Um dos movimentos que se dedicou nos últimos dias a mobilizar os brasileiros para os protestos anunciou que iria deixar de convocar as pessoas – alegadamente por causa da violência que tem marcado a maioria dessas manifestações que têm acontecido no Brasil. Não sei com detalhe o que se passou, apenas compreendi que houve diálogo entre esse movimento e o Governo de Dilma Roussef, o que em si é uma boa notícia, pois nem sempre os governantes são capazes dessa negociação com o povo em protesto. No entanto, parece-me evidente que o discurso contra a violência é tão virtuoso como a generalidade dessas palavras que se dizem em política – arte difícil, de prática conforme inacessível à maioria dos que se abalançam a ela, por serem as mais das vezes movidos pelas piores razões. Pois a política é um exercício mais do que um discurso (mais do que uma narrativa, para replicar uma das palavras na ordem do dia político português). A política é uma prática, coisa que se faz com acções, tentando que sejam tanto quanto possível a tradução das necessidades e das expectativas daqueles em nome de quem se governa.
Vá, venham homens que apenas conhecem o pecado original e digam todos, e digam muitos, e digam alto e bom som que o que escrevo é mesmo coisa de idealista metida à besta. Mas a verdade, homens que desconhecem a redenção e se obstinam em ver na Humanidade unicamente uma raça de animais ferozes e sem salvação, é que a política é amiúde reduzida ao que diz de si própria, na grande quantidade de palavras a que raramente correspondem realidades. E é por isso que falar da violência, como se emergisse de lado nenhum e não fosse o espelho de uma outra violência (muito concreta embora não-dita como tal – em Portugal chamam-lhe sacrifícios) é um exercício sem virtude política – um enunciado demagógico, furtando-se os governantes ao debate que essas manifestações de revolta e essa violência merecem. Pelas questões graves de injustiça social que subjazem à ira do povo, pelo processo contínuo de infernização da vida das pessoas a quem se impõem Estados sem responsabilidades para com elas, ao mesmo tempo que se lhes exige o impossível enquanto empobrecem para que uns poucos possam enriquecer.
A metamorfose histórica é violência, sempre. E quando não é, é um problema, porque se limita a produzir reformas sobre pré-existências que apenas a ruptura poderia tornar pretéritas. E nessa matéria os europeus são especialistas – em mandar para debaixo do capacho o que lá fica a germinar. E dito isto, a utopia da revolução pacífica é uma das minhas preferidas – ficção poética e filosófica que a História revela improvável.
MAIS UMA OPINIÂO, VISTA DE LÁ. Brasil: ultradireita toma iniciativa nos protestos com ajuda da Globo e do estado de exceção
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Publicado em Sexta, 21 Junho 2013 10:25
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Foto de Deivson Prescovia para DL – Protestos em SP no dia 17 de junho
Brasil – Diário Liberdade
– Acosso a partidos da esquerda nas manifestações, incluíndo agressões. MPL suspende convocação de protestos por esse motivo. Entrentanto, infiltrados da polícia e fascistas, junto com Globo, implementam folha de rota da burguesia radical._________________________________________
Após a retirada da alça nas passagens de ônibus no Rio de Janeiro e São Paulo
-que, segundo avisaram autoridades do regime, será repassada indiretamente para o povo trabalhador, via cortes em saúde, educação e outros investimentos-, ontem as manifestações no Brasil levaram ainda mais pessoas para as ruas. Mais de um milhão de pessoas paralisaram as principais cidades do país na quinta-feira à noite. Só no Rio de Janeiro cerca de 300.000 pessoas participaram, o triplo da passeata de segunda-feira. Em São Paulo foram 110.000; em Recife, 52.000.
E no meio a isso tudo a estratégia da ultradireita passou de pegar carona
dos protestos a levar a iniciativa.
A escalada golpista promovida pela Globo manipulou o movimento com sentimentos nacionalistas, desviando as pautas dos movimentos sociais da esquerda (Copa, infraestrutura urbana e de transporte, reformas agrária e urbana, tarifas de ônibus e passe livre… e outras que inicialmente levaram trabalhadoras e trabalhadores às ruas) por pautas como “combate à corrupção”, “Fora Dilma”… e outras reivindicações condizentes aos interesses da burguesia mais radical, que tenta desalojar a burocrata Dilma Rouseff da presidência.
A Rede Globo, que no quarto protesto em SP (o primeiro verdadeiramente massivo) tentou criminalizar -sem sucesso- o movimento, insiste agora que esse movimento é contra a corrupção e apartidário, e mistura o sentimento nacionalista do futebol da seleção e da Copa com os protestos, tentando transformar o movimento em qualquer classe de evento da “direita festiva”. O maior grupo desinformativo do Brasil chegou mesmo a emitir um escandaloso apelo de Pelé pedindo para brasileiros e brasileiras “deixarem as manifestações” a apoiarem a sua seleção no caminho da copa, esquecendo “toda essa confusão que temos no Brasil”.
O influente blogueiro Raphael Tsavkko, colaborador do Diário Liberdade, explica que
“jamais pensaria que o movimento seria tomado por “caras pintadas”, pela nata da burguesia fascista, pela juventude tucana, por neonazistas e provocadores de todos os tipos (…). Os fascistas saíram às ruas e são muitos, são milhares, pregando o ódio, batendo e violentando. Honestamente, prefiro apanhar da PM”.
O fascismo está ganhando destaque, e aliado à direita, arrastando consigo uma classe média despolitizada (que com certeza serão massa de manobras para grupos de direita) e com a ajuda de uma Rede Globo que já não tenta criminalizar os protestos, mas sim desviá-los, pode levar as revindicações e os protestos a uma via fascista. Segundo denunciam repórteres participantes nas manifestações, elementos dos grupelhos fascistas estarão infiltrados no movimento nadando de braçada com infiltrados policiais.
