A nossa riqueza cultural, nem sempre reconhecida, e muitas vezes desconhecida pela maioria da população portuguesa, tem, na língua falada e escrita, um lastro civilizacional universal. Numa época em que a uniformização de tudo está na ordem do dia, temos o dever de salvaguardar a diferença. Falamos da segunda língua oficial portuguesa, o Mirandês. Língua minoritária, é ignorada, ou melhor, é tolerada pelos sucessivos poderes públicos (com honrosas excepções). É olhada muitas vezes como uma excentricidade de meia dúzia de habitantes das Terras de Miranda. Pelo contrário, é algo do qual nos deveríamos orgulhar, respeitar, e divulgar.
Por isso, e chegado o Aventar ao Concurso de Blogs do Ano, onde disputamos o prémio, apresentamo-nos também em Mirandês. Agradecemos a dois ilustres mirandeses, a Celina Pinto, que nos ligou a esta realidade, e a Alfredo Cameirão, que traduziu a apresentação.
Apresentação do Aventar nas duas línguas oficiais de Portugal, português e mirandês: O Aventar / L Aventar.
Remeto os leitores para a Editora Zéfiro que publicou belíssimos livros escritos em Mirandês.
Parabéns pelo post e sobretudo por lembrar esta realidade cultural Portuguesa.
Muito interessante esta iniciativa!
E que Deus ou o Diabo nos livrem de vir alguém tentar impor um AO/PM
Pensei que a segunda língua nacional era o acordês… 😉
Ora aqui está uma ideia tão bonita, tão inteligente, tão “fixe”. Gostei… e muito.
Além do Mirandês, os dialetos portugueses, apesar de bem estudados, têm sido desprezados e censurados pelos sucessivos regimes. O português-padrão é imposto às crianças como a única e a perfeita variante do português. À criança é-lhe incutido logo ao chegar à escola que o português, a esta ensinado pelos pais, é apenas uma forma corrupta de falar. Não há lugar para discussão, não há lugar para tentar perceber porque fala diferente, apenas lhe resta a assimilação acrítica dessa nova “língua”.
Adorei , ideia fantástica e uma pena que não seja atribuído maior destaque e importância a esta nossa segunda língua.
É engraçado ver gente que odeia tudo o que o AO-1990 representa, mas depois, falando e escrevendo num Português que levaria Camões ao suicídio, acabam por, no seu mesmo blog, fazer uma vénia ao que deveríamos todos falar caso nunca tivesse havido nenhum “AO-natural” ao longo dos tempos da história (isto para não recuar à proto e mesmo à pré-história), desde as iniciais variações das línguas indo-europeias.
Pois bem, em Português de Camões, sem acordos nenhuns pelo meio (na medida em que me é possível, pois não sou especialista em escrever na forma antiga):
Poys uos, sennores, teede mui razon, até me alevanto pra bater palmas
– ou será que me enganei e a vossa língua, sem alterações nenhumas, é na realidade: ih-óh, ih-óh…
Ahahahah
Ó pedaço de asno, de que gente é que está a falar? Sabe lá se eu sou contra ou a favor do AO-1990!
Um asno será sempre um asno, Ricardo.
E pronto! Estatuiu-se a expressão “língua de Camões”, até na boca de quem nunca o leu, e deduz-se que antes dele a língua era um buraco negro…