Na terceira semana de maio vamos ter, mais uma vez, os exames nacionais dos 4º e 6º anos (poderá consultar todo o calendário em formato pdf).
Tal como tem acontecido nos últimos anos, esta atividade avaliativa, implica a paragem de todo o trabalho das escolas e, nesse sentido, uma vez que os professores estão envolvidos nas vigilâncias, boa parte dos alunos dos anos sem exames, tem uma semana de férias. Ao preparar o último trimestre de aulas, dei por mim a pensar nas vantagens e nas desvantagens dos exames.
É uma questão delicada, com respostas nem sempre fáceis, mas que vale a pena equacionar. Escrevia o Paulo no Público que a escola não pode responder apenas aos interesses dos alunos e nisso, estamos, completamente de acordo. Aliás, seria um crime para a Escola Pública (a tal que interessaria aos alunos) imaginar que a sua missão estaria centrada no entretenimento e guarda da miudagem. Ora, a Escola é muito mais que isso.
E, daí, a minha preocupação com a aprendizagem dos alunos. Ora, parece-me que os exames são um instrumento de formatação do processo de ensino (o que fazem os professores), condicionando negativamente o processo de aprendizagem (o que fazem os alunos). Logo, são um erro que não ajuda a aprendizagem. Ensinar é diferente de “ensinar” para os exames, onde o treino, adquire uma centralidade que não faz qualquer sentido numa escola que deve permitir que os alunos aprendam. Parece a mesma coisa, mas não é.
Recorro a uma metáfora já gasta: se o Douro chegar poluído à foz do Porto, devemos intervir na foz ou ir lá cima, à fonte da poluição?
Ao pensar nisto, lembrei-me que este instrumento de gestão (exame) pode ser útil para aferir o que se vai fazendo em cada um das escolas. Poderá ser útil para avaliar o trabalho que se vai fazendo em cada disciplina com cada uma das turmas. Mas, isto, poderá ser feito ao nível de escola, mas em mais disciplinas. Ou, feito a nível nacional, poderia ser com o recurso a amostragem.
Desta forma, poderíamos ter provas experimentais nas ciências, provas práticas na Música ou na Educação Física, exercícios práticos na matemática, leitura nas Línguas, isto é, poderíamos encontrar formas de avaliar o processo de ensino recorrendo a metodologias mais adequadas à aprendizagem dos alunos.
Parece confuso?
Também eu estou confundido – será que a caixa de comentários me pode ajudar?
Como sistema de regulação do sistema, necessário evidentemente, tínhamos as provas de aferição. Os exames nacionais, com peso no trajecto dos alunos e designadmaente no 4º ano, só por existirem não resolvem a questão do sucesso e da qualidade do trabalho de alunos e professores. Estão coerentemente colados às metas curriculares (tal como estão definidas) e essa coerência traduz uma concepção de educação e de ensino. http://atentainquietude.blogspot.pt/2015/05/os-exames-estao-ai-nao-tarda.html
Bom bom era servir para melhorar a educação e para educar melhor as crianças. Infelizmente, a realidade é o oposto.
A examocracia de que enferma o nosso sistema de ensino é o corolário de uma educação low-cost, onde se aumentam as turmas e se reduzem os professores e se corta nos apoios educativos e na diferenciação pedagógica. Em vez de se dar a cada aluno ou grupo de alunos o que eles realmente necessitam, impõem-se “metas” universais a todos e tenta usar-se o exame como bicho-papão para fazer os meninos estudar.
Não funciona, e aí temos o número crescente de alunos a serem empurrados para o ensino vocacional, para o 3/2008 ou qualquer outra coisa que apareça e que permita limpar das pautas dos exames nacionais os alunos que nunca os conseguirão fazer.
E o desvario dos “exames a nível de escola”, sobrecarga de trabalho não remunerado que se impõe aos professores nas escolas apenas pela incapacidade de reconhecer os erros e questionar os dogmas examocratas do ministro e da sua equipa.
No 1º e no 2º ciclo, então, o modelo actual de exames é um perfeito disparate, mais uma originalidade portuguesa, tal como os mega-agrupamentos, coisas que não têm paralelo em qualquer sistema educativo decente por esse mundo fora, mas que parecem reunir o consenso do centrão apodrecido que nos desgoverna.
Concordo que faria mais sentido o modelo anterior das provas de aferição no ensino básico, assim como se ganharia com uma maior articulação entre professores da mesma disciplina ou área disciplinar na avaliação dos seus alunos. E centrar a avaliação nas competências adquiridas, nas aprendizagens reais dos alunos, em vez do artificialismo das metas, também me parece uma excelente ideia.