Metro do Porto sem papel

Falta pouco para as 17h00 e, na estação  “Casa da Música”, há, como é costume, muito movimento. Há duas máquinas de venda de títulos de transporte. Uma não funciona, a outra tem à frente uma ordeira fila de passageiros. Ao lado dessa máquina está uma funcionária, aparentemente para ajudar os passageiros, porque, uma década depois da inauguração da primeira linha, muitos portuenses (e que dizer dos turistas?) continuam a não entender o complicado sistema de zonas implementado.

Espero pacientemente pela minha vez e, quando ela chega, descubro que a janelinha no topo do ecrã que eu estava a ver desde o fundo da fila serve para informar que a máquina não está a emitir recibos.

Viro-me para a funcionária para confirmar aquilo que acabo de ler.

Ela confirma.

O dia foi de muito calor no Porto, a minha tarde também não está a ser assim tão boa, por isso eu insisto, presumindo que não estou a perceber bem.

– Não emite recibos? Mas tem de emitir!

A funcionária faz má cara, mas oferece-se para meter papel na máquina, enquanto os passageiros atrás de mim bufam e começam a rogar-me pragas.

– Se a senhora quiser eu posso meter papel, tenho é de abrir a máquina.

Isto com a minha operação já em curso, e um metro prestes a chegar.

Respondo-lhe que o papel já deveria lá estar, ao que ela contesta:

– Mas o papel acaba, não acaba?

Apesar da pergunta ser de resposta óbvia, eu recuso-me, teimosamente, a aceitar as evidências e muito malcriadamente respondo-lhe:

– Olhe, se acaba deve ser substituído de imediato. Se todas as empresas estão obrigadas a emitir recibo, a metro do Porto tem a mesma obrigação.

A fila olha para mim com evidente reprovação, a funcionária fulmina-me com os olhos, e os meus 1,15 Euros ficam nas entranhas da máquina sem direito a recibo.

Saio a rabujar, apanho o metro, que está apinhado de gente e insuportavelmente quente (o ar condicionado acaba, não acaba?).

Não sei se é habitual acabar-se o papel nas máquinas de vendas de bilhetes do metro do Porto e a sua reposição ser adiada, mas já várias vezes me aconteceu não poder usar uma máquina por estar o funcionário da empresa de transporte de valores a retirar as notas e moedas que a máquina afanosamente foi amealhando. Ora, se a recolha de fundos não se importa com a fila de passageiros à espera, não vejo porque a substituição do rolo de papel para recibos há-de ser tão zelosa do bem-estar dos passageiros.

Mas, enfim, admitindo que o papel acaba, venho por este meio solicitar à Metro do Porto a gentileza de entrar em contacto comigo para combinarmos o envio do meu recibo de 1,15 Euros. É que eu sou uma cumpridora passageira, das que viajam sempre com título e que não se esquece de validá-lo quando muda de linha, que está sempre disponível para ajudar os passageiros às aranhas com os mapas de Z2 e Z3 que a Metro do Porto não foi capaz de explicar, e o mínimo que espero é que, já que eu tive a pouca sorte de chegar num período de carência de papel, a Metro do Porto cumpra a sua obrigação e me envie o recibo o quanto antes.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Mais um “retrato” do país para a colecção

  2. maria celeste ramos says:

    Mas o mesmo sucede na CGD e eu precisasa do recido de ytransferêncai para enviar e confirmar que havia “pago” – mas não há dinheiro para papel nem tinta pois que tantas vezes vem tão branco que —

  3. Amadeu says:

    O que é curioso é o estado obrigar-nos a nós cidadãos a pedir fatura. Até pudemos ser multados se à saída dum restaurante aparecer o sr fdap da ASAE e não lhe mostrarmos a dita fatura.

    Porque não obrigam os prestadores de serviços ou vendedores de bens a passarem fatura ? SEMPRE.

  4. Quo Vadis Portugal?

  5. 😆 😆 Se fosse só o papel… Primeiro dão prémios ao grande estúpido ( um qualquer arquitecto de vão de escada) que desenhou as plataformas… Que são no mínimo MISERÁVEIS… E é óbvio que quem as desenhou decerto não as utiliza diariamente durante todo o ano!
    Segundo, papel?!? Numa estação está uma máquina sem monitor a funcionar há mais de 3 meses… reclamação feita… consequência? NENHUMA…
    Depois temos de um lado máquina que não aceita notas! Vamos à que aceita notas, não tem troco… Tentamos pagar com cartão… AZAR DO CARAÇAS os números do meu PIN não estão a funcionar! Vamos à outra o leitor não reconhece o cartão! Se estiver fora da altura do fim do mês, os multi-bancos também não servem para recarregar os Andante Gold… Um verdadeiro LUXO…
    As questão dos Andantes é outra pura roubalheira:
    Andante azul – compramos títulos para viajar por um determinado número de zonas, mínimo 2 zonas (Z2), não interessa qual a identificação das zonas C1, C2, S8, C9, C5, etc… tanto faz!
    Andante Gold – (m.c.p. passes mensais) compramos na mesma 2 zonas MAS SÓ SE PODE VIAJAR NAS ZONAS ESCOLHIDAS (por exemplo C1 e C2) caso contrário temos que comprar um Andante AZUL, apesar de termos passe para andar no Metro!!! Um mimo!
    Se por exemplo quisermos ir da zona C2 para a C3 são duas zonas, logo, Andante Azul com um título Z2, mas se por azar o seu passe mensal é de duas zonas mas são as zonas C1 e C2, já não o pode utilizar para realizar esta viagem de DUAS ZONAS de C2 para C3!, e assim lá vai dar mais dinheiro à máfia e comprar um título Andante Azul Z2 e “tá lá caladinho ó pacóvio! Paga e não bufes!”
    Metro do Porto!?! Quando é gerido por uma morrinha e tem o enquadramento legal escrito pela máfia legislativa… Não se pode esperar nada de diferente!
    Ah! Papel para Recibo?!? Experimente fazer o mesmo num Continente ou espaço do género?!? 😆 😆

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