De um lado, cantores-voluntários do tema de Zeca Afonso Grândola Vila Morena, em grande número e reproduzindo-se por toda a parte – de forma agora justamente dita inorgânica, que os grupos organizados serão outra coisa, apesar das certezas discursivas do Governo quanto à mão do B.E. sim, dos malvados radicais do B.E., que o PC ‘é um partido institucional, que respeita os procedimentos legais democraticamente enquadrados’ – elementos do Governo com esses protestos cantados, e mobilizando-se para todas as agendas e lugares de Portugal.
Do outro lado, os governantes acossados que não querem cantar, talvez porque não conheçam a letra, mostrando-se incapazes de dialogar com esse povo em protesto – que no entanto garantem representar. Feridos na sua liberdade de movimentos, no mediatismo da sua acção política, mas também desmascarados no seu mal-estar, fogem, para grande irritação dos cantores e dos seus apoiantes, que naturalmente vêem nisso a cobardia de quem teme, isto é, a visão clara da ilegitimidade de quem diz representá-los e contudo apenas tem destruído as suas vidas em todas as suas frentes.
E é esta a palavra que importa, a palavra legitimidade. Pergunta-se então por aí: é legítimo perseguir a classe governante com o objectivo de fazer ouvir (cantando) um eco generalizado de protesto na sociedade portuguesa, tornando-lhes a vida um Inferno? E agora ao contrário: é legítimo ignorar o protesto – de grandeza não negligenciável, e basta estar atento para compreender a que ponto esse protesto tem crescido, em número de cidadãos indignados e em agressividade? Esse protesto é há muito consensual. 15 de Setembro de 2012 marca a sua primeira aparição. Ninguém entre os que vivem em Portugal por estes dias sombrios poderá esquecer esse dia cheio de sol em que as ruas de todas as cidades e lugares de Portugal se encheram de pessoas em protesto, a maioria sem partido, o que não é tanto assim difícil de compreender se atendermos aos níveis de abstenção nas eleições de 2011 que permitiram tanto a eleição deste Governo como a do actual Presidente da República.
Sobre Miguel Relvas já quase tudo foi dito. Representa o que os portugueses abominam e recusam num governante. É espantoso que Miguel Relvas pretenda lançar um véu de esquecimento sobre as circunstâncias da sua ‘experiência universitária’: elas são uma afronta a todos os estudantes (e às suas famílias) que arduamente e com cada vez maior sacrifício estudam de facto nas universidades portuguesas. Chocam também especialmente todos os estudantes que actualmente se vêem obrigados a abdicar de prosseguir os seus estudos superiores por falta de dinheiro para poder financiá-los. São, por fim, uma ofensa à própria instituição que é a Universidade, um ultraje a esse magistério, o que, vindo de um elemento que integra um Governo em que a maioria dos portugueses não votou e que há muito quer ver pelas costas, torna o boicote a Relvas um direito consagrado – natural consequência dos actos de Relvas e da caução de Passos.
Ao seu excelente texto Sarah, só queria acrescentar um episódio que confirma muito do que se está a passar e que o seu post sublinha.
E esse episódio explica porque é que pessoas que se dizem estar tão contra este governo, afinal estão com aquilo que de pior tem este governo, usando o falso pretexto da “liberdade de expressão”.
Pessoas tão “diferentes” politicamente como o instalado Vital Moreira, como o Mira Perdigoto BIC, como a execrável Maria de Lurdes Rodrigues, como o aparelhado Francisco Assis, como o pretenso senador Capucho, como o dito jornalista Henrique Monteiro, etc.
E o episódio, resume-se a uma pequena frase que Pacheco Pereira dirigiu a António Costa, quando este, previsivelmente, alinhou o seu discurso com os acima citados e criticou o facto do Relvas ter sido impedido de exercer a sua “liberdade de se exprimir.”
A frase assassina e que fez o António Costa corar como uma noviça quando inavertidamente foi confrontada com o piscar de olho do abade confessor, foi a seguinte: “Compreende-se …o Senhor quer ser primeiro ministro”.
Todos os acima citados e os não citados, querem qualquer coisa deste sistema partidocrata e por isso, tudo o que seja mexer no pântano os afecta na sua mais íntima sensibilidade.
O António Costa quer ser primeiro-ministro, o Vital Moreira não quer que os seus tachos e os da mulher sejam afectados, o Mira Perdigoto fez o negócio do século à custa dos impostos dos portugueses e espera fazer mais, o Capucho ainda espera ser alguém na política, a Maria de Lurdes não morde a mão que lhe deu um tacho que ela jamais esperaria na vida, o Henrique Monteiro teme que depois de ter sido despromovido de Director do expresso possa ser posto na rua e o Francisco Assis continua a zelar pelo emprego de toda a sua vida, e que espera que seja até à hora da sua morte, pois não sabe fazer mais nada do que intrigar.
Todos eles são venerados e obrigados a este “sistema” corrupto, (em que não há uma única instituição democrática que funcione liberta da corrupção), de pôr o voto na urna, a que eles chamam democracia, e que lhes deu tudo e muito mais do que esperariam na sua vida de nulidades.
E eu quero o quê ?