias das grávidas da MAC

JMF é dos mais prolíferos tudólogos da nossa praça. De sabedoria polivalente, é um mestre sem barreiras. Agora ficou motivado pelas perfurações de bexiga e cirurgias das grávidas da MAC. Como neo-liberal de vanguarda, está permanentemente mobilizado para a propaganda e campanha em defesa do actual governo.

A fim de evitar o afogamento em argumentos inconsistentes, agarra-se à boia chamada Prof. Pita Barros, para afirmar:

O Prof. Pita Barros escavou números e mostrou-os

Do que foi aqui escrito pelo referido professor, destaque-se o texto da ‘nota final’:

…estas informações e opinião poderão ser corrigidas se entretanto se obtiver informação mais actualizada ou mais completa. Agradeço aos leitores do blog que me enviaram sugestões, mesmo que a minha opinião não vá de encontro à sua.

Esta observação coloca em causa o grau de rigor e certeza que JMF atribui ao escrito, pelo próprio Prof. PB. De resto, este utiliza números de nascimentos na MAC com origem no concelho de Loures, mas não é explícito que tenha atendido que as limitações da área de influência do novo Hospital de Loures, PPP com o BES, segundo o Art.º 7.º do Contrato entre o Estados e as sociedades gestoras:

O Estabelecimento Hospitalar tem como influência a área do concelho de Loures, com excepção das freguesias da Bobadela, Moscavide, Prior Velho, Sacavém, Santa Iria de Azóia e São João da Talha, o concelho de Odivelas, do concelho de Sobral de Monte de Agraço, e ainda as freguesias da Malveira, Milharado, Santo Estevão das Galés, e Venda do Pinheiro no Concelho de Mafra.

Há, pois, um conjunto de freguesias dentro do próprio concelho de Loures, bastante populosas, cujos habitantes não têm acesso ao Hospital de Loures.

E de citação em citação, caminhou para o Dr. Luís Graça, obstetra do Hospital de Santa Maria, que afirmou:

Uma mulher com uma perfuração da bexiga precisa de um cirurgião, uma mulher com uma embolia pulmonar tem de ser transferida para um hospital…

Sem quantificar com exactidão o número médio mensal e anual de ‘perfurações de bexiga e embolias pulmonares em grávidas” na MAC, ao longo de todos estes anos, não é possível ser rigoroso na análise. Para cúmulo, não são fenómenos novos. Como é que a MAC os resolveu ao longo da sua história? Quantas mortes anuais se verificaram, devido a estes episódios?

Deixemo-nos de hipocrisias. O que verdadeiramente está em causa é assegurar ao Hospital de Loures, gerido pela Espírito de Santo Saúde, um rendimento proveniente de dinheiros públicos, por se ter criado uma redundância desnecessária. O HSM não está distante e tem espaços, capacidade de expansão e condições para aumentar a actividade de saúde materno-infantil.

São desonestos, desbragados desonestos, aqueles que, por um lado, se atiram às PPP’s como gato a bofe porque vêm de trás, proteja-se Cavaco, mas, tratando-se de interesses do BES e quejandos, a ordem é para avançar para a despesa pública e em força. Até a ‘troika’ as crítica, embora à sua maneira.

Comments


  1. com a informação que consegui recolher, para 2010 e com algumas falhas, o ajustamento para as freguesias está discutido aqui: http://momentoseconomicos.wordpress.com/2012/04/13/encerramento-da-maternidade-alfredo-da-costa-2/#comment-994

    acrescento que o movimento populacional de utilização do novo hospital é mais complicado de prever do que apenas olhar para as áreas de influência, já que os próprios autarcas pretendem que seja alargada a todo o concelho, ou quase, a atracção do novo hospital, o que poderá levar a uma utilização efectiva do novo hospital por toda a população do concelho (ver aqui uma noticia que sugere que se vá nesse sentido: http://www.rcmpharma.com/actualidade/politica-de-saude/13-02-12/utentes-da-zona-oriental-de-loures-vao-ter-de-continuar-ir-ao)

  2. Tiro ao Alvo says:

    O dr. Carlos Fonseca não é tudólogo,como aqui se vê.

