As questões da JSD

Questionar é fundamental numa sociedade democrática. A delegação da JSD no Parlamento tem todo o direito de questionar o que quer que seja como qualquer outro cidadão português e isso inclui questionar o financiamento dos sindicatos. Pena que a sua busca pela transparência não se aplique a outras situações da mesma “natureza”. Será que alguma vez questionaram o orçamento anual da casa real do “avô” Cavaco que custa cerca de 16 milhões de euros por ano? Duvido que todos os sindicatos ligados à Educação juntos recebam 5% desse valor por ano. E se até o “avô” Cavaco não sabe como há-de pagar as suas contas no final do mês, para onde vai tanto dinheiro? Em média, um português paga cerca de 1,60€/ano para manter o PR enquanto o inglês médio paga 0,93€/ano pelo mesmo serviço à Rainha Isabel. Será que a JSD alguma vez questionou este gasto pouco austero? Claro que não! É que a JSD só questiona aquilo que não incomoda verdadeiramente os seus chefes. E só questiona o poder quando é o PS que o ocupa. Durante o resto do tempo a JSD limita-se a brincar às questões.

Falando em questões, será que estes deputados já questionaram o facto de serem subsidiados a 69,19€ por dia “durante o funcionamento do plenário e/ou comissões” (excepto Joana Barata Lopes, a única deputada que no site da JSD tem residência oficial na zona onde a ajuda de custo desce para uns “míseros” 23,05€ por dia) algo que ACRESCE ao seu modesto salário ilíquido de no mínimo 3271,32€? Tamos a falar de cerca de mais 480 euritos por mês se o plenário e/ou as comissões funcionarem, vá lá, uma semanita por mês… e isto é apenas a ponta de um iceberg de regalias que faz centenas de milhares, senão mesmo milhões de portugueses questionar o porquê de tanto dinheiro quando, como dizem e bem estes deputados em declarações à comunicação social, vivemos um “momento em que todos os portugueses fazem sacrifícios, temos de reduzir a despesa do Estado, temos de saber quanto é que custam,”. Porque não questionam os deputados da JSD porque raio é que gente como eles, sem experiência política nenhuma (a menos que a Universidade de Verão do PSD conte, alguns nem licenciados são) recebem tanto dinheiro? Não serão eles demasiadamente caros ao erário público? Será que os contribuintes devem continuar a sustentar esta gente a caviar enquanto assistem ao festival do despedimento e da destruição dos direitos laborais daqueles que são sustentados a atum em lata do Minipreço?

Em 2009 foi publicado um estudo da OCDE, estudo esse que foi abertamente contestado pela Fenprof. Este estudo revela que um professor em início de carreira em Portugal ganhava qualquer coisa como 1.877€, valor que deve já ter descido radicalmente. Por essa altura, um “Hugo Soares” ganhava 3.815€. Mais todas as regalias e subsídios para tudo e mais alguma coisa. A diferença é que para ser professor é preciso estudar muitos anos e tirar um curso superior. Para ser um deputado jota nem formação superior é necessária! Basta que se destaque no seio da sua instituição, que tenha os amigos certos ou que tenha poder de influência sobre uma significativa parte da distrital onde se insere. Isto chega para entrar numa lista fechada e ser eleito pelos contribuintes que votam num partido mas que não fazem a mínima ideia que estão a votar em alguém sem qualquer tipo de experiência ou formação que não seja a “experiência jota”.

