O cartaz que salvou a vida de um sapo (aquele que a direita quase engoliu)

dilbert pie chart

O cartaz do BE foi um erro de estratégia política inacreditável. Não por ter sido humor barato, não por ser um toma-cavaco-para-aprenderes, não por ofender algumas pessoas. Poderá ser um erro por todas estas razões, mas, quanto a mim, o Bloco fez um enorme favor à direita.

Vejamos. O orçamento tinha acabado de ser aprovado, PSD e CDS andavam entretidos a dar tiros nos pés com o seu discurso bipolar quanto ao orçamento, por acaso os juros da dívida até baixaram no dia em que o orçamento foi aprovado e a Moody’s veio mandar uma boca não negativa sobre o orçamento.

Antecipava-se uma semana dura para a direita, a precisar de andar em justificações quanto ao Apocalipse que não aconteceu. Eis que alguém, com o sentido de oportunidade de um elefante numa loja de cristais, lança um cartaz que permitiu desviar todas as atenções de um resultado positivo que as esquerdas tinham conseguido e que poupou a direita ao engolir de um sapo.

O problema não está na mensagem que “não foi compreendida”, como justificou Catarina Martins. Está, sim, em o Bloco de Esquerda não ter tido um mínimo sentido de oportunidade. O cartaz chamou a si os holofotes que deviam ter estado apontados ao notável feito de três partidos da esquerda terem conseguido, pela primeira vez, votarem favoravelmente um orçamento. Se isto não foi um erro de palmatória, vou ali e já venho.

Comments

  1. eu avento says:

    Só num país surrealmente retrógrado o erro do cartaz tem a importância que tem.
    E nem mesmos os cordeirinhos encapotados resistem e vai de cascar no Bloco.
    Miséria franciscana.

  2. Fernando Cerdo says:

    Agora sem ironias ou sarcasmo existe sempre a possibilidade de que no Bloco pululam elementos cuja função não é nada mais do que organizar e executar actos provocatórios que objectivamente servem os interesses políticos da direita, sendo este fenómeno uma velha tara da extrema-esquerda portuguesa.

  3. Konigvs says:

    Não vejo as coisas assim. Existe um primeiro-ministro e um governo, existem quatro partidos que suportam o governo e existem dois partidos que eram governo e passaram a ser oposição. Um anda entretido com a sucessão, o outro ainda nem sequer se deu conta que já não é governo e que vão acabar os tachos.

    Durante um fim de semana só se vai falar do Bloco de Esquerda, não se falará do governo nem da oposição. Sim, é um erro fazer uma provocação e depois não a assumir, mas nem de longe nem de perto que falar-se do cartaz do Bloco é bom para a direita! E depois amanhã inicia-se uma nova semana, já ninguém se lembrará do Bloco de Esquerda, falar-se-à do outro Jesus… ah, e que fez muito frio e nevou no fim-de-semana. As coisas só têm a importância que têm.

    De qualquer forma, depois de preferir ser operada por um cirurgião divertido (em vez de um testado), esta declaração do cartaz ter sido um erro, é o segundo deslize em pouco tempo. O excesso de protagonismo tem destas coisas. E a falta evidente de assessores de comunicação ardilosos também.


  4. A cara da Catarina nunca teria aparecido tanto nos media como apareceu se não fosse o cartaz. E isso é que é fazer o jogo da direita. A tentação populista cai naquele que eu pensava ser o melhor pano…