Contacto ou contato?

Carla Moreira*

No início do ano lectivo, propus às minhas alunas de Latim a elaboração de pequenos vídeos sobre dúvidas linguísticas, ao jeito da rubrica da RTP ‘Em bom português’, de que certamente todos estão lembrados. Elas são apenas três, mas são bastante dinâmicas e alinharam. Os vídeos são gravados com telemóvel, numa sala de aula com poucas condições acústicas, as alunas têm 16 anos de idade e alguns problemas ao nível da dicção. A qualidade dos vídeos, sobretudo ao nível do som, é, portanto, muito amadora, mas o objectivo era apenas partilhá-los na página de Facebook da escola. Nunca pensámos que saltassem do mural da escola para outros murais. Mas foi exactamente isso que aconteceu com o vídeo ‘Contacto’, graças à divulgação feita pela professora Maria do Carmo Vieira.

O erro ortográfico na palavra ‘contacto’ é, actualmente, um dos mais frequentes. Podemos vê-lo em todo o lado, desde as páginas da internet mais respeitáveis, página da Direcção Regional de Educação dos Açores incluída (entretanto já corrigido), ao mais ingénuo anúncio de venda de viaturas usadas, num jornal local. Como tal, não o podíamos deixar de parte na nossa rubrica. As entrevistas feitas mostram claramente que a culpa da confusão é do AO90.

A maioria dos falantes tem ideia de que todos os cês antes de pês são para eliminar, portanto mãos à obra! Outros até conhecem a regra segundo a qual só se eliminam as consoantes mudas, mas já não sabem como a palavra se pronuncia e juram a pés juntos que nunca pronunciaram o na palavra ‘contacto’.

Lembro-me de a minha professora primária dizer que os alunos davam muitos erros porque escreviam como falavam. No caso da palavra ‘contacto’ temos, agora o fenómeno oposto: utentes da língua que falam como escrevem. De facto, influenciados pelo AO90, eliminam o cê primeiro na escrita e depois na oralidade. É isto que quer dizer ‘critério fonético’?!

*Professora de Latim

Comments

  1. Ana Moreno says:

    O mesmo se aplica a facto/fato, não?

    • Jorge says:

      Não. Em Portugal é um facto que você pode vestir um fato.
      Só no Brasil é que é um fato que você possa vestir um fato.
      Chama-se: dupla grafia. Informe-se. Não é difícil.

      • António Fernando Nabais says:

        E por se chamar dupla grafia, há cada vez mais casos de gente a escrever “fato” em vez de “facto”, em Portugal. Informe-se. Não é difícil.

  2. António says:

    Este tipo de confusão é muito frequente, desde que se popularizou o uso do (des) Acordo Ortográfico.

    • Jorge says:

      Contacto tem dupla grafia e não é uma diferença regional ,mas depende da forma como cada um fala.

      Se pronuncia o “c”, então deve escrever Contacto, senão, basta escrever Contato.

      Quanto ao Acordo ter um (des) antes dele, é uma idiotice. Sim, tem coisas que poderiam ser melhoradas, mas num futuro acordo e não na revogação deste.

      Por exemplo, já ninguém escreve Çapato, mas sim Sapato. Ora isso deve-se a um dos Acordos anteriores a este!

      • Augusto Miguel says:

        Para idiota na te falta nada. Para parvalhão, tens tudo. Já para ordinário tens de sobra…

      • António Fernando Nabais says:

        Há coisas que poderiam ser melhoradas num futuro acordo e não na revogação deste? E que coisas poderiam ser melhoradas? E quando deveria, no máximo, haver um novo acordo? É que já estamos há muito tempo sem fazer um novo acordo, é preciso ter cuidado.

  3. Segundo o ILTEC, “é consensual nas fontes que na pronúncia culta portuguesa se diz contacto e intacto” (“Vocabulário da Mudança”, http://www.portaldalinguaportuguesa.org/INDEX.PHP?action=novoacordo&page=present).
    Ora, vê-se empiricamente que o critério pronúncio-cêntrico do AO90 está errado

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      Devem ser as mesmas “fontes” que pronunciam “expetativa” e “expectativa”, “espetador” e “espectador”, etc. Ou seja, é à vontade do freguês, já que não há, tanto quanto sei, repositório áudio gravado do que seja a “pronúncia culta”. Assim sendo, quem é que define a mesma?

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