Dom Gonçalo da Câmara Pereira, o candidato fadista do Partido Popular Monárquico, foi ontem ao Mercado do Bolhão à procura de circo. Há candidatos assim, que entendem que uma campanha eleitoral se resolve com meia dúzia de aparições chispantes entre o povo, aquele povo chocarreiro, aos berros, a cuspir vernáculo em cada frase, beijoqueiro de políticos mediáticos. O povo está para bater palmas, eternamente agradecido pelos minutos de atenção que lhe dispensem os doutores, e o Gonçalo, ao que fiquei a saber, até já apareceu a fazer depilação no programa do Goucha, o que o alça indesmentivelmente à condição de celebridade à nossa mísera escala.
Conta, na edição de hoje do Jornal de Notícias, a repórter Helena Tavares Silva como foi a recepção das mulheres que vendem no mercado:
A cada interpelação, a maioria respondia apenas, com elegância e sem paciência, uma de três expressões: Obrigada, boa sorte, adeus. (…)
“Vamos às mulheres do peixe, têm mais andamento”, sugeriu Correia da Silva [o nº 1 da lista], num último sopro de esperança. A vendedora está ao telefone, Gonçalo tenta a sorte. “Está a ligar para mim?” “Estou a enviar o voto”, ironizou ela, sem desligar.
É que a comitiva, como também conta a repórter, chegou às 16h00 (duas horas depois do combinado) a um mercado que abre às sete da manhã. Quem lá trabalha tem de saltar da cama às cinco, ainda o sol está para chegar, e a meio da tarde já a paciência devia ser pouca.
Pode ser que os candidatos do PPM tenham aprendido a lição, de resto útil a muitos outros candidatos, mas parece-me pouco provável. Continuarão a insistir no pão e circo, ainda que o pão escasseie e o circo esteja desmontado. E não entenderão a lição que as vendedoras do Bolhão souberam dar-lhes, porque para isso, convenhamos, era preciso que estivessem ao nível delas.
Na area da politica – e nao so – o povo e’ o que e’, e tem o que merece.
Se queremos ver uma enormissima franja do que e’ o povo portugues, perca uns minutos a ver o Preco Certo na RTP.
Mas cuidado! nao mais do que uns minutos, para nao ficar contagiado/a.
Quando houver uma efectiva igualdade de oportunidades em todos os campos – económico, social, cultural – talvez possamos julgar o povo com essa celeridade. Até lá, não me parece.
As respostas das pessoas nesta campanha tem sido interessante.
Outro dia, o Paulo Rangel andava na rua a entregar canetas ao pessoal:
P Rangel: “Aqui está uma caneta para si.”
Senhora. “E escreve?”
Ehhh……..
🙂