O seu papel não era olhar; era ir inteiro com as mãos ao pescoço, com o joelho à arca do peito, e retirar-se uns minutos depois, como um instrumento que tivesse cumprido correctamente a sua função.
— Miguel Torgapassaríamos pela sala do senhor Oliveira, que nos ouviria de olhos esbugalhados e testa toda franzida e perceberia logo que ui, essa zona quando dói é sinal que a coisa já está bastante mal, isso não me cheira nada bem.
— Carla RomualdoHic ostendit propheta, si a bonis eloquiis interdum propter taciturnitatem debet taceri, quanto magis a malis verbis propter poenam peccati debet cessari.
— Regula Benedicti
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Há alguns anos, avisei: “vem aí a recessão“. Ei-la, calorosa.
Os Tradutores Contra o Acordo Ortográfico (aos quais agradeço a foto aqui reproduzida, tal como ao autor, Daniel Abrunheiro) indicaram esta distinção proposta por Malaca Casteleiro, na entrevista dos assentos:
Uma das aberrações que eles apontam, e que o Dr. Artur Anselmo também já mencionou varias [‘sic’] vezes, é palavras como “conceção” e “concessão”, que até do ponto de vista gráfico se distingue — uma é com “ç” e outra com dois “s”.
Além dos conhecidos *assentos — e dos três ‘retificado’ em vez de ‘ratificado’ e da ‘retificação’ em vez de ‘ratificação’—, eis um dos momentos mais interessantes da entrevista:
Contudo, o “p” não existe na “exceção” brasileira. Para gáudio dos cépticos, deixo aqui bem visível a palavra de Houaiss:
Entre ‘excêntrico’ e ‘excepcional’, o deserto.
Como Malaca Casteleiro estava presente no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, no momento em que apresentei este diapositivo,
recordar-se-á que, além da função diacrítica de ‘p’, indiquei quer a relação ‘ceber’ ⟶ ‘cepção’, quer a inexistência de relação ‘ceber’ ⟶ *’cecção’.
Ao terminar a comunicação, de facto, também referi palavras «que só agora passam a ser escritas de forma diferente» e, entre elas, a ‘percepção’ e a ‘recepção’. Obviamente, neste contexto, nunca mencionaria a ‘excepção’. Claro, falei de ‘concepção’. Aliás, como tive a oportunidade de escrever (há imenso tempo), «em português do Brasil, a “concepção” mantém-se imaculada».
Efectivamente, não é contexto, são doçuras. Como cantava o Neil, «he’ll always be found selling sugar to the sweet».
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O que mais custa é saber que a maior parte dos portugueses é contra este “acordo” ortográfico e mesmo assim este atentado à identidade nacional continua impune. O que mais custa é saber que os pareceres científicos foram na sua esmagadora maioria desfavoráveis a este “acordo” e mesmo assim foram ignorados. O que mais custa é ver que a minoria de pessoas que apoia este “acordo” não entende que não se trata de evolução, mas sim de manipulação movida por interesses económicos e geopolíticos. Revogue-se esta besta ortográfica!http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=acordoortografico90