Marcelo lança a confusão entre as hostes do PàF

MRS

Por esta é que eles não esperavam. Deviam mas não esperavam. Passos Coelho bem alertou o partido, em Janeiro de 2014, quando afirmou que o candidato presidencial do PSD não podia ser um “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político” que buscasse “popularidade fácil. Mas Marcelo, para o bem e para o mal, é tudo isso e muito mais e a possibilidade de causar estragos num partido nervoso e em risco de desintegração é elevada.

No passado Sábado, 17, em comício no Porto, Marcelo Rebelo de Sousa enumerou algumas prioridades no exercício das funções de um presidente da República: “reaproximar os portugueses, promover os consensos de regime e ajudar a criar condições de governabilidade, numa palavra, fazer pontes“. Portanto o exacto oposto do efeito gerado pelo discurso sectário lido por Cavaco Silva ao país na passada Quinta-feira.

Mas o perigoso catavento não ficou por aqui. Num discurso hábil e cauteloso, até porque não quer espantar o seu eleitorado natural, Marcelo reforçou a primazia do Parlamento, no que à expressão do voto popular diz respeito, e deixou antever que um governo de gestão não é a solução que o país necessita:

As portuguesas e os portugueses votam. O Parlamento reflete essa participação. Seguindo a natural ordenação dos votos, o PR deve procurar a solução mais viável e duradoura, olhando às condições internas e externas da economia e da sociedade, envolvendo o Orçamento do Estado se a vizinhança da sua aprovação for evidente.

Nenhum país pode viver seis, sete, oito meses sem Orçamento do Estado aprovado.

A coligação PSD/CDS-PP não representa hoje uma solução viável ou duradoura e o discurso sectário de Cavaco Silva só contribuiu para aumentar a hostilidade parlamentar com que já se deparava desde o dia das eleições. E como Marcelo referiu, e bem, é o Parlamento que reflecte a participação expressa no sentido de voto dos portugueses, independentemente de tradições irrelevantes e de conveniência que alguns tentam agora usar em seu benefício. Governos de gestão? Uma má solução no entender do candidato presidencial.

Mas isto foi antes da regurgitação de Cavaco. Terá Marcelo tentado amaciar o discurso, de forma a beneficiar a sua área política? Nada disso. Uma semana após o comício no Porto, já depois do discurso infeliz do presidente, o professor fez novo comício em Lisboa e enunciou como objectivos a necessidade de “estabilizar a vida política nacional, criar convergências e promover a aproximação entre portugueses“, precisamente o contrário daquilo que fez Cavaco Silva. E acrescentou:

Passaram mais de 40 anos e há uma coisa que nós sabemos e que eu sei: não queremos voltar a ter esse tipo de divisão entre os portugueses. Somos todos portugueses, cabemos todos na democracia, temos todos a plenitude dos direitos de participação.

O debate tem que ser feito com serenidade, sem exclusões e, sobretudo, não confundido adversários e inimigos, porque não há portugueses inimigos de portugueses.

Como se não bastasse, Marcelo reforçou as suas críticas à hipótese de um governo de gestão e à postura irresponsável assumida por Cavaco Silva:

No que depender de mim, tudo farei para tentar não onerar o meu sucessor com problemas evitáveis relativamente ao exercício dos poderes do Estado.

Não é bom para um país saído de uma situação de crise ter de viver seis meses sem Orçamento do Estado, o que implica um Governo em plenitude de funções.

Não admira a ausência de altas figuras do seu partido nestes comícios. A objectividade e o pragmatismo de Marcelo Rebelo de Sousa podem ser encaradas como uma perigosa heresia nestes tempos de radicalização à direita. Aprofundar divisões entre moderados e fanáticos. Reforçar a unidade à esquerda. Descredibilizar a já pouco credível posição de Cavaco Silva. A campanha mal arrancou e Marcelo já conseguiu lançar a confusão entre parte substancial daqueles que tendem a constituir a sua base de apoio. Refiro-me, claro, ao sector fanático, essa espécie de Tea Party tuga que parece ter-se apoderado do PSD. E ver estes extremistas desorientados como baratas tontas tem a sua piada.

