Denunciada por João Semedo, trata-se de uma aldrabice muito simples. O Bloco apresentou um projecto de lei para impedir os salários à moda da direita na CGD, que foi chumbado, pelo que não tem nem a faca, nem o queijo não mão. Já David Dinis, com a faca e o queijo do Público na mão, em processo acelerado de observadorização, pode debitar estas coisas – é livre de o fazer – mas o verdadeiro objectivo por trás delas mais não é que uma nova tentativa de criar instabilidade o seio do acordo entre os partidos de esquerda.
Importa não esquecer que, apesar das evidentes relações de dependência entre PS, PCP e Bloco, que não são de sentido único, é o PS quem governa. Os restantes partidos assinaram um acordo de incidência parlamentar que lhes permite uma maior capacidade de negociação, que lhes permite trazer algumas das suas propostas e reivindicações para cima da mesa, e que, pasmem-se, em muito têm contribuído para a devolução de rendimentos a quem mais precisa. Contudo, tanto o PCP como o BE conhecem o jogo político e têm plena noção que o acordo que assinaram não se resume às vitórias já conseguidas. Implica cedências. Quer isto dizer que terão abandonado bandeiras como a renegociação da dívida ou a saída do Euro? Claro que não. Significa, tão-somente, que, neste processo com avanços e recuos, é fundamental que se deixem algumas propostas em banho-maria, enquanto se obtêm acordos onde existe consenso. De outra forma, estaríamos perante a geringonça preconizada pela direita, a tal que não aprovaria sequer o OE16. Em lugar dessa profecia, temos uma Geringonça que consegue um inesperado equilíbrio entre as imposições de Bruxelas, a devolução de rendimentos e a aprovação de medidas e cariz social que atenuem o empobrecimento e a desigualdade que herdamos do passismo. Alguém se lembra do último orçamento de Estado em que não estávamos a discutir brutais aumentos de impostos e privatizações em catadupa?
Diálogo entre Ricardo Araújo Pereira e João Miguel Tavares
RAP:
– Nunca tive dúvidas que David Dinis iria “endireitar” o Público.
– Não estava era à espera que fosse tão rápido!
JMT:
– Pudera! Ele trabalha enquanto nós dormimos!
O PÚBLICO, um jornal que nos habituou a ser diferente, está perigosamente a tornar-se igual aos outros. David Dinis não tem estatura intelectual para o dirigir a não ser que a intenção do seu chamamento seja afundá-lo de vez.
E não será essa a intenção dos proprietário e administração?! Este Dinis não terá sido escolhido a dedo? E é pena. Ficamos assim completamente inundados por ‘media’ (tanto a nível da escrita como do audio.visual) controlados pela direita neoliberal.
Ah! Que saudades do ‘Diário de Lisboa’.