  3. Carlos Fonseca says:

    Prof. Pita Barros,
    Em primeiro lugar uma saudação especial e agradecimentos
    Pelo que me transmite, e vou ler com maior atenção o material enviado, o fluxo de doentes, do próprio concelho de Loures, “é mais complexo de prever porque os próprios autarcas pretendem o alargamento da zona de influência”. Portanto, para mim, ainda é mais claro, até alteração inequóvoca em contrário, que é prudente tomar em consideração o corpo do contrato que li integralmente, e em especial a tal cláusula 7, que referi.
    Tomar decisões de investimento ou de desinvestimento, em saúde como em outros sectores, requer o conhecimento prévio de variáveis fundamentais e o número potencial de doentes e utilizadores é um requisito crítico em relação a unidades de saúde.
    Os hospitais públicos, outrora na versão de investimento directo e total do Estado, agora sob os modelos das PPP’s, foram predominantemente construídos como projectos voluntaristas e isolados, obedecendo a modelos burocraticamente pré-formatados (especialidades, bloco, internamento e maternidade), sem que se estudasse a sua compatibilização com a rede hospitalar ou o perfil demográfico das populações a servir. Não é, pois, surpreendente que em Trás-os-Montes, por exemplo, se tenham erigido unidades dotadas de maternidades sobredimensionadas; nem estranhar os absurdos gastos de investimento e despesa pública, ditados pelo eleitoralismo, do género do célebre “triângulo dourado”: Hospitais de Torres Novas, Abrantes e Tomar.
    Em conclusão, em tempo de pesadas dificuldades de finanças públicas, não se saber ainda qual o número aproximado de cidadãos a servir pelo Hospital de Loures, já em funcionamento, parece-me revelador das falhas que têm caracterizado investimentos na saúde em Portugal e de planeamento estratégico. Decidir encerrar a MAC neste contexto, e no caso com custos acrescidos para a ciência médica, em especial em serviços de Obstetrícia, Pediatria e Neonatologia, e conexos, é nitididamente um erro. Como erro foi realizar um investimenro brutal em S. Francisco de Xavier, na unidade de saúde materno-infantil.
    Vamos lá ver, pois, se uma grávida residente em Santa Iria de Azóia, concelho de Loures, em vez de percorrer 12 km até ao HSM ou 16 Km até à MAC, não terá que fazer 20 e tal km até ao Hospital de Loures.
    São os custos acumulados da incompetência, como sabe.
    Um abraço,
    Carlos Fonseca

    (Prof. Pita Barros: de premeio há um comentário de um idiota que desconhece de todo as minhas habilitações académicas e experiência profissional na área da saúde. Não ligue, p.f.)

  4. Tiro ao Alvo says:

    Peço desculpa, afinal o dr. Carlos Fonseca é Tudólogo – gosseiro e malcriado, mas Tudólogo.


  5. Caro Carlos Fonseca
    (se me permite, deixamos títulos académicos de lado)

    Obrigado pela sua réplica.

    Estamos de acordo com a pouca racionalidade de sistema na construção de alguns hospitais (certamente incluída o largamente reconhecido triângulo do Médio Tejo).

    No caso do hospital de Loures, é menos óbvio para mim que seja um erro a sua construção, e dada a demografia da zona também me pareceu razoável que esse hospital tenha maternidade.

    A delimitação da zona geográfica dessa maternidade é definida pelo contrato, embora não seja de excluir que haja procura do hospital por pessoas de fora dessa zona pré-definida.

    Mas apenas a mera abertura de mais maternidade na zona de Lisboa, num contexto de queda do número de partos na mesma região, deveria implicar uma reorganização cuidada e atempada, de preferência não emocional, das várias unidades.

    Tem-se focado muito no encerramento da MAC, mas na verdade mais do que encerramento o que me parece estar em causa em transferência de profissionais, e equipas, para outras unidades.

    A discussão tem-se centrado em excesso no encerramento vs continuar tudo como está, pelo que se deveriam ver as vantagens e desvantagens das várias alternativas existentes – por exemplo, como refere encerrar em S. Francisco Xavier, que honestamente não sei se será melhor ou pior, é necessário explicitar os critérios pelos quais se deve reger a decisão, saber que problema se procura resolver, e quais as alternativas disponíveis.

    Curiosamente se for sendo adiada uma decisão, daqui a um ano poderemos discutir de forma com os dados de 2012! Mas durante estes anos, desde que se sabe que iria abrir o Hospital de Loures, poderia-se ter inquirido as grávidas da área de influência do novo hospital (e indo até à área potencial de influência) se e em que condições optariam pelo novo hospital. Não é tão fiável como a própria decisão, mas podia-se ter avançado com informação mais próxima das populações.

    Abraço
    Pedro Pita Barros