Como outros passeiam os cães de companhia, ela traz à rua o seu estendal.
Nun, was >Tatsache< hier meint, ist nicht die Tatsãchlichkeit der fremden Tatsachen, mit denen man fertig werden muß, indem man sie sich erklãren lernt.
J’ai passionnément désiré être aimé d’une femme mélancolique, maigre et actrice.
— Stendhal, 30/3/1806
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Eis como alguém na RTP decidiu traduzir para português europeu o remate do «We’re just not going to sit back and let, you know, false narratives, false stories, inaccurate facts get out there» de Sean Spicer.
Agora, aproveitando este intervalo dado quer à frase nuclear, na perspectiva de Grevisse e de Goosse, quer aos sintagmas nominais do Antoine de La Sale, regresso ao Krugman (que percebe imenso de factos) e ao meu espanto por ver o Searle (um velho conhecido do Aventar) mencionado por aquelas bandas.
Continuação de um óptimo fim-de-semana.
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No inverno, e lembro-vos que estamos no inverno ainda, não há fatos sem precisão. No verão precisão de factos de banho.
A propósito especialmente dos “fatos” (por factos) e dos “contatos”, eu estava tão convencida que, mesmo pelo AO90, se escreviam com C (já que se este se pronuncia), que há dias num comentário corrigi alguém, dizendo-lhe isso mesmo.
Qual não foi o meu espanto quando outra pessoa que percebe do assunto (e também da parte legislativa do AO), me deixou a seguir este comentário:
“Maria Martins , eu não concordo. Leia a Base IV, n.º 1, al. c): à luz do AO90, que não à luz do bom senso, a facultatividade “facto/fato” é irrestrita territorialmente.
Ou seja, pode grafar-se “fato” em Portugal, tal como “contato”, segundo o AO90.
Não há qualquer restrição territorial.
O único ponto é uma cópia do comentário ao AO86 de IVO CASTRO / INÊS DUARTE, na “Nota Explicativa”, segundo o qual os dicionários fixariam a terminologia das consoantes “c” e “p”.
Porém, não me parece que o Anexo II (“Nota Explicativa”) tenha o valor de poder prevalecer sobre o Anexo I (“Bases”) do Tratado.”
Claro que, se assim for, ainda é pior do que eu pensava. É a lei do “vale tudo”: desde que se escreva de um certo modo no Brasil e ainda que por cá se pronuncie de modo diferente, temos a dupla grafia mesmo em Portugal, o que é tudo menos “ortografia”.
Se calhar os “fatos” do DR até seguem mesmo o “acordo”, cada vez mais confuso….