Quanto custa um “Hugo Soares”? Ora um “Hugo Soares” custa no mínimo 3271,32€ ilíquidos mensais (caso seja deputado em regime de exclusividade o que não parece ser o caso). Um belo ordenado para quem só tem 30 anos e vive num país economicamente deprimido em parte por decisões que ele próprio apoiou incondicionalmente. Para além do salário, um “Hugo Soares” já nos deu mais algumas despesas desde o início do consulado Passos Coelho: só em ajudas de custo “durante o funcionamento de plenário”, um “Hugo Soares” já levou para casa mais de 15 mil euros em menos de 2 anos. Existem muitos portugueses que não ganham 15 mil euros durante um ano e muitos deles com muitas mais habilitações que um “Hugo Soares”. A diferença talvez resida no facto de não possuírem o cartão partidário certo. E estou apenas a fazer referência ao vencimento e às ajudas de custo para fazerem o trabalho para o qual já são pagos. Um professor que resida em Braga e vá trabalhar para Lisboa não recebe 69,19€ por dia de aulas. Nem um décimo das regalias a que esta jovem elite tem direito. E, curiosamente, um professor é incomparavelmente mais útil que um deputado, principalmente um deputado jota. Outra diferença é que estes professores são directamente responsáveis pela formação dos jovens do nosso país enquanto os deputados são directamente responsáveis pelo estado de afundamento do nosso país, ou não fossem eles os legisladores. É que ainda que os sindicatos da Educação não fossem lá muito úteis, a AR também não tem tido lá grande utilidade e os deputados custam muito mas muito mais dinheiro para manter. Será que num sistema eleitoral por círculos uninominais teríamos tantos jotas no Parlamento? Provavelmente não. Mas poderíamos ter mais uma ou duas Tecnoformas o que também é chato.

Comments

  1. Em democracia tudo pode ser questionável desde que
    não seja absurdo , intriguista , mentiroso ou de má fé .
    Realmente , garotos a ganharem milhares de euros e
    sei lá mais quanto por fora , porque na política todos
    os jogos e habilidades são permitidas .
    Hoje não tenho reforma , nem sei se a vou ter , não te-
    nho RSI e se me o concederem é a fortuna de 178,26€
    por mês , que vai dar um rombo na reforma do Cavaco
    por causa do qual estou na miséria , passando há anos
    enormes privações , sujeito a ir para a rua .
    Todavia , no tempo do sinistro cavaquismo o indivíduo
    que mais o apoiou , como ninguém , fui eu.
    Mas como comecei a ver que o Cavaco só apoiava a
    CORRUPÇÃO BANCÁRIA que me atingiu e de que ma-
    neira e como o come a contestar mandou as suas bri-
    gadas perseguirem-me para me arruinarem .
    Os jotinhas do PSD não sabem o que dizem , não sa-
    bem o que custa a vida , mas já sabem o que é viver
    em ditadura criada pelo PSD e em perseguição aos ou-
    tros .
    Aliás o mesmo acontece como nos jotas dos outros
    Partidos .
    Somos um Povo que não vale nada .
    Temos que seguir os exemplos do Brasil , Turquia ,
    Tunísia e de outros países , para sairmos deste ma-
    rasmo . É preciso uma revolução mundial com gente
    séria . Na Política só há CORRUPÇÃO e BANDITISMO
    e ainda nos querem convencer que são sérios .

  2. jorge (fliscorno) says:

    Esses jotinhas são cola-cartazes promovidos a corneta amplificadora do chefe. É vê-los no parlamento com o seu coro muito-bem. Até que um dia são eles o chefe.

    Claro que as listas de candidatos à AR são uma fraude. É como pegar em latas de conserva e escolher a que tenha melhor rótulo, quando o que importa é o que lá está dentro e nisso não tem o eleitor uma palavra a dizer.

    • Cola cartazes?! Eles já nem cartazes colam! Os cartazes são feitos, pensados e colocados por empresas que não têm nada a ver com militantes! A democracia tem custos, os mais votados recebem mais. Por isso, não me custa que um deputado porco seja pago pelo dinheiro dos eleitores, o que me custa é que esse deputado porco questione o dinheiro gasto noutros cantos da pocilga!
      Precisamos de partidos, de sindicatos, de associações, de organizações, são a essência da democracia. Não voto nesta gente da direita, estou de consciência tranquila embora muito preocupado com aqueles que viabilizam o acesso desta gente aos microfones!
      Um abraço com saudades da raposa velha

