Entendo que a virtualidade canse, e que vos dê gosto meter as mãos na terra, e rebolar nus por uma ladeira, cada um expressa a sua vitalidade como entende, mas comigo é que não vale a pena contar. Lamento muito, eu também tentei, mas não lhe vejo a graça. Depois de uma tarde de enxada, formigas, minhocas, sol impiedoso e dores nas costas cheguei à conclusão de que a agricultura não é para mim.
Se estamos a falar daquela versão benigna, que é o vaso na varanda, controladinho, metido no seu sítio, ali à espera do regador, sem bichos maiores que formigas, sem enxadas nem ancinhos, lá nos vamos entendendo. Também tenho as minhas beringelas, também tenho o meu alecrim, e umas flores muito bonitas que só floriram no segundo ano e por essa altura já eu me tinha esquecido do que lá tinha plantado, de maneira que não sei como se chamam nem falta faz. Tenho e rego, às vezes esqueço-me mas depois compenso, e salvo algumas espécies que não vingaram a coisa até nem tem corrido mal.
Agora, a terra descontrolada, a zumbir ao sol, castanha, exigente, cheia de manhas, com tanto espaço que não sei quanto cavar para depositar a minha minúscula sementinha, a terra que faz troça da minha falta de jeito, e sacode o limoeiro para que me caia um limão em cima da cabeça quando vou a passar, e desvia um carreiro de formigas para cima dos meus pés, e me faz tropeçar quando ando aos pulos para não calcar alguma coisa que esteja prestes a romper, essa terra não é para mim.
Já sei que meio país anda a plantar, ou com ganas de fazê-lo, e eu acho tão bem, mas se querem testar o vosso entusiasmo agrícola fiquem frente a frente com uma minhoca e a ver o que lhe fazem. Ou ponham-se a preparar a terra para o plantio (se é que sequer sabem o que isto quer dizer, humpf) com o sol a queimar-vos a nuca, e a enxada a contribuir para a vossa espondilose precoce, e depois contem-me que tal correu. Para mim, a única parte boa da experiência foi não ser preciso estrumar.
Vivo rodeada de entusiastas da lavoura, de gente que teve uma infância rural (logo, semi-medieval), que se habituou ao cheiro da terra e da bosta, e que sonha ter tempo livre para pegar na enxada. Eu apoio e até hei-de colaborar, colocando uma cadeira num recanto do terreno, ali mesmo à sombrinha, e pousando de vez em quando o livro para sorver um golinho de limonada e gritar ao que estiver mais próximo: “Continua, vais muito bem!”
carla, tens que experimentar uma coisa mais light
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ah, mas tu já és um profissional! tadinhas das minhas beringelas raquíticas ao pé da tua horta…
Ora essa! Por isso a terra a quem a trabalha. A terra só devia pertencer a quem a mexe e remexe e dela tira aquilo que todos nós comemos. A terra não pode pertencer a quem não gosta de minhocas e cheirinho a estrume. Só quem a trabalha lhe sabe o amor e a dor. Carlinha, isto não quer dizer que a terrinha não goste que a olhes sentadinha na tua cadeirinha sorvendo prazenteiramente a tuo limonadinha. Tadinha da terra!
Sabia que ias sair em defesa da terra e da minhoca e do estrume! Pois é, por essas e por outras é que eu não sou terra-tenente. E sim, também suspeito de que a terra adora que eu olhe para ela
Esse do semi-medieval adorei.
Estrume,tirando o de coelho,cheira melhor do que muitos dos indivíduos que por aqui dizem mandar.
Foi uma experiência traumática,espero que passe.
Ofereço-me para ajudar no regresso.Não vai doer nada.
Cordial abraço,
mário
Obrigada, Mário. Não sei se vai haver regresso, mas tomo nota do apoio solidário
Todas bas escolas de ensino médio além do pa´tio de recreio deveria ter uma horta e jardim pot mais oequeno que fosse oara os meninos urbanos não dizerem os disparates destes que aqui escrevem – affinal são as vrianças que aprender o os urbanos são dizem bacoradas – era a melhor maneira de aprender ciências da natureza e ecologia e o valor da terra e dos alimentos e dos ecossistemas que criassem – ainda hei-de ber os curricula das escolas mudarem
tem toda a razão, eu apoio essa ideia
O infantário das minhas filhas, da Segurança Social, tem uma horta para cada uma das salas do pré-escolar. Foram as crianças que plantaram tudo e semanalmente lá vão, com a educadora, tratar da sua horta. Ontem, colheram as primeiras alfaces e nós, pais orgulhosos, comprámos logo duas.