Comments

  1. A esquerda de Lisboa rendeu-se a Marcelo

  2. Disse não a um governo de gestão… mas nada disse quanto a dissolver a AR e provocar eleições, caso não empossasse um governo de esquerda.
    Ele é exímio na ambiguidade.
    E é bom não esquecer que as suas origens são e continuarão a ser de direita

    • são. Mas não me parece que encarne esta direita “teapartizada” que controla o PSD e o CDS-PP.

    • jojar says:

      Ah. Gente direita embarassa no caminho de muitos.
      SIM: São cada vez mais os que se passam de viver uma vida direita.
      Aguardem os dias gloriosos que vislumbram. Entre tanto pode ser que la sourri acouche une montagne

  3. Filipe says:

    Ele não é parvo, sabe que a maioria dos portugueses não se revêm no atual governo, por isso fez as declarações com o intuito de sacar alguns votos á esquerda.

    • Certo. Mas não deixam de ser declarações que causam muito mau estar à direita. E ele podia ter sido mais “macio”…

  4. manuel says:

    amigo marcelo na democracia quem manda e o povo,o povo votou ganhou psd,cds,entao esta tudo dito,e quanto ao Cavaco so um grande presidente faz o k ele fez……..

    • António says:

      Pois ….. mas o povo não votou para um PM ou um governo, votou para a Assembleia da republica, que é quem representa o povo ……

    • Uau Manuel, fiquei comovido. Essa infância na Mocidade deve ter sido fantástica!

  5. margarida frances says:

    Pode ser de direita mas muito provavelmente e integro!

  6. Atento says:

    Estaremos apenas a impedir que um fascista como Cavaco usurpe a Constituição da República, bloqueie o funcionamento normal da instituição parlamentar e imponha uma ditadura ao povo português, como quer fazer agora com o governo de Passos Coelho à força.

  7. Atento says:

    Uma opinião que me parece ser de interesse público…(…) Cavaco persistir em violar os princípios constitucionais e os fundamentos do funcionamento democrático do parlamento herdados de Abril, designadamente impondo ao país um governo de gestão capitaneado por Passos Coelho ou um governo de iniciativa presidencial, o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) propõe aos três partidos da esquerda parlamentar a convocação de uma concentração nacional em Belém para destituir Cavaco e uma greve geral nacional até ser indigitado para formar governo o secretário-geral do partido socialista António Costa, governo que todavia, não terá o nosso apoio.

  8. jamer says:

    E uma forma de interpretar discursos tacticos e inteligentes. Não traz novidade pretender unir os portugueses. O actual presidente, e mesmo o governo anterior, não fizeram tudo para unir partidos de governo em volta de projetos essenciais?. A sede de poder de alguns, a vontade de revanche devido a factos entre amigos que não agradaram por sair dos esquemas, são as únicas motivações. Aguardem e terão tempo de constatar evidências. Só perde Portugal.

  9. joaquim vieira says:

    É minha convicção que o professor Marcelo, é a mesma coisa do professor Aníbal Cavaco Silva são todos de direita quando se candidatam pela primeira vez andam muito mansinhos para apanharem votos de todas as áreas politicas, dizem que são o PR de todos os Portugueses que cumprem e fazem cumprir a constituição, mas eu e todos os Portugueses sabem que não tem cumprido isso, o atual PR é o exemplo, Os Portugueses não se devem deixar enganar novamente, por norma o segundo mandato é sempre pior pois já não esperam ser candidatos e ai revelam-se na sua plenitude. Portugal não pode ter PR de direita temos que ter um travão, para quando houver governos de direita não acontecer a mesma coisa que nestes 4 anos.

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