
Cafeteira para masoquistas (Catalogue des objets impossibles, Jacques Carelman)
A confirmarem-se os resultados das primeiras projecções, saberemos várias coisas.
1ª – que a massa abstencionista votou no PàF, compreendam isto de uma vez por todas. Gente desinformada, vítima do desinvestimento na Educação e na Cultura que o PSD/CDS e o PS têm levado por diante, que se abstém por não perceber que o sistema não confere a esse não-voto de protesto o significado que gostariam que tivesse. Gente doente, também.
2ª – que a divisão da esquerda é um desgosto para a esquerda. A ausência de estratégia roça a náusea: os compromissos que não querem fazer, de que não são capazes, revelam a sua doença – doença histórica, de gente de pensamento anacrónico, que faz tábua rasa da realidade que não foi capaz de impedir e a que agora oferece um tempo extra, em nome, também, da manutenção dos seus pequenos poderes locais.
3ª – que as fantasias dessa esquerda são indignas da esquerda: as dos que prosseguem sonhando com um apoio popular maciço, com a sublevação revolucionária, sonhos de que não abrem mão, enquanto o povo definha e o neoliberalismo decadente sobrevive mais uns anos.
4ª – que permanece por experimentar um compromisso inteligente e estratégico entre todas as forças à esquerda.
5ª – que está por realizar um diálogo de compromisso com os pequenos partidos, indistintamente considerados. Negociar acção legislativa com os pensionistas e reformados, negociar acção legislativa com os ecologistas, conversar tudo isso, fazer compromissos. Aprendam a ceder, a dar e a receber. O diálogo democrático é isso. Apenas o Livre parece ter percebido isso.
Pois eu acho que essencialmente ficamos a conhecer a verdadeira incompetência dos “socialistas”, que são socialistas só quando estão na oposição. É que nem face ao governo mais impopular dos últimos quarenta anos conseguiu ganhar. E para quem falava em vitórias de Pirro, eu, se fosse ao António Costa, e como se diz por aqui, “borrava a minha cara com merda”. Quis tirar o tapete ao Seguro, que teve duas vitórias consecutivas, só porque já fedia a poder, e acabou por se dar muito mal. Eu não tenho televisão, esclareçam-me, ele já pediu a demissão?
” … que permanece por experimentar um compromisso inteligente e estratégico entre todas as forças à esquerda ”
E porque não agora, começando por o PS declarar que vai votar contra o programa do PAF ? O PC e o Bloco já o fizeram.
Para quê? Se votarem os 3 para chumbar o programa do PaF, terão que ter desde logo já assinado um programa de governo dos 3.
Se for só para chumbar fazem um favor à PaF. Esta governa 6 meses ou pouco mais, exibindo (nos 3 canais de tv que controla) o seu enorme esforço por ajudar portugal contra os 3 monstros de esquerda, depois o presidente deita a coisa abaixo e a PaF volta a ter maioria absoluta.
Só não vê isto quem não quer.
Não consta que tenha sido isso que o Syriza, o Podemos ou o SNP fizeram para ter sucesso.
De resto, o BE deixou bem claro no que se não podia ceder para haver uma alternativa e não mais do mesmo. Dentro do TO e das reformas, não há esquerda.
O BE duplicou a votação em todos os círculos, claramente está no caminho certo.
e lá vem o canhestro mor, o senhor Costa, a dizer que não alinha em maiorias negativas ( vulgo de esquerda) …
Uma coisa concordo:
A PaF ganhou totalmente. Face ao ataque feito pelo governo aos portugueses, quem não foi votar indiretamente apoia a PaF.
Porque se tivesse horror a eles continuarem ia lá votar num das dezenas de partidos que foram a votos.
Ainda há pessoas com boas intenções que julgam a política como um grupo excursionista, onde os associados têm que se pôr de acordo com um itenerário para que o passeio se verifique. Não é nem deve ser assim. Os partidos genuínos dos seus principios ideológicos, não andam ao sabor dos resultados eleitorais quando está em causa a sua matriz. Aqueles que a renegaram foram colocados no caixote do lixo. Não faltam exemplos por essa Europa fora. E outros onde vir…
O maior perdedor da noite: Eng. José Sócrates…
cumps
Rui Silva
O PCP sendo um partido anti-capitalista como pode fazer coligações com um partido capitalista(PS)?
Só se houver uma negociação para a execução de uma política de esquerda de emergência para fazer face ao actual desastre social. Mas uma política de esquerda e não uma política de centro-esquerda que na realidade é uma política de centro a resvalar para o outro lado uma vez que não é possível uma política de esquerda dentro do Tratado Orçamental Europeu.
Hoje, ouvi o Alberto Martins do PS dizer que o partido é anti-capitalista na sua matriz. Mais, diz que um dos erros poderá ter sido a tecnocracia e os laivos de liberalismo do programa que Costa levava na sua “pastinha”.
Haja uma luz ao fundo do túnel… e que não seja o Alfa-pendular.