  3. Joaquim Amado Lopes says:

    O João Mendes tem razão quando escreve que TUDO deve ser questionado, da Presidência da República às ajudas de custo que os deputados recebem, passando por aquela deputada que, eleita pelo círculo de Lisboa (portanto, com morada em Lisboa), se achava no direito de ter as suas viagens a Paris pagas pelo Parlamento.
    Mas, se tem razão no que refiro acima, o João Mendes perde-a toda quando faz depender de perguntas sobre os gastos de órgãos de soberania quaisquer perguntas sobre quanto o Estado está a pagar a dirigentes sindicais que nem sequer trabalham para o Estado.
    .
    Os deputados, não apenas do PSD mas TODOS, nem sequer deviam estar a questionar quanto se paga a Mário Nogueira. Deviam era EXIGIR ao Governo uma explicação de por que razão o Estado continua a pagar os ordenados de quem se dedica a tempo inteiro a trabalho em instituições privadas a quem nem sequer foi concessionado qualquer serviço público.

    • Caro Joaquim Amado Lopes, se entendeu que fiz “depender de perguntas sobre gastos de órgãos de soberania quaisquer perguntas sobre quanto o Estado está a pagar a dirigentes sindicais que nem sequer trabalham para o Estado” entendeu-me mal. Ou então eu não me fiz entender! Eu acho mesmo que o financiamento dos sindicatos pode e deve ser questionado, não se trata de nenhum tabu. Gostava era de ver estes supostos representantes dos jovens a questionar outros aspectos do despesismo público completamente incompreensíveis numa economia deprimida como a nossa. Mas claro que a hipotética “irreverência” destes jovens termina onde começar o partido e a sua vida faustosa. Dois pesos e duas medidas.

      • Joaquim Amado Lopes says:

        Caro João Mendes,
        As habilitações dos deputados devem ser discutidas no geral e não apenas relativamente aos “jotas” (que, aliás, não são todos do PSD). Mas essa é outra matéria.

        Uma vez que o João concorda que o financiamento dos sindicatos pode e deve ser questionado, assuma isso e elogie a iniciativa destes deputados. E, nem que seja através de deputados de outros partidos, peça que sejam questionadas outras despesas públicas. Mas não misture o que não tem que ser misturado. É que a melhor forma de conseguir que alguma coisa seja feita é começar pelo mais fácil e mais óbvio, passando depois ao que restar para fazer.

        O que o João fez foi gerar ruído, precisamente para que não se discuta o financiamento dos sindicatos, muito especificamente o facto incompreensível de os ordenados dos dirigentes sindicais serem pagos pelo Estado e não pelos associados desses sindicatos.

        • Caro Joaquim Amado Lopes,

          Terei todo o gosto (e contarei com o seu contributo) no dia em que o objectivo de discussão sejam as habilitações dos deputados em geral. A questão é que neste caso o foco está nos deputados da JSD pelo facto de terem questionado o financiamento dos sindicatos quando são incapazes de questionar outros financiamentos mais ou menos “obscuros”. E sim, os que eu estou a discutir são os do PSD/JSD pois foram eles e não os jotas do CDS, do PCP ou do PS que levantaram a questão. Parece-lhe coerente que, perante isto, introduza considerações sobre quem não está envolvido neste tema? A mim não.

          Eu elogiaria a iniciativa destes deputados caso o tivessem feito com sentido de Estado numa lógica de esclarecimento da opinião pública o que manifestamente não é o caso. Como estas “questões” foram colocadas numa lógica de confrontação política achei-me no direito de “questionar ao vento” o porquê destes intrépidos “legisladores” serem incapazes de questionar a sua existência faustosa quando são tão acérrimos defensores da contenção orçamental. Não sei quanto a si, mas a mim a hipocrisia enerva-me profundamente, principalmente quando os meus impostos a financiam.

          Caso não tenha lido o meu texto com atenção, relembro-lhe que comecei por dizer que esta matéria pode e deve ser questionada. Acho muito bem que seja questionada e não estou de forma alguma a ser irónico. Se quer achar que o fiz pelo ruído está no seu direito mas na realidade fi-lo para demonstrar como esta gente é completamente parcial e como estas questões são feitas no âmbito de estratégias políticas. Aqui não se quer questionar coisa nenhuma, são manobras de diversão para denegrir os sindicatos da educação que estão a causar muita mossa nos incompetentes que gerem os destinos do nosso país.

  4. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Fernando Cardoso – acha que POVO e governantes é tudo a mesma coisa ?? – acho que não mas de facto não sabemos escolher governantes ou metade de nós não sabe – têm vencido os piores seja ps seja psd – como se estar na política revelasse uma dimensão portuguesa odiosa – Já agora aproveito para dizer que estou cansada de pagar a sindicatos (dessindicalizei-me em 1976 ??) quando com alegria pagava e não via nada – pago o que fazem e se deslocam em campanha – pago as instalações país fora – pago a deputados e ministros e cartões azuis e senhas de gasolina de lambretas – e aos de bruxelas – e aos imensos relatórios “n” vezes repetidos que não servem para nada – pago as férias dos senhores – pago a habitação dos ministros e parlamentares vivendo ou não em libos – para a autarcas e assossores e assessores de assessores e chauffers e topos de gama – pago a s bandeirinhas dos jotinhas e as bandeirolas dos mais grandinhos – pago o fatinho de Seguro para ir à missa a Paris – e se calhar os hotéis quando vieram Sarkozy e Blair e outros – pago o que comem na AR e nos banquetes de Queluz – pago o extra dos GNR das motos que os defende de nós malfeitores – pago a documentação parida em bruxelas com “n” traduções em não sei quantas línguas – pago a electricidade para alguém ganhar por ano um milhão- pago as barragens que não interessam e as estradas e IP – pago as pontes e todas as reformas de eis ministros e eis outras cisas – pago escolas públicas e privadas médias e superiores – pago a hospitais públicos e privados – Pago o Palácio de Belém e de São Bento – para aos juízes e as 4 TV – pago o Min Público e funcionários – pago os tomates de espanha e o lixo de comer – pago a água com coliformes – o que eu não poderia ganhar se cada um pagasse o que consome com o ordenado que ganha .

  5. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Ora vivam os brasileiros que não largam a RUA e parece que a polícia não se mostra para não dar mais problemas e só estrem presentes – 28 mil reais para estádios que falta para professores e outros – protestos através de redes sociais é eficaz e rápido e incendeia ao países – descontentamento global que alastra

  6. Observador says:

    Eu não gosto de ter razão…às vezes, mas se já tivessem cortado como eu ando a dizer há muito tempo:
    – 50% do Orçamento da Assembleia da República e
    poupavam+- …. 43.000.000,00€
    – 50% do Orçamento da Presidência da República e
    poupavam +- ….. 7.600.000,00€
    -Cortem as Subvenções Vitalícias aos Políticos senadores e
    poupavam+- …….. 8.000.000,00€
    -50% das subvenções estatais aos partidos políticos e
    pouparão +-…… 40.000.000,00€
    E se tivessem que cortar aos sindicatos, também não viria por aí nenhum grande mal ao mundo. Mas teriam que cortar os tais especialistas e pô-los com dono, teriam que vender a maior parte do parque automóvel dos senhores que representam o estado, teriam que acabar com as reformas escandalosas que por aí existem (somos um país governado por reformados de primeira, não é? E terá que ser assim?).
    Tudo mudaria. Mas…

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  1. […] Continua… […]

  2. […] com o chefe das camadas jovens laranjas, um rapaz caro de manter num pais sem dinheiro para pagar salários, a falar sobre o desemprego em Portugal. Ver um jotinha, […]

  3. […] Manter um moço destes fica caro. E o retorno, esse, é mesmo muito fraco. E andamos nós a pagar balúrdios por “activos” destes, que para além de não terem grande utilidade, ainda dizem obscenidades destas! Felizes de nós por não estarmos ainda totalmente nas mãos destes jotas radicais que vivem na descarada dicotomia de quem recebe ajudas de custo incompatíveis com a religião da austeridade fanática e do estrangulamento do estado social que professam e que radicalmente nos querem impor. No dia em que todos os direitos das pessoas poderem ser referendados, pode ser que as “profecias” de Mário Soares e do Papa Francisco se cumpram e que a proposta e referendo regresse à origem de forma pouco ortodoxa. É pelo menos essa a minha esperança! […]

  4. […] um mês atrás, o dispendioso Hugo Soares citava o INE para, no âmbito das habituais manobras de manipulação e propaganda ao serviço do […]

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