O Movimento Passe Livre (MPL) já se manifestou a favor da presença de partidos e contra a “pauta conservadora”
e disse que não vai convocar mais protestos, dado que “houve uma hostilidade com relação a outros partidos por parte de manifestantes, e esses outros partidos estavam desde o início compondo a luta contra o aumento e pela revogação”, afirmou Douglas Beloni, do MPL. Explicou também que “nos últimos atos pudemos ver pessoas pedindo a redução da maioridade penal e outras questões que consideramos conservadoras. Por isso suspendemos as convocações”.
Dilma: ultrapassada pelas manifestações primeiro e pelo fascismo depois, tenta recuperar controle
Contra qualquer prognóstico, o estado de exceção brasileiro -cuja principal missão neste momento é garantir que os megaeventos esportivos e temas relacionados decorrem segundo as hipóteses mais favoráveis para a especulação e o lucro de capitalistas- perdeu durante vários dias o controle das manifestações convocadas pelo Movimento Passe Livre.
Assim, entende-se que até agora não tenha agido contra a entrada ativa da direita nos protestos, considerando-o um mal menor e com a esperança disso servir para as reivindicações ficarem num plano superficial. Porém, agora, diante da evidente escalada golpista para a Dilma pagar o pato de todo o desgaste da democracia burguesa brasileira, a presidenta tem cancelado vários dos eventos que tinha programados e convocou uma reunião de emergência com a sua equipe para hoje, sexta-feira.
Perseguição e agressões em São Paulo a militantes de PT, PCO, PSTU e PSOL
Ontem em São Paulo os fascistas conseguiram queimar bandeiras vermelhas sem que a esquerda, num ato de cem mil pessoas, pudesse fazer nada. Esse é o estado atual das coisas.
“Em dado momento provocadores começaram a atacar ativistas do PT, PCO, PSTU e PSOL que estavam no meio da marcha. Alguns gritavam “sem violência” enquanto jogavam objetos e tentavam socar militantes partidários. Muitos ali achavam que eram todos petistas, pois gritavam slogans contra o PT enquanto queimavam bandeiras (não sei se do PCO ou PSTU)”, explica Raphael Tsavkko.
Entrentanto, noutras cidades do país, como Belo Horizonte (MG) movimentos de esquerda conseguiram conter a situação sem que houvesse acosso da direita extrema.
Caro Adelino Ferreira, plenamente de acordo.
Segundo contactos com familiares nascidos e residentes no Rio de Janeiro, e integrados na classe média desde o nascimento, os relatos recebidos dão conta, de facto, de infiltrações de extrema direita nos movimentos de rua no Brasil.
A luta legítima do MPL (Movimento do Passe Livre) foi, assim, desvirtuada.
O Globo é um órgão de comunicação de direita, Basta lê-lo, Deixa bem explícita a falta de independência, na expressão dos títulos e manchetes que destaca.
A SIC Notícias, por efeito de irmandade capitalista com a Globo, ontem, por exemplo, omitiu informação indispensável a uma interpretação completa e correcta do que realmente estava a suceder em cidades brasileiras. Acedi a essa informação por outras vias.
A política, segundo conceito filosófico consensual, é o estudo da organização social ideal (e não, como se poderia supor, a arte e a ciência de obter e conservar cargos políticos; a monarquia, a aristocracia, a democracia, o socialismo, o anarquismo, o feminismo – tais são as ‘dramatis personae’ – diferentes expressões dramáticas da mesma individualidade) da filosofia política. O exercício da política, esse sim, é a via aberta a prepotências e abusos, mas, mais raros, também a história e a política registam a participação de homens como Mahatma Gandhi e Mandela.
Sem ilibar Lula – principalmente este – de consideráveis responsabilidades e isentar Dilma de outras, as razões para a contestação centraram-se em aspectos práticos e influentes na vida do dia-a-dia dos cidadãos. Outras causas mais sofisticadas e influentes para as condições de vida da comunidade no todo (190 milhões) camuflam-se deliberadamente.
Todavia, quem conhece o Brasil – e eu conheço-o de Manaus até ao fundo não apenas turisticamente, nem vacila em dúvidas sobre a histórica responsabilidade de oligarquias que dominaram o país (Militares, Delfim Neto, Collor de Mello e outros), e ainda mais da incontidas frustrações e ódios aos estilos de poder que, em boa verdade, se iniciaram ao tempo de Fernando Henriques Cardoso.
Na minha leitura, é essa direita corrupta e despótica que, no oportunismo de justas lutas, tenta através de ‘jovens neo-nazis instrumentalizados’ capitalizar acções de rua, por causas justas mas que, na verdade, pouca a afecta.
Participam, criam desacatos e desacreditam a justiça da luta de muitos outros cidadãos, de quem, no fundo, se distanciam. Como, de resto, sucedeu com o PNR, expressão da extrema-direita portuguesa, ao tentar integrar a manifestação de 15 de Setembro na Praça José Fontana, Lisboa. Foram, pura e simplesmente, expulsos. É esta atitude asséptica que falta em São Paulo e Rio de Janeiro, cidades demasiado populosas e difíceis para tais limpezas.
Utilizando uma expressão de que gosto muito,
caro Carlos Fonseca: Como se fosse água!
Só espero que esta revolta não pare e tenha resultados
positivos para e por todo o mundo , porque independen-
temente de todas as críticas e oportunismos condenáveis
de determinados grupos , o importante é que os brasilei-
ros não desistam . O mundo tem que mudar para se aca.
bar com a canalhada política corrupta , como em Portugal,
O querer, pode ser contra a razão, mas nunca sem a razão.