Perto de celebrarmos o Dia da Mãe, vem-me à memória que, há uns tempos, Vítor Belanciano (jornalista do Público) escreveu sobre um grupo de cidadãos (França e Bélgica) que pretendiam criar o dia dos não-pais…
Quer-se criar um dia para tudo. Até o Dia do Cão se quis criar na Assembleia da República Portuguesa! Lembrei-me que tinha guardado, pelo seu tema absurdo, uma notícia que saiu no Espaço Público há cerca de 6 anos: o líder parlamentar do PSD resolveu apresentar uma proposta à AR com vista à criação do Dia do Cão. Comentava a jornalista Helena Matos: “Estamos mais pobres, vamos ficar mais pobres e (…) temos de andar a toque de pandeireta dos novos direitos e das novas causas. Viva o Dia do Cão. Os homens já passaram à História (…) O Dia do Cão é o reverso duma sociedade decadente, onde os cidadãos estão a perder direitos e receiam profundamente pelo seu futuro (…)” (Público, 3/06/2006).
Voltando ao «clube dos não-pais»… Este «movimento» alegava que a maternidade é uma servidão; que os pais arruínam metade da nossa vida e as crianças arruínam a outra metade; defendem (ou defendiam) a liberdade de não reproduzirem; elas não querem assemelhar-se a baleias; apontavam também razões políticas; e não vêem motivos para procriar num mundo cheio de problemas.
Vem se vê que estes «cidadãos europeus» não sabem o que é ter um filho e ainda não atingiram a maturidade.
Já se ouviu algum pai ou mãe – verdadeiramente merecedores de assim serem chamados – queixar-se que tem a sua vida arruinada ou que é servo dos filhos? Alguma mãe se sente uma baleia mesmo com uma barriga de nove meses? Antes pelo contrário, é um período em que, na maior parte dos casos, a mãe se sente a transbordar de felicidade e de saúde.
Como escreve V. B., é preciso “fazer ouvidos moucos” e dar um desconto a propostas deste género que por aí possam vir.
Dia dos Não-Pais… Faz algum sentido?
DIA CÃO tenho pena de não ser “criado”
Faz tanto sentido como o dia do pai, da mãe e da criança, já para não falar noutros.
Já quanto a ter maturidade, espero nunca a ter se isso implica trazer mais um puto que vai andar a ser escravo e a aturar idiotas desde o dia que nasce. Amo-o demasiado para isso.
As alegações do «movimento dos não-pais» são mal escolhidas, mas, por outro lado, seria bom lembrar que quem decide não ter filhos está, muitas vezes, sujeito a grandes pressões sociais e a ser olhado de lado. Já me vi em situações em que me punha a gaguejar (punha, já não ponho), a tentar justificar porque não tenho filhos. Uma pessoa sente-se forçada a relatar aspectos mais íntimos. Confessar que se é estéril, por exemplo, é o mesmo que dizer que se sofre de determinada doença (e, afinal, ninguém tem nada com isso). E os olhares de “pobre coitada”, “que pena que tenho de si”… Aos não-pais, que não o são por vontade própria, reacções destas baixam muito a auto-estima.
Quanto ao Dia do Cão: não sei se teria alguma utilidade. Mas utilizar a crise, ou a miséria em que alguns humanos vivem, como pretexto para não se tratar dos animais não leva a lado nenhum. Somos todos criaturas de Deus, todos temos direito a viver com dignidade. Se eu vir um cão e uma criança em perigo de vida e só puder salvar um, é claro que opto pela criança. Mas se eu vir um cão maltratado e abandonado, não vou deixar de lhe acudir, apenas porque alguém me diz: “tanta gente a passar necessidades e tu preocupada com o cão!” Na minha opinião, é mesquinho e hipócrita. Se estamos à espera que todos os humanos vivam sem problemas para começarmos a ocupar-nos dos animais, os bichos bem podem esperar, coitaditos!
É legítimo optar ou escolher não ser pai ou mãe. O que ponho em causa não é isso. É o querer criar-se um dia dedicado aos não-pais. Este «clube», que não sei se ainda existe, apresenta argumentos egoístas.
Cristina, fala-se de pessoas que säo näo-pais por opçäo (quer dizer, egoísmo).
Quanto aos que näo podem mas querem mesmo fazem como o meu amigo, que adoptou. O que näo faltam (infelizmente, diga-se) säo crianças a necessitar do amor de uma família.
De qualquer maneira, mesmo que rejeite certos argumentos (principalmente, os ofensivos, como comparar as grávidas a baleias), acho que qualquer pessoa tem o direito de escolher a vida que quer. Mesmo que o faça por egoísmo. Este é um tipo de egoísmo que, em princípio, não prejudica ninguém, pelo contrário. Ter filhos e/ou adoptar apenas porque se sente pressionado pela sociedade, não me parece boa opção e pode ser nocivo para as crianças envolvidas.
Os não-pais por convicção serão sempre uma minoria, a continuação da espécie humana está assegurada.
Cristina, respeito a sua postura perante a vida. Também concordo que não devemos ser pais só porque estamos pressionados pela sociedade. É óbvio. Mas nós mudamos. O que eu pensava há vinte anos é muito diferente do que penso hoje. Mesmo sobre este assunto… Abraço
Céu, sim, claro, também eu mudei muito. Há vinte anos, não me atreveria a expressar certas opiniões…
Agora, vou ler os seus próximos posts, que, pelos títulos, devem ser bem interessantes 😉